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Publicado em 21 de novembro de 2025 às 11:45
O combate ao crime de receptação de sucatas roubadas e furtadas no Espírito Santo ganha reforço com o lançamento do projeto Reciclagem Legal, que será lançado na próxima terça-feira (25) pelo Sindicato das Indústrias de Reciclagem do Estado (SimReciclo). Em evento aberto ao público, a partir das 8h30, na sede da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), na Capital, o sindicato lançará um manual de boas práticas para empresas que atuam com sucata metálica, prestando orientações sobre a identificação de materiais de procedência legal e daqueles provenientes de ações criminosas.>
Dados do Observatório Estadual de Segurança Pública revelam que, no Espírito Santo, mais de 1.200 ocorrências de furtos de fios foram registradas em 2025. Os registros mostram que, por faixa de horário, os crimes ocorrem especialmente de madrugada, entre 1 e 4 horas da manhã, embora ao longo de todo o dia haja registros. Além de municípios do interior, os casos ocorrem principalmente em bairros de Vila Velha, seguidos de Vitória, Serra, Cariacica, Guarapari e Viana. >
Nacionalmente, números da Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee) apontam mais de 28 mil ocorrências de furtos de fios registradas em 2024, resultando em cerca de 88 mil interrupções no fornecimento de energia. Isso, segundo o SimReciclo, ocorre em um contexto de aumento no preço do cobre e outros metais — como tampas de bueiro —, tornando-os alvos lucrativos para a criminalidade.>
Segundo Luiz Alberto Baptista, presidente do SimReciclo, o lançamento do novo programa é o primeiro passo para coibir a receptação de materiais furtados no Estado, diferenciando os recicladores que seguem a lei daqueles que promovem operações clandestinas que alimentam o crime.>
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“O senso comum tem colocado todos os recicladores sob o mesmo rótulo, o de 'destino de material furtado'. Essa generalização é injusta e desconsidera o esforço de centenas de empresas sérias que cumprem rigorosamente as normas. O setor de reciclagem formal não é parte do problema, mas é parte fundamental da solução”, afirma Baptista.>
O lançamento do projeto é a primeira de duas etapas projetadas pelo SimReciclo. A médio e longo prazo, o sindicato, em parceria com autoridades capixabas, iniciará um grupo de trabalho para propor a regulamentação da cadeia de reciclagem de sucata metálica no Espírito Santo (com projeção para 2026). A intenção é criar políticas públicas que nortearão o setor, garantindo padrões de funcionamento, licenciamento e rastreabilidade.>
“Além de proteger contra o furto, o Reciclagem Legal busca valorizar o setor. A reciclagem de metais proporciona uma economia de até 95% de energia na produção de alumínio e cerca de 60% na do aço, gerando empregos e retirando resíduos valiosos dos aterros”, completa o presidente do sindicato. >
O lançamento do protocolo e do manual de boas práticas para o recebimento de sucata metálica vai estabelecer critérios rigorosos de conformidade, rastreabilidade e transparência, exigindo que as empresas verifiquem a procedência dos materiais.>
Entre as iniciativas estarão exigir documentação completa para volumes acima de 100 quilos, como notas fiscais ou contratos; identificar o vendedor (seja pessoa física ou jurídica) com documentos oficiais, comprovante de residência e dados bancários; e priorizar o pagamento via transferência (Pix) diretamente ao titular da venda, limitando o uso de dinheiro em espécie.>
“Além disso, o documento trará critérios de inspeção como treinamento de equipes para identificar materiais com marcações de concessionárias (cabos) ou logotipos de prefeituras (tampas de bueiro), que podem indicar furto de patrimônio público, bem como aconselhamento para a imediata comunicação às autoridades (Polícia Civil e Polícia Militar) em casos de suspeita de origem ilícita”, divulga o SimReciclo.>
No Espírito Santo, os indícios da gravidade do problema com os furtos e roubos de materiais metálicos não são isolados. Operações na Serra já apreenderam toneladas de fios de cobre, enquanto prejuízos com ações criminosas no mesmo município ultrapassaram R$ 200 mil em 2024.>
Entre outros casos, em Vitória, comerciantes do bairro Santa Lúcia apelaram por mais policiamento após uma série de furtos que terminou com prejuízos superiores a R$ 5 mil em apenas um complexo de lojas.>
Os problemas, avalia a gestão do sindicato, transcendem o prejuízo financeiro às empresas, já que desligam semáforos e prejudicam o trânsito das cidades, interrompem a internet e ainda colocam a segurança pública em risco.>
No ato do lançamento, representantes de empresas diretamente afetadas pelas ações criminosas se reunirão com a Superintendência da Polícia Civil, com membros da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), com o Ministério Público Estadual (MPES) e com gestores da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama).>
"A presença desses membros é vital, pois demonstra que estamos dispostos a colaborar e, o mais importante, se reconhece a necessidade de especialização dos agentes para diferenciar a sucata legal, como a sucata de cobre, do material roubado. Precisamos de políticas públicas claras para dividir o joio do trigo”, pondera Paulo Olegário, gestor comercial da Vilfer — empresa que presta serviços de coleta, processamento e comercialização de sucatas e resíduos metálicos — e responsável pela palestra de orientação de boas práticas ao setor.>
Ricardo Oliveira, gestor da Refibra Reciclagem, explica que, além da segurança, o empresariado ainda tem papel fundamental na transição para uma economia de baixo carbono no Espírito Santo.>
“Este é um grande passo. E, quando tivermos essa política pública, o Estado ganhará em três frentes, entre elas, a segurança jurídica para a cadeia, maior capacidade de combater o comércio ilegal e um salto significativo no desenvolvimento sustentável do Espírito Santo. Esse é o cenário que o Reciclagem Legal busca construir e também quero trazer à mesa de discussão do evento”, comenta.>
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