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Por que a pandemia do coronavírus é diferente das outras doenças globais?

Por que a pandemia do coronavírus é diferente das outras doenças globais?

A Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, já infectou mais de 13 milhões de pessoas pelo mundo. No Brasil, mais de 72 mil pessoas morreram

Publicado em 15 de julho de 2020 às 16:02

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Ilustração do coronavírus
Ilustração do coronavírus. (Freepik)
Por que a pandemia do coronavírus é diferente das outras doenças globais?

No dia 11 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que o coronavírus tinha alcançado o estágio de pandemia. Na prática, significava que o vírus Sars-Cov-2, que provoca a Covid-19, já circulava em todos os continentes.

O novo coronavírus foi descoberto na China em dezembro do ano passado. Antes dele, o mundo encarou e ainda convive com outras doenças com capacidade de transmissão global. Mas a qual a diferença delas em relação à Covid-19?

Segundo monitoramento da Universidade Jhon Hopkins, mais de 13 milhões de pessoas já foram infectadas pelo coronavírus no mundo. O Brasil se aproxima da marca de 1,9 milhões de casos confirmados e tem mais de 72 mil mortes. 

Questionados por A Gazeta, pesquisadores e especialistas em saúde apontaram algumas pandemias que precederam a do novo coronavírus. Uma delas é a do HIV/Aids.

O Unaids, programa da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre HIV/Aids, estima que desde o início da pandemia, em 1981, até o fim de 2018, 32 milhões de pessoas tenham morrido por causa da doença. Outras 37,9 milhões ainda convivem com o vírus da imunodeficiência humana (HIV).

Aids HIV
Aids HIV. (Arquivo/AG)

O médico e professor de epidemiologia na USP, Expedito Luna, destacou também o zika vírus, registrado em 2015.

“A zika acontecia, principalmente, nas regiões tropicais do planeta, que em geral, são regiões com menor desenvolvimento socioeconômico. Diferente da Covid, a zika teve muito menos interesse da mídia e da comunidade científica mundial”, disse.

Entre 2009 e 2010, foi registrada a H1N1 ou gripe A. Com os mesmos sintomas da gripe comum, uma em cada cinco pessoas em todo o mundo pegou a doença. A taxa de mortalidade foi de 0,02%.

No intervalo entre 1968 e 1969, surgiu a Gripe de Hong Kong. Os sintomas eram bem parecidos com os identificados em uma gripe comum. A taxa de mortalidade era baixa. A estimativa é de que cerca de um milhão de pessoas tenham sido vítimas.

Transmitida aos humanos por meio de aves, entre 1956 e 1958 foi a vez da população mundial enfrentar a gripe aviária ou gripe asiática. Uma das pandemias mais mortais, a gripe espanhola atingiu cerca de 30% da população mundial entre 1918 e 1920.

TRANSMISSÃO PELO AR

Para a pós doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, uma das principais diferenças do coronavírus para  as outras doenças é a forma de transmissão. Enquanto o zika vírus, por exemplo, é transmitido pelo mosquito aedes aegypti, o contágio do coronavírus é através de uma pessoa para a outra.

“As doenças transmitidas pelo ar são mais complicadas de controlar porque elas exigem medidas no nível populacional, quando você vai ter que impedir deslocamento ou diminuir aglomeração. São medidas amplas e difíceis de serem aderidas se as pessoas não têm confiança no poder público”, analisou.

A especialista complementa dizendo que as medidas de controle de uma pandemia se baseiam na forma como a doença é transmitida. “Na pandemia da Aids, que ainda mata muita gente, o modo de transmissão é pelo sangue, secreção e relação sexual. Por isso, exige medidas de prevenção diferentes”, ressalta Ethel.

VELOCIDADE DA CIÊNCIA

O enfrentamento ao coronavírus testa a velocidade da ciência dos dias atuais. Para Ethel Maciel, o sequenciamento completo do vírus e o desenvolvimento de vacinas são fortes indicativos do avanço da pesquisa frente às outras doenças.

“Estamos conhecendo o vírus há seis meses e já sabemos mais sobre ele do que em relação a muitas outras doenças que estão há mais tempo entre a gente. A realidade é muito diferente do que era observado em outras pandemias. E isso favorece”, afirma.

O médico, epidemiologista e professor da USP Expedito Luna compartilha desse pensamento. Quanto à vacina, ambos lembram que só foi possível alcançar a fase 3 após sete meses do surgimento da doença porque os cientistas já estudavam os outros coronavírus presentes.

EVOLUÇÃO DO QUADRO

Outra particularidade do coronavírus é que, segundo as análises médicas desenvolvidas até o momento, até 40% dos infectados são assintomáticos e não sabem que carregam o vírus. Os demais contaminados podem ter um quadro clínico grave capaz de evoluir para insuficiência respiratória, intubação, ventilação mecânica e até a morte.

Nos casos da Covid-19, a mortalidade é maior entre quem faz parte do grupo de risco: quem tem mais de 60 anos ou comorbidades como pressão alta, diabetes, obesidade. No entanto, o vírus também mata jovens saudáveis com peso corpóreo na faixa da normalidade.

“A zika era uma doença branda na maioria das pessoas. Tinham muitas infecções assintomáticas e o problema foi observado principalmente para as grávidas. Era uma doença leve que grande parte das pessoas nem se mobilizava para fazer esse diagnóstico”, explica Expedito.

Já a H1N1 ou gripe pandêmica vai desde infecções assintomáticas até casos graves e óbitos. No entanto, segundo afirma Expedito, a porcentagem dos pacientes que desenvolviam casos graves é menor que a Covid. Os grupos mais vulneráveis são os mesmos indicados no novo coronavírus.

“Curiosamente, a gripe pandêmica de 2009 não foi tão grave nas populações mais idosas como é na Covid-19. Isso está atribuído ao fato de que as pessoas com mais de 50 anos terem vivido a pandemia da gripe asiática em 1957 e talvez essa pandemia tenha gerado algum grau de imunidade cruzada na pandemia de 2009”, detalha Expedito.

 O novo vírus é apontado como uma variação da família coronavírus. Os primeiros foram identificados em meados da década de 1960, de acordo com o Ministério da Saúde.(Tumisu | Pixabay)

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