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Grandes consumidores de energia criticam empréstimos a empresas do setor

Grandes consumidores de energia criticam empréstimos a empresas do setor

Clientes vão pagar operações por meio da conta de luz por 5 anos, a partir de 2021. Para associação que reúne grandes consumidores de energia, programa vai fazer o setor elétrico ser um privilegiado em meio à crise

Publicado em 9 de julho de 2020 às 16:42

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Socorro ao setor elétrico será dividido com o consumidor. (pixabay/Comfreak)

operação montada pelo governo federal para socorrer as empresas do setor elétrico em meio à pandemia do coronavírus tem sido criticada por consumidores. Os empréstimos da chamada "Conta-Covid" – que, inclusive, foram solicitados pelas distribuidoras EDP e Luz e Força Santa Maria, que operam no Espírito Santo –, terão os custos divididos entre as empresas do setor e os consumidores, que vão arcar com a maior parte do custo de forma diluída nas contas de luz a partir de 2021.

A avaliação, sobretudo dos grandes consumidores de energia, que são as indústrias, é que isso vai pesar ainda mais no bolso tanto de pessoas quanto de empresas, justamente em um momento de queda da renda e do faturamento causados pela pandemia e ainda sem perspectiva de retomada.

Outra crítica é a de que as empresas do setor elétrico, com essa ajuda organizada pelo governo para captar os recursos junto aos bancos, vão passar praticamente ilesas a essa que já desponta como uma das maiores crises econômicas da história, enquanto todos os demais setores da economia têm dado sua parcela de sacrifício, como avalia o diretor técnico da Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Fillipe Soares.

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Os consumidores vão arcar com esse alto custo, mas eles já estão arcando com outros custos. O setor elétrico então vai ficar muito desconectado do resto do mundo porque vai ficar sendo um setor privilegiado que vai não vai sofrer nada com isso

Fillipe Soares
Diretor técnico da Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia (Abrace)
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Segundo Soares, por mais que o programa vá amenizar os prováveis altos reajustes na conta de luz neste ano, diluindo-os em 65 meses, a solução ainda vai pesar no bolso. "Ainda vai haver um impacto com isso. É ruim porque todos vão ter dificuldades para retomar após a crise. Mas o setor elétrico teve uma solução que vai cair no colo do consumidor e sem peso para eles", disse.

Já o membro do Conselho de Infraestrutura e Energia da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) Carlos Sena, que é diretor do Sindicato Patronal da Indústria da Energia do Estado, avaliou que o programa tem razão de existir e se justifica diante da situação complicada da economia e também para o setor, que já teria que repassar aumentos no custo da energia para o consumidor neste ano mesmo sem a pandemia, que agravou a situação com a queda no consumo de energia puxada pela paralisação da economia.

Sena, porém, concorda que a solução trará impactos significativos. "Historicamente, as tarifas de energia crescem acima da inflação no Brasil, e agora vamos ver mais disso nos próximos anos. É ruim para o consumidor sim, que é quem sempre paga as contas de tudo, mas é em uma cenário que dos males é o menor", comentou.

ENTENDA

A Conta-Covid foi criada em maio para garantir liquidez as empresas do setor elétrico. Das 53 distribuidoras do país, 50 solicitaram empréstimos junto ao pool de bancos que compõem o programa, totalizando R$ 14,8 bilhões. Os pedidos ainda precisam ser aprovados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Na prática, o empréstimo será para antecipar ao setor os custos adicionais que seriam cobrados aos consumidores neste ano e divididos por 12 meses. Esses valores agora serão diluídos em 65 meses, a partir de 2021.

Entre os custos adicionais que já seriam cobrados neste ano estão o aumento da energia de Itaipu (que acompanha a variação do dólar), da cota da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e a remuneração de novas instalações de transmissão de energia.

Sem repassar esses custos para os consumidores neste ano, as concessionárias de distribuição passariam por sérias dificuldades financeiras, já que, segundo a Aneel, o consumo de energia caiu 14% em todo país desde março, ao mesmo tempo que a inadimplência saltou de 3% para 12%, já que muitas pessoas perderam o emprego ou tiveram salários reduzidos.

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"A Conta-Covid endereça os problemas vivenciados pelas distribuidoras, ao lhes garantir recursos financeiros necessários para compensar a perda de receita temporária em decorrência da pandemia, e protege o resto da cadeia setorial ao permitir que as distribuidoras continuem honrando seus contratos", defende a Aneel.

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