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Emprego no ES: salários caíram, mas exigência do mercado aumentou

Emprego no ES: salários caíram, mas exigência do mercado aumentou

Pesquisadores da Ufes e do Ifes mostraram que, mesmo com o aumento na oferta de emprego desde o final de 2017, os salários estão menores que há dez anos e seguem em tendência de queda no mercado formal

Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 21:28

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Carteira de trabalho: houve redução no ingresso de jovens no mercado. (Pedro Ventura/Agência Brasil)

Enquanto a informalidade no mercado de trabalho bate recorde, o mercado formal, aquele que contempla os trabalhadores com carteira assinada, ainda sofre as consequências da crise. Um estudo mostrou que entre 2007 e 2017, a exigência por qualificação aumentou, mas o salário oferecido, no geral, diminuiu no Espírito Santo. Houve queda na qualidade do emprego em quase todas as regiões do Estado. A exceção foi a região Noroeste, que já tinha, inicialmente, a mais baixa de todas as dez microrregiões capixabas.

Contribuem para esse cenário, segundo o documento, além da queda na remuneração, a redução do ingresso de jovens e uma maior dificuldade na obtenção do primeiro emprego. Os dados vêm de um estudo elaborado por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) que considerou o intervalo entre 2007 e 2017.

O material reuniu diversas variáveis para formular um índice único, que vai de 0 a 1, para medir a qualidade do mercado formal de trabalho. Quanto mais perto de zero, pior é considerado o mercado, e quanto mais perto e um, melhor.

"A estrutura produtiva do Espírito Santo não é muito diversificada e é altamente dependente de commodities. Com a crise, como não temos uma economia sofisticada, ficamos muito vulneráveis", avalia a economista Erika Leal, que é professora do Ifes e uma das pesquisadoras do estudo.

A Região Metropolitana, por exemplo, tinha o índice de 0,48 em 2007, mas caiu 15%, registrando 0,41 em 2017. Essa foi maior redução entre as regiões capixabas.

Segundo o estudo, a queda mostrou que as regiões com economia mais dinâmica, como é o caso da Capital e das cidades do entorno, foram as mais impactadas pela crise econômica de 2015, o que afetou a qualidade do emprego formal.

"Quando a economia está em crise, como aconteceu em 2016 onde praticamente todos os 78 municípios capixabas tiveram saldo negativo de emprego, as empresas ficam mais exigentes. As portas vão se fechando e só entra quem tem qualificação e anos de experiência", avalia a pesquisadora.

SALARIOS MENORES E MAIS ANOS DE ESTUDO

Por mais que o número de novas vagas tenha aumentado a partir de 2017, o mesmo não aconteceu com os salários. Segundo a pesquisadora, as pessoas estão retomando lentamente seus postos de trabalho no Espírito Santo, porém com uma remuneração menor. "O índice mostra que a taxa de crescimento de emprego se recupera no fim do período analisado, mas a remuneração continua em queda", afirma.

Evolução da remuneração média no emprego formal. (Reprodução/Índice de qualidade do emprego formal no Espírito Santo )

Na dimensão salarial, a maior queda aconteceu na Microrregião Centro Oeste (que inclui cidades como Colatina e Baixo Guandu), que apresentava um índice 0,52 em 2007 e veio a 0,36 em 2017.

Esse dado contrasta com o aumento na qualificação dos profissionais. A pesquisa mostrou que, mesmo com salários menores, os trabalhadores estão mais qualificados. "Normalmente, com mais anos de estudo, se espera uma remuneração melhor, mas não foi isso que vimos acontecer. Houve aumento na escolaridade, mas isso não se converteu em renda", explica a economista.

Escolaridade qualificada no emprego formal. (Reprodução/Índice de qualidade do emprego formal no Espírito Santo )

JOVENS SÃO OS MAIS PREJUDICADOS

Em contexto de crise, em que o número de vagas cai e o nível de exigência sobe, os jovens saem perdendo. Como não tem a qualificação ou a experiência exigidas, eles acabam não conseguindo se inserir no mercado formal.

As regiões Litoral Sul e Metropolitana são as que apresentaram as menores participações de jovens até 24 anos no estoque do emprego formal. Ambas tinham índice superior a 0,6 em 2007 e, dez anos depois, atingiram 0,16 e 0,17 respectivamente. De acordo com análise feita pelos pesquisadores, esse dado também é influenciado pelo deslocamento de jovens do interior do Estado para a Região Metropolitana em busca de um emprego com carteira assinada, mas que não encontram oportunidade.

Participação dos jovens no emprego formal. (Reprodução / Índice de qualidade do emprego formal no Espírito Santo )

"Há uma crescente precarização das condições de trabalho do país e é preciso pensar políticas públicas de inclusão, principalmente para os jovens. Essas políticas, no entanto, não podem tirar direitos adquiridos de outros trabalhadores. Por isso a carteira Verde Amarela, do governo federal, nos preocupa. É um projeto que tenta criar emprego para jovens, mas retira direitos na outra ponta", afirma Leal. A proposta flexibiliza leis trabalhistas na tentativa de estimular a geração de vagas.

MERCADO DE TRABALHO DEVE SEGUIR EXIGENTE

Para a especialista em carreira Giselia Curry, o movimento mostrado na pesquisa representa situações que viu na prática. "A crise fez as empresas ficarem mais exigentes. Principalmente no Estado, as empresas familiares que tinham contratações antigas, por confiança, acabaram substituindo esses profissionais por outros mais qualificados. Com isso, foi possível baixar o patamar salarial.  Os profissionais tiveram que aceitar para entrar no mercado", afirma.

Segundo Curry, essa é uma tendência que deve permanecer pelos próximos anos.  "O mercado ficou muito tempo generalista e, agora, pede cada vez mais especialização", diz. Ela acredita, no entanto, que, após esse período, os salários podem voltar a subir. O aumento no número de vagas abertas com a retomada econômica, perincipalmente em algumas áreas específicas como tecnologia, pode forçar os empregadores a aumentar as remunerações para reter esses profissionais.

A psicóloga e diretora da Psico Store, Martha Zouain, também acredita que a especialização é um movimento natural do mercado, que está cada vez mais competitivo.   "As margens diminuíram muito e as empresas estão tendo que ser mais assertivas nos seus processos. Isso exige mais qualificação. Quanto a remuneração, há o movimento hoje em dia de pagar mais a quem produz mais", diz.

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