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Como a pior recessão da história atinge o ES, extermina empregos e afeta empresas

Como a pior recessão da história atinge o ES, extermina empregos e afeta empresas

Queda no PIB, fechamento de negócios, desemprego e queda nos investimentos são alguns dos rastros deixados pela pandemia no Estado

Publicado em 3 de setembro de 2020 às 05:00

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Vitória - ES - Coronavírus - Lojas fechadas na avenida Jerônimo Monteiro.
Lojas fechadas na Avenida Jerônimo Monteiro no início da pandemia do novo coronavírus. (Vitor Jubini)

Refletindo os impactos da pandemia do novo coronavírus, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teve uma retração de 9,7% entre abril e junho deste ano, o pior resultado da história do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A retração confirma a recessão técnica, que significa dois trimestres seguidos de queda da atividade econômica. Mas, afinal, como esse cenário, que já tem sido chamado de depressão, tem afetado o Espírito Santo, o mercado de trabalho, os mais pobres e também os mais ricos?

Uma das diferenças desta crise para as anteriores é o fato de que, da noite para o dia, diversas empresas tiveram seus rendimentos reduzidos a zero, em função das medidas de isolamento social decretadas numa tentativa de controlar a doença, que, em seis meses, deixou mais de 3 mil mortos e infectou mais de 110 mil pessoas no Estado.

Quando os casos da Covid-19 começaram a ser registrados no Estado, em março deste ano, uma das primeiras medidas para reduzir a circulação de pessoas e a propagação do vírus foi o fechamento do comércio considerado não essencial. O primeiro decreto do governador Renato Casagrande que determinou a restrição foi publicado em 20 de março.

Inicialmente, a regra teria validade por 15 dias, mas foi sendo prorrogada. O primeiro sinal de flexibilização aconteceu somente em 20 de abril, quando o comércio de rua da maior parte dos municípios do interior do Estado foi autorizado a reabrir em horários escalonados.

Isso ocorreu porque essas cidades haviam sido classificadas como de risco baixo ou médio, segundo a Matriz de Risco do Estado. Não era o caso da Grande Vitória, que concentra a maior parte do comércio e ainda permaneceu com as atividades paralisadas, pois estava em risco alto.

Como resultado, entre abril e junho, 3,2 mil lojas fecharam as portas no Espírito Santo, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e da Fecomércio do Estado.

O comércio, entretanto, nem foi o segmento mais afetado. O setor de serviços, que responde por cerca de 60% da economia capixaba, registrou queda de 8,1% nas atividades até junho, segundo dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).

Além disso, a produção industrial de abril a junho no Estado recuou 29,8% na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo a última Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF Regional) do IBGE.

Os resultados contribuíram para que, no primeiro semestre deste ano, a atividade econômica do Estado apresentasse uma retração econômica de cerca de 6,8% na comparação com o mesmo período de 2019. 

REDUÇÃO DA RENDA

A título de comparação, em julho, o rendimento médio habitual do capixaba caiu de R$ 2.170 para R$ 1.879, isto é, 86,6% do habitualmente recebido, segundo o IBGE.

O encolhimento da renda está ligado diretamente à retração do mercado de trabalho, que exterminou, entre os meses de abril e junho, 26,7 mil postos de trabalho com carteira assinada, segundo o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia.

Isso sem falar no mercado informal, onde muitos profissionais se viram impossibilitados de exercer suas atividades em função da pandemia. Ao todo, segundo dados do IBGE, a crise tirou o emprego de 139 mil pessoas no segundo trimestre deste ano.

AJUDA DO GOVERNO FEDERAL

Somados à parcela da população que já estava desempregada, eles engrossaram o número de famílias que recorreram ao auxílio emergencial de R$ 600 pago pelo governo federal durante a pandemia. Em julho, 44,4% das famílias, o equivalente a 607 mil domicílios, receberam o benefício no Estado.

O cenário, entretanto, poderia ser muito pior. O auxílio emergencial ajudou a segurar o consumo, e, a fim de segurar demissões que, de outra forma, seriam inevitáveis, o governo federal criou o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), uma espécie de seguro-desemprego proporcional, que vem sendo pago aos trabalhadores que tiveram a jornada de trabalho e o salário reduzidos ou o contrato de trabalho temporariamente suspenso em função da pandemia.

Entre os meses de abril e agosto, foram celebrados 293.224 acordos de redução de jornada e suspensão de trabalho no Estado. O número engloba também um pequeno quantitativo de contratos de trabalho intermitente, em que o trabalhador é pago por hora trabalhada.

Ao todo, 31.442 empresas já precisaram recorrer à medida para evitar a demissão desses profissionais, segundo o painel do BEm, do Ministério da Economia. Mais de 176 mil trabalhadores foram afetados. O número é inferior ao de acordos porque um mesmo trabalhador pode ter o contrato suspenso por um período e depois ter a jornada reduzida, ou vice-versa.

IMPACTO NOS INVESTIMENTOS E NAS EMPRESAS

Se por um lado a redução da renda preocupa os mais pobres, os mais ricos têm adiado investimentos planejados antes da pandemia. Diante do cenário de incertezas, negócios que seriam ampliados,  novos empreendimentos, entre outros projetos, acabam ficando para depois. E como uma coisa afeta a outra,  a criação de emprego e renda também acontece lentamente.

O fechamento de empresas também foi uma herança da crise. Apenas no comércio, mais de 3,2 mil negócios no Estado foram erradicados. 

QUEDA NA ARRECADAÇÃO

Diante da redução da atividade econômica em função da pandemia, os cofres públicos também acumularam prejuízos,  que só foram atenuados graças aos repasses realizados pela União.

Em julho, a receita estadual alcançou R$ 1,6 bilhão, registrando um crescimento de 17,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Sem a ajuda financeira da União – que no período foi de R$ 356,2 milhões –, haveria uma queda de 7,29% na arrecadação do mês em comparação com o mesmo período de 2019.

Os dados são do Painel de Controle da Macrogestão Governamental, divulgado na última semana pelo Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCE-ES). No acumulado de janeiro a julho deste ano, a receita arrecadada pelo Estado atingiu o montante de R$ 10,4 bilhões, um decréscimo de 6,7% quando comparada à arrecadação no mesmo período do ano passado.

Já a receita arrecadada até o mês de julho de 2020 pelas cidades capixabas foi de R$ 7,253 bilhões, um aumento de 2,76% em comparação ao mesmo período de 2019. Contudo, desconsiderando a ajuda financeira da União para enfrentamento do coronavírus, há queda de 3,20% na arrecadação.

ATIVIDADE ECONÔMICA DO ES FECHARÁ 2020 EM QUEDA 

Apesar de os primeiros sinais de retomada estarem sendo observados à medida que as atividades são flexibilizadas no Estado, a atividade econômica do Espírito Santo deve encolher 6,9% em 2020, segundo levantamento feito com exclusividade pelo economista Eduardo Araújo, com base em informações do Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil (IBCR-ES).

O setor de serviços, ainda muito prejudicado pelo mau desempenho de bares – proibido em cidades com risco moderado ou alto de contágio pelo novo coronavírus –, restaurantes, hospedagem e transporte, por exemplo, deve contribuir fortemente para o resultado.

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