Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 22:04
O esquema de utilização de "laranjas", inclusive funcionários, para abertura de empresas de fachada por um empresário do ramo supermercadista da Grande Vitória pode estar em operação há quase duas décadas. A suspeita é do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-Central), do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), que investiga a rede criminosa. (Veja como funcionava o esquema no final desta matéria)>
Até o momento, foram identificadas pelo menos 15 empresas abertas dessa forma que, segundo a investigação, atuam há cerca de 10 anos. No entanto, há indícios na apuração do MPES de que o esquema seja anterior a isso.>
A nossa investigação começou em agosto do ano passado e inicialmente teve como objeto apurar supostas fraudes fiscais praticadas por intermédio de uma empresa. Verificamos que ela estava no nome de um laranja e que integrava um grupo empresarial. Essa rede pode estar atuando há quase duas décadas, explica o promotor de Justiça do Gaeco, Luis Felipe Scalco Simão. >
As diversas empresas se sucediam em três endereços, dois em Vitória e um em Cariacica. A reportagem de A Gazeta apurou que se tratam das sedes do supermercado Schowambach - no Centro de Vitória, em Maruípe e em Campo Grande. Os locais foram alvo de mandados de busca e apreensão expedidos pelo Juízo da 2ª Vara Criminal de Cariacica. A operação, batizada de "Blindagem", foi deflagrada pelo Gaeco e pela Secretaria estadual da Fazenda (Sefaz) nesta segunda-feira (2). >
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Também foram cumpridos mandados nas residências dos laranjas e do empresário suspeito de ser o principal beneficiário da fraude, cujo nome não foi divulgado pelo MPES. O promotor afirma que a suspeita é de que o esquema tenha como objetivo burlar o Fisco e lavar dinheiro. >
Ao longo dos anos, diversos CNPJs se sucederam nesses mesmos endereços. Houve momentos em que mais de uma empresa eram registradas no mesmo lugar. Elas eram usadas para maquiar a contabilidade. A investigação mostra que há movimentação promíscua entre elas, o que aparenta sinalizar irregularidade fiscal, disse. >
Quando alguma das empresas acumulava muitas dívidas, principalmente tributárias, outra era criada, também com o uso de laranjas, e passava atuar naquele ponto. Já a empresa antiga, tinha o contrato social alterado para um endereço inexistente. Como o laranja não tinha como pagar a dívida, o valor sonegado nunca era recuperado. >
O MPES avalia que as 15 empresas tenham acumulado R$ 76 milhões em dívidas, sendo R$ 42 milhões com a União e R$ 34 milhões com o Estado. >
Esse valor sonegado se mistura ao dinheiro da própria atividade econômica e acaba voltando para o empresário beneficiário do esquema, afirmou Simão.>
Outro ponto que levanta suspeita sobre o os crimes são os diversos carros de luxo utilizados pelo empresário e seus familiares. Durante a operação, foram sequestrados 15 veículos, sendo quatro de alto padrão, e 23 imóveis. O objetivo, segundo o MPES é assegurar a reparação de ao menos parte dos danos causados ao erário público estadual.>
Ainda durante a operação, uma auditoria da Sefaz em um dos locais investigados encontrou 26 máquinas de cartão que estavam registradas em nome de nove empresas diferentes. Segundo o promotor do Gaeco, a descoberta deve gerar novas autuações já que a prática é considerada instrumento de sonegação. >
Os envolvidos no suposto esquema, inclusive o empresário suspeito de comandar a fraude, serão ouvidos durante a semana. Ninguém foi preso até o momento. >
O gerente geral da Rede Schowambach, João Batista Pupin, confirmou para A Gazeta que a operação aconteceu nas três lojas do grupo e na casa do proprietário, em Vitória. Foram recolhidos documentos e telefones celulares. As três lojas - em Campo Grande, Cariacica; e em Maruípe e no Centro de Vitória - funcionaram normalmente durante esta segunda-feira (2). Segundo Pupim, não há fraude. Ele afirma que a situação será esclarecida durante o processo. >
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