> >
Tiroteio na madrugada: entenda a rivalidade entre gangues de Vitória

Tiroteio na madrugada: entenda a rivalidade entre gangues de Vitória

Facções deixam um rastro de medo entre as comunidades de Andorinhas, Itararé, Santa Martha e regiões vizinhas

Publicado em 16 de abril de 2021 às 21:45

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura

Se você for acordado às 3 horas da madrugada ouvindo tiros e rajadas de disparos, qual vai ser sua reação?  Quem mora nos bairros Andorinhas, Santa Martha e região vizinha, em Vitória,  pode responder essa pergunta depois de viver esse terror nesta sexta-feira (16). "Eu acordei junto com o grito do meu filho, de 5 anos, desesperado. O medo tomou conta, juntei minha família no quarto do meio da casa, o mais longe da rua e esperando que ficássemos mais protegidos", lembra uma moradora que, por segurança, não será identificada. 

Criminosos percorreram a região de Andorinhas, Mangue Seco e parte do Santa Martha atirando para o alto, em casas, muros e até carros.  No caminho, a ostentação da potência das armas levou cinco minutos ininterruptos de disparos.  Somente na manhã de sexta-feira, os moradores puderam contar os prejuízos e as marcas de tiros  em seus bens.  

A demonstração de força armada foi realizada pelo grupo de traficantes com base no Morro do Macaco, também em Vitória, e também tem domínio de atuação em parte do bairro Santa Martha e Itararé, segundo fontes da área de  Segurança Pública ouvidas pela reportagem de A Gazeta

 Tiroteio entre facções rivais assustou moradores do bairro Andorinhas
tiroteio entre facções rivais assustou moradores do bairro Andorinhas,. (Reprodução/TV Gazeta)

FACÇÕES

A amostra de armas, tiros e "soldados" faz parte de uma tentativa de intimidar a gangue rival que  trafica na área de Mangue Seco e Andorinhas, e tem apoio armado de traficantes de Cariacica.  Como já publicado por A Gazeta, em setembro de 2019,  eles formam o Terceiro Comando Puro, o TCP.

Essa facção se originou após um racha dentro do grupo rival, apoiado pelo Primeiro Comando de Vitória (PCV). “A disputa não é por um ponto de venda em si, mas sim pela resistência. Andorinhas não se alinha com o comando do PCV, não aceita as ordens”, explicou o Tenente Almeida na época, quando atuava na região. 

O PCV é uma organização criminosa mantida pelo tráfico de drogas que domina todo o Complexo da Penha. Entre os bairros compreendidos nessa área estão o Bairro da Penha, Gurigica, São Benedito, Bonfim e Itararé. Atualmente, o gerenciamento do PCV está nas mãos de Fernando Moraes Pimenta, o Marujo, que está foragido. Ela é o segundo na linha de chefes da organização criminosa, ficando atrás apenas de Carlos Alberto Furtado da Silva, o Beto, preso no Presídio de Segurança Máxima II.

Marujo oferece apoio aos chefes do tráfico de Itararé e do Morro do Macaco, os chamados “Irmãos Vera”, que fazem o comércio de drogas com o PCV. 

REVIDE

A caminhada aterrorizante dos criminosos de Itararé, Morro do Macaco e Santa Martha,  na madrugada de sexta-feira (16), foi uma forma de deixar o recado para o TCP.  O motivo foi o fato de Gabriel Alves de Oliveira, 17 anos, ter sido morto em plena luz do dia, na pracinha de Itararé.  Ele chegou a ser levado para um hospital particular, mas já chegou sem vida. O crime foi na manhã de quinta-feira (15) e foi cometido pelos ocupantes de um carro.

Quem apenas ouviu os estampidos da madrugada de longe, conseguiu fazer registros em vídeos e áudios. Mas quem os ouviu a apenas uma parede de distância, preferiu se esconder. "Eu passei o resto da madrugada acordada. Não consegui pregar o olho por medo. Desde ontem a gente já previa que ia acontecer algo assim, pois mataram um rapaz na pracinha. Isso é coisa antiga, não temos paz", contou a moradora.

Realmente, é 'coisa antiga'.  Em junho e julho do ano passado foram seis confrontos entre essas mesmas facções. Em um deles, Gabriel - morto na praça quinta-feira (15) -  chegou a ser baleado.  Os moradores desses bairros estão no meio de uma briga de longa data e não veem qualquer expectativa de melhora. 

"Se a polícia vai pro bairro, eles atiram. Se os inimigos dão ataque, eles vão lá e devolvem. A gente já sabe que não pode falar, ver e nem ouvir nada, é suportar e sobreviver, já que hora e outra quem vai pagar por essa briga de droga é quem nada tem a ver, um inocente ou uma criança", desabafa a moradora

O vídeo abaixo é de 2019 e comprava a audácia dos bandidos mesmo com a polícia na área da comunidade. 

POLÍCIAS

Cerca de quatro horas antes do tiroteio da madrugada, equipe do Departamento Especializado de Narcóticos (Denarc) esteve no bairro e deteve três suspeitos no Morro do Macaco, em Vitória.  Os suspeitos de 22, 24 e 29 anos estavam com dois revólveres dentro de um carro. 

Segundo a Polícia Civil,  os detidos integram um grupo criminoso do bairro Zumbi dos Palmares, em Vila Velha. "Eles alegaram que foram até o Morro do Macaco pegar armas de fogo para se defenderem de ataques que vêm sofrendo de facções rivais", afirmou o delegado Tarcísio Otoni. 

Os três foram autuados em flagrante pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e associação criminosa, e encaminhados ao Centro de Triagem de Viana.

Durante todo o dia, após os tiros no meio da rua, o  patrulhamento na região foi reforçado pela Polícia Militar e surtiu efeito durante à tarde de sexta-feira (16). Quatro pessoas foram detidas com armas na Rua Penha Paula Francisco, em Andorinhas.

No grupo estava um adolescente de 16 anos,  Washington Luiz Campos Gesuíno, 30 anos - que possui mandado de prisão em aberto - e mais dois homens de 40 e 25 anos. Os militares apreenderam duas pistolas, uma calibre 380, e outra de fabricação europeia, calibre 9 mm. Também havia uma mira a laser, três carregadores de pistola, muita munição e 16 papelotes de cocaína.

A corporação informou que o reforço de efetivo na região vai continuar, inclusive com ajuda da  Força Tática e a Companhia Independente de Missões Especiais (Cimesp).

Além disso, a PM reforça que o apoio da população é muito importante. Por isso, é necessário que em casos de suspeita ou ocorrência de crime em andamento, uma viatura seja acionada imediatamente, via Ciodes (190). Denúncias sobre indivíduos que possam estar agindo na região podem ser feitas através do Disque-Denúncia (181).

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais