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Home office e famílias em casa revelam falhas no serviço de internet

Home office e famílias em casa revelam falhas no serviço de internet

A falta de infraestrutura e capacidade de rede adequada para atender à demanda da população durante a quarentena são desafios

Publicado em 31 de março de 2020 às 10:05

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Internet: o poder nas mãos
Internet tem apresentado problemas nos últimos dias. (guvendemir/Divulgação)

O consumo de internet cresceu exponencialmente junto com a onda do coronavírus que provocou o isolamento social. Com mais gente em casa, trabalhando em home office, ou mesmo afastada da escola ou do emprego usando os serviços de streaming, as operadoras não estão oferecendo o serviço com qualidade.

A conexão nas residências está fraca, com baixa velocidade e caindo toda hora. Muitas empresas já  não entregavam a qualidade combinada em contrato. Agora, com mais gente usando, o problema está explícito.

Na tarde da última quarta-feira (25), o sinal da internet caiu na residência de centenas de pessoas que moram, principalmente, nas Regiões Sul e Sudeste do país. O motivo, segundo especialistas da área, foi a sobrecarga da rede de banda larga fixa. Os especialistas são unânimes ao dizerem que a rede não está preparada para o uso intensivo durante o período de quarentena.

Segundo uma reportagem do jornal "Folha de S.Paulo", do dia 16 ao dia 19 de março, no começo do período de quarentena no país, as operadoras de telefonia registraram um aumento médio de 40% no tráfego de internet banda larga fixa de sua rede.

Os governadores de pelo menos cinco estados do país (SP, RJ, BA, AM e GO), além do Distrito Federal, pediram às operadoras conexões mais potentes e exclusivas. A medida é para que a rede pública e privada de ensino possam restabelecer o ritmo de aulas por videoconferências.

João Paulo Chamon, mestre em informática e professor da UCL, lembra que a rede de internet foi projetada para não parar. "O que está acontecendo é que a rede de banda larga está mais sobrecarregada porque as pessoas estão em casa estão usando serviços que demandam muita velocidade. Por outro lado, ainda temos uma infraestrutura deficiente", comenta.

Além dos chamados serviços de streaming - como Netflix, GloboPlay, Amazon, Disney+, além do YouTube -, estão sendo realizadas muito mais videoconferências e chamadas de vídeo do que o habitual.

Normalmente, ao longo do dia, as conexões fixas residenciais operam com uma média de 80% de ociosidade, período em que pais e filhos estão no trabalho e na escola, respectivamente. Desde o dia 16 de março, essas redes passaram a operar em sua capacidade plena e com picos de consumo cerca de 15% maiores. Um pico entre 150% e 200% provocaria a falência da rede.

"Essa é uma sobrecarga que deveria ter sido prevista. Quando uma empresa vende uma velocidade de banda larga para uma casa ou empresa, o provedor tem que ter consciência de que ele precisa entregar aquilo que foi contratado, sem oscilação", aponta o especialista.

 O novo vírus é apontado como uma variação da família coronavírus. Os primeiros foram identificados em meados da década de 1960, de acordo com o Ministério da Saúde.(Tumisu | Pixabay)

FALTA INVESTIMENTO EM ESTRUTURA

O principal motivo para a atual situação da banda larga no país é a falta de investimento em infraestrutura. Segundo os especialistas, o setor de telecomunicação não recebe incentivos por parte do governo federal.

O coordenador do Grupo de Pesquisa em Inovação e Desenvolvimento Capixaba e professor do Departamento de Economia da UFES, Ednilson Silva Felipe, aponta que vários aspectos influenciam a falta de desenvolvimento da infraestrutura da rede de telecomunicações no país. Entre eles estão: tecnologia, regulação, mercado e governo.

"As empresas operando no Brasil ainda são muito reféns da questão tecnologia. Elas precisam manter a infraestrutura anterior e ainda investir na nova. Por exemplo, enquanto ela busca investir no 5G, as companhias precisam deixar as redes 2G, 3G e 4G em funcionamento. Isso cria uma complexidade de gestão tecnológica muito grande", aponta o professor. 

Aliado a isso, ainda há o desenvolvimento de novas tecnologias para o setor. Muitas das que são usadas pelas empresas no Brasil vêm importadas de outros países, o que acaba encarecendo o processo.

Outro ponto são as políticas públicas do governo. Segundo o especialista, o investimento em tecnologia nunca figurou como um dos elementos fundamentais para o desenvolvimento do país. "Na prática, tem tributação muito elevada e não tem um sistema de desoneração da cadeia até que o serviço chegue ao consumidor final. Embora os governos tenham um discurso de inovação e de tecnologia, na prática, não temos ações que ponham esses pontos como vetores de desenvolvimento", afirma.

Ainda de acordo com Ednilson, por outro lado, as empresas reclamam em relação ao comportamento do usuário no uso dessa infraestrutura e a da queda das margens de lucror.  "Os CEOs reclamam que a rede está muito carregada. Há um limite de dados que elas conseguem carregar e as empresas são forçadas a aumentar essa capacidade da rede", diz. 

Ednilson acredita que é preciso que o governo entenda que telecomunicação é uma área estratégica para o desenvolvimento do país. Além disso, que subsidie investimentos e pesquisa.

João Paulo Chamon também aponta que é preciso que haja mais organização da infraestrutura existente. Ele explica que hoje é comum ver postes entupidos de cabos de internet. Esse excesso também pode ser um dos causadores de falhas. 

"Esse cabeamento descontrolado pode acabar derrubando a linha principal da rede que atende uma região. Se na hora da manutenção, a escada, por exemplo, bater no cabo e quebrar a fibra óptica, todos que dependeriam daquela ligação vão ficar sem conexão. Além disso, tem caso de concorrentes que cortam a fiação um do outro", esclarece.

O QUE AS EMPRESAS ALEGAM

Para tentar se precaver, as operadoras estão pleiteando junto ao Ministério da Economia a postergação até dezembro deste ano do pagamento de taxas e contribuições federais, como Fust, Fistel, Condecine, entre outros. No total, são R$ 4,7 bilhões que vencem neste mês. Também o adiamento do pagamento das outorgas de telefonia. Com esse dinheiro, pretendem turbinar a capacidade das redes para evitar um apagão caso a situação saia de controle.

Vivo, Claro, Oi e Tim também foram demandadas pela reportagem, mas apenas a Vivo respondeu. 

A operadora apenas nos passou informações com relação a medidas que fazem parte das "ações da empresa para garantir conexão e informação durante pandemia; a Vivo liberou mais de 100 canais de TV e, para clientes corporativos, empresa anunciou isenção de cobrança na franquia de dados no uso de ferramentas de colaboração". Porém, não disse nada sobre investimentos ou melhorias na banda larga.

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