Publicado em 14 de abril de 2020 às 06:00
O Brasil ainda vive várias incertezas com relação ao coronavírus. Tais incertezas vão desde o número de casos notificados e número de óbitos, à elevação do desemprego e endividamento das empresas. No Espírito Santo, a realidade não deve ser diferente da que tem sido imaginada para o Brasil e outros países do mundo. >
O Banco Mundial, por exemplo, projeta uma retração de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para 2020. Se confirmada, essa deve ser a maior retração do País em 120 anos segundo o IBGE, não há registros de uma queda deste tamanho desde 1901. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também tem estimativas duras para o país, com uma retração de 5,3% contra o crescimento de 2,2% anteriormente estimado. E apesar do impacto neste ano, o organismo estima m avanço de 2,9% na economia nacional em 2021.>
Há especialistas falando em quedas ainda maiores, chegando a 6% e com o PIB per capita reduzindo em 7% conforme projetou o economista e ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Neto. Em entrevista que deu ao UOL, Delfim Neto disse que a crise do coronavírus este ano pode ser equivalente aos dois últimos anos do governo Dilma. >
Segundo especialistas, não há setor que não tenha sido atingido pelo coronavírus. Mesmo os que continuam produzindo e comercializando estão passando por alterações nas formas de trabalho para tentar reduzir a propagação do vírus.>
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Certamente, a economia toda está sofrendo impacto do coronavírus e do isolamento social provocado por ele. Talvez os setores de bebidas e alimentos sejam os que apresentem os menores impactos dada a necessidade da população. Mas os demais estão sofrendo consideravelmente, avalia o diretor-executivo do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo (Ideies), da Federação das Indústrias do Estado (Findes), Marcelo Saintive.>
E o impacto não é visto só nas indústrias. Comércio e Serviços também estão sendo diretamente impactados. Ainda é tudo muito novo e não temos os dados fechados aqui do Estado. A gente sabe que os serviços retraíram 1,8% no Estado e esse pode nem ser o pior dado, comenta o doutor em Ciências Contábeis e professor da Fucape Felipe Storch Damasceno.>
Acho que o que deve ser observado com mais cuidado é o desemprego. Ele já estava alto antes do início da crise e pode chegar a níveis alarmantes. Outra questão é o endividamento das empresas. Pode ser que seja necessário o cancelamento de alguns impostos para microempresas e microempreendedores individuais, alerta.>
Já o pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE Marcel Balassiano acrescenta mais um fator de preocupação: o tempo até que as atividades econômicas voltem à normalidade.>
Marcel Balassiano
Pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBREUm levantamento do Ideies aponta que as indústrias localizadas no Espírito Santo já reduziram as vendas, as compras e estão com dificuldades para encontrar insumos básicos para a produção. Apenas 9% das empresas esperam não sofrer alterações em suas vendas neste período de pandemia.>
As empresas pesquisadas também apontam para possíveis dificuldades no fluxo de caixa. Na primeira semana de abril, 78% dos pesquisados já apresentavam problemas nesse segmento ou acreditavam que iriam enfrentar esse problema nas duas semanas seguintes. >
Essa pesquisa vem sendo feita semanalmente com empresários e mostra a evolução da percepção deles sobre a crise do coronavírus.>
Os resultados da pesquisa também revelam que 80% dos empresários pesquisados se mostraram muito preocupados com a Covid-19. Na semana anterior (última semana de março), 67% se declararam muito preocupados com a pandemia.>
Ao todo, 71% das empresas pesquisadas já adotaram home office ou pretendem adotar nas próximas duas semanas, enquanto 26% não pretendem adotar esta medida. >
Quanto às medidas de mitigação, 94% das empresas pesquisadas acreditam ser necessária ou muito necessária a flexibilização temporária das obrigações trabalhistas. No Estado, há empresas que estão adotando o sistema de férias coletivas, redução da carga horária e de salário e também suspendendo o contrato dos trabalhadores.>
De acordo com os especialistas, é possível que a situação econômica não fique tão ruim e tenha uma recuperação mais rápida. As medidas, entretanto, dependem mais dos governos federal e estadual do que dos empresários nacionais ou locais.>
O mercado já está ciente de que haverá déficit primário e o governo precisa mesmo gastar o que tiver que gastar com saúde e com o suporte aos mais vulneráveis. Mas o que não se pode é fazer com que esses gastos temporários se tornem fixos. Além disso, é preciso retomar com as agendas reformistas, avalia Marcel Balassiano.>
E o governo estadual? Esse, segundo Marcelo Saintive, precisará focar nas obras públicas e na agenda de infraestrutura. O Espírito Santo tem uma boa capacidade de fazer gestão fiscal. Essa e outras condicionantes nos permitem ter uma recuperação mais rápida do que imaginamos em outros Estados, avalia.>
Se o Estado focar nas obras públicas do setor de infraestrutura que estão em andamento, ele tem chance de se recuperar antes dos outros Estados. Obra pública aumenta a produtividade e também gera muito emprego. Isso vai ser fundamental para os próximos meses, acrescenta Saintive.>
Outro fator que pode jogar a favor da recuperação capixaba é a relação com o mercado externo. A gente tem uma boa relação com outros países. Quando esses países voltarem a produzir eles devem puxar o crescimento do Espírito Santo junto. Os chineses, por exemplo, já estão querendo voltar a comprar rochas ornamentais do Estado, destaca Felipe Damasceno.>
Porém, para que esse retorno venha rápido, é preciso que os empregos não sejam destruídos. É melhor dar uma margem maior para as empresas se manterem do que esperar que elas demitam e depois recontratem. A não demissão ajuda na recuperação das empresas e da economia, pontua.>
O problema é que ninguém consegue cravar quando a saúde, a economia e a sociedade voltarão para um patamar de semi-normalidade, lembra Balassiano. O Brasil consegue observar o que tem acontecido nos outros países, mas esses retornos podem variar de país para país e de Estado para Estado, dificultando a caracterização de um cenário com mais objetividade, conclui. >
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