Publicado em 5 de fevereiro de 2020 às 05:02
Mais de 400 mortes na China e 20 mil casos confirmados pelo planeta. Não é à toa que o surto do novo coronavírus tem assustado pessoas do mundo inteiro pelo risco de contágio. Esse temor de que o vírus se alastre e demore a ser contido também já domina os mercados e empresas, que veem na doença uma ameaça global para a saúde econômica. >
No momento, o temor do mercado ainda não é nem que o vírus ganhe escala global, mas que ele continue tendo efeitos duros sobre a China, um dos maiores mercados consumidores do planeta. No caso do Brasil, o país asiático é o seu maior parceiro comercial e consome as principais commodities produzidas aqui, como soja e petróleo. Para o Espírito Santo, os chineses são apenas o terceiro maior mercado externo, porém eles compram produtos que são a base da economia capixaba: minério de ferro, petróleo e celulose.>
O tamanho dos impactos do surto na pequena economia aberta do Espírito Santo ou mesmo na brasileira ainda são imensuráveis, mas que eles existirão é quase que uma unanimidade. A ver pela reação dos mercados. Nos últimos dias, ações de empresas como Vale, Petrobras e Suzano vêm sofrendo fortes quedas nas Bolsas de Valores. Nesta terça-feira (4), houve até um ensaio de recuperação, mas o acumulado ainda é de perda em valor de mercado. O preço das commodities também segue em queda.>
Há setores em que o efeito é mais claro. A China já reduziu em 20% seu consumo diário de petróleo, deixando de consumir pelo menos 3 milhões de barris de petróleo por dia, volume igual ao da produção diária de petróleo em todo país em dezembro, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). E a situação afeta diretamente a Petrobras: mais de 70% das exportações de petróleo da estatal em 2019 foram para a China.>
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Nos últimos 13 dias, a Petrobras já perdeu cerca de R$ 17 bilhões em valor de mercado por causa do coronavírus. Viagens de navios com petróleo para a China foram suspensas. Com a commodity sobrando no mercado nacional, as refinarias estão estocando derivados de petróleo não comercializados e logo podem chegar ao limite dos seus estoques. Se a situação persistir, a empresa pode optar por reduzir a produção.>
"Se a China com seu mercado consumidor gigante tiver o consumo prejudicado por mais tempo por conta do vírus, ela vai importar menos e com isso vai sobrar petróleo no mercado global", explica a economista e professora da Fucape Arilda Teixeira. E aí é a lei do mercado: oferta em alta + procura em baixa = queda nos preços. >
Seria uma espécie de "choque do petróleo" às avessas: nos chamados "choques", o produto faltou e o preço disparou, nesse caso o risco é de uma queda brutal nos preços, derrubando o valor de petroleiras e de arrecadação de royalties de governos. >
No caso do Espírito Santo, foram exportados US$ 505,7 milhões em produtos para a China em 2019. Por mais que isso corresponda a apenas 5,63% das exportações capixabas, o presidente do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado (Sindiex-ES), Marcílio Machado, chama a atenção para o top 3 dos produtos mais vendidos para o país.>
Mais de 80% das exportações capixabas para a China são de minério de ferro (US$ 220,3 milhões), papel e celulose (US$ 102,3 milhões) e petróleo bruto (US$ 91,8 milhões): três setores que - por mais que estejam sofrendo crises pontuais cada um, levando a quedas na produção local - são considerados os principais da economia capixaba, com plantas industriais que geram milhares de empregos no Estado.>
"O preço dessas commodities já está caindo no mercado internacional por causa da insegurança da China, que vinha crescendo dois dígitos, fechou ano passado crescendo 6%, e com o vírus já se teme que cresça menos que 4%. Então a gente começou o ano otimista por causa do acordo de Estados Unidos e China e esperando uma retomada da economia brasileira, e agora já temos muitas incertezas", comenta Machado.>
Ele comparou as potenciais perdas para a economia global teria com o coronavírus com os que teve na época do vírus letal da Sars, há 18 anos, também nascido na China. Enquanto naquele período o país produzia basicamente produtos de baixo custo, como camisetas e tênis, hoje ele se tornou um elemento essencial para a economia global.>
Marcílio Machado
Presidente do Sindiex-ESNesta terça (4), ações de Vale e Petrobras tiveram uma pequena recuperação, assim como o Ibovespa e outras bolsas pelo mundo. Para Arilda Teixeira, trata-se de uma sinalização do mercado visualizando uma reação forte de combate ao vírus que possa contê-lo. >
"A China não é boba. Eles não vão deixar uma situação dessas chegar ao ponto de paralisar a economia global e mexer com o status quo dos chineses na geopolítica global. O governo chinês está andando quase na velocidade da luz para controlar o vídeos, construindo hospitais imensos em dias para confinamento das pessoas. Eles não podem ser negligentes", analisa a economista.>
O problema é o tempo que levará para esse controle, ou mesmo se ele virá. "Aí a gente pode ver impactos negativos na economia sim. As commodities vão ter o preço alterado e, havendo queda de preço, todos que produzem esses insumos perdem. E como somos basicamente produtores de commotidies, o risco é grande", pontua Arilda.>
Na contramão das produtoras de commodities, empresas de proteína animal tendem a ser beneficiadas e ver um aumento nas exportações para a China. O país já vinha consumindo mais carne bovina brasileira nos últimos meses em razão da peste suína africana que levou a uma liquidação de rebanhos. >
Agora, há a Influenza Aviária, que deve fazer a demanda subir ainda mais. Ou seja, mesmo se sofrerem um pouco com a desaceleração econômica por conta do coronavírus, a tendência é que o mercado de carnes siga em um ano bom por causa de outras doenças que afetam animais por lá. >
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