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Publicado em 3 de fevereiro de 2021 às 20:08
- Atualizado há 5 anos
O governo do Espírito Santo fez mais uma investida na tentativa de incluir o projeto ferroviário conhecido como Contorno da Serra do Tigre (MG) na renovação da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Durante a audiência de pública, que aconteceu de forma remota nesta quarta-feira (3), o governador Renato Casagrande (PSB) pediu que o ramal fosse contemplado no contrato, o que ampliaria o volume de cargas que vêm da região Centro-Oeste para os portos do Estado. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) disse que vai estudar a solicitação. >
A FCA (concedida à empresa VLI e que tem um de seus trechos ligando Goiás à Minas Gerais ), junto com a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) formam o Corredor Centro-Leste. Essa é a principal ligação ferroviária entre o centro do país, grande produtor de grãos, e os portos capixabas. >
Contudo, o traçado da via, considerado muito íngreme no trecho da Serra do Tigre (MG), limita o volume de carga transportada e faz com que a produção "passe direto" em direção aos portos do Rio de Janeiro e São Paulo.
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Segundo Casagrande, fazer o contorno desse trecho de serra é fundamental para ampliar a velocidade e a capacidade do transporte de cargas para o Estado. "O que estamos desejando com a audiência pública e com o plano de investimentos da VLI é que sejam realizados investimentos necessários no corredor Centro-Leste, dentre eles o do Contorno Serra do Tigre", disse durante a audiência online.>
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A ferrovia, controlada pela empresa VLI, é a maior do país com cerca de 7 mil quilômetros de extensão e quatro corredores logísticos. A malha liga Goiás diretamente aos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. A conexão com o Espírito Santo é feita através da EFVM, sob concessão da Vale. O que está sendo discutido agora, por meio de audiência pública, são os detalhes sobre a renovação antecipada da FCA.>
O investimento no trecho da Serra do Tigre é uma luta de longa data do governo mineiro, mas que também passou a ser encampada pelo governo do Espírito Santo e pelo setor produtivo capixaba. Em novembro do ano passado, por exemplo, Casagrande se reuniu com os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), para articular a consolidação do corredor ferroviário.
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O governador ressaltou ainda, durante a audiência pública, que o Estado tem defendido os investimentos nesse trecho para que o Espírito Santo e algumas regiões de Minas Gerais sejam incluídos à malha ferroviária nacional. >
"Se não tivermos investimentos nesse percurso, não integraremos o Estado, o Triângulo Mineiro e o Noroeste de Minas ao restante do país. Nosso pleito, pedido, mobilização, articulação e nossas relações com o Ministério da Infraestrutura, Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Tribunal de Contas da União (TCU) e debates com outros Estados é para que tenhamos esses investimentos que não são grandes e que são possíveis", ressaltou .>
INVESTIMENTO PARA A CONSTRUÇÃO DO CONTORNO DA SERRA DO TIGRE
O Contorno da Serra do Tigre seria construído entre as cidades mineiras de Patrocínio e Sete Lagoas, com extensão estimada de 450 km. Segundo um estudo da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) a obra deve demandar um investimento da ordem de R$ 2,8 bilhões. Em comparação, o valor de outorga calculado pela renovação antecipada da FCA é de R$ 4,98 bilhões, segundo a ANTT.>
Apesar dos pleitos dos governadores do Espírito Santo e Minas Gerais, ainda não há qualquer confirmação de que esse investimento vá se concretizar. Durante a audiência pública desta quarta, o titular da Superintendência de Concessão da Infraestrutura (Sucon), Renan Essucy Gomes Brandão, explicou que a ANTT vai reavaliar os estudos para saber se existem outras necessidades de investimentos que não foram mapeados nesta fase prévia de avaliações, mas esclareceu que a decisão final é do Ministério da Infraestrutura. >
"Com relação ao pedido de investimento na Serra do Tigre, agente não traz isso no conjunto de estudos e entende que é uma escolha de diretriz de política pública, então o Ministério da Infraestrutura pode falar sobre essas escolhas", aponta. O ministério foi demandado por A Gazeta, mas ainda não se manifestou.
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Já a VLI, atual concessionária, diz que não há gargalo logístico no trecho em questão. Segundo a empresa, o ramal que passa pela Serra do Tigre é, inclusive, ocioso. >
"Em relação a Serra do Tigre, do ponto de vista de capacidade ferroviária, conforme já informado à ANTT, o trecho não constitui um gargalo operacional para o corredor de exportação e tem 50% de ociosidade. A VLI acompanha a evolução da proposta de renovação da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e entende que a audiência pública e todas as contribuições são partes essenciais do processo".
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Apesar da obra não ser no Espírito Santo, seriam muitos os reflexos positivos para o Estado. Isso porque o investimento poderia tornar o Estado mais competitivo em todos os tipos de carga. É uma conexão estratégica para que o escoamento de grãos e fertilizantes também ocorra pelos portos capixabas. Além disso, a conclusão da EF-118 permitiria uma ligação extra com os terminais portuários do Sul do Estado.
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O especialista do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Romeu Rodrigues, explica que a VLI transporta para o Estado anualmente cerca de 5 milhões de toneladas em cargas vindas do Centro-Oeste brasileiro. Com o contorno da Serra do Tigre, a estrada teria condições de receber quatro vezes mais. Ele afirma que esse volume não foi considerado nos estudos feitos até então pela ANTT.
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Romeu Rodrigues
especialista do Conselho de Infraestrutura da FindesDe acordo com Rodrigues, esse volume não poderia passar atualmente pela Serra do Tigre. Isso porque o traçado da ferrovia foi construído subindo o morro. Como o trecho tem grande inclinação, as locomotivas gastam mais combustível e têm que reduzir a velocidade quando estão trafegando por lá.>
"A solução, então, seria o Contorno da Serra do Tigre. Precisamos melhorar a capacidade ferroviária para abastecer os portos do Estado. Estamos propondo que a ANTT refaça os cálculos de demanda levando em conta os novos portos, Imetame e Porto Central, e também a desestatização da Companhia de Docas do Espírito Santo (Codesa), que, com novos investimentos privados, vai aumentar a operação dos portos de Vitória e de Barra do Riacho", explica.>
Romeu aponta ainda que há a expectativa do governo federal incluir o contorno mineiro durante a revisão do projeto de renovação. "Estamos vendo uma sinalização positiva da ANTT de absorver as solicitações de reestudo desse caso e ter uma chance razoável de integrar o Contorno da Serra do Tigre ao projeto de renovação antecipara da FCA", comenta.>
(Com informações de Geraldo Campos Jr / A Gazeta)>
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