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Publicado em 15 de agosto de 2025 às 17:48
As obras de trânsito na Enseada do Suá para acesso à Terceira Ponte foram concluídas há dois meses, mesmo sob protesto de moradores, particularmente pelas mudanças implementadas pela Prefeitura de Vitória na Rua Clóvis Machado, que passou a ser de mão dupla e perdeu vagas de estacionamento. Mas agora um fato novo foi trazido à tona: a administração municipal não seguiu o projeto licitado pela cidade e aprovado pela comunidade em pelo menos três pontos, reforçando o clima de insatisfação de quem mora e trabalha na região.>
Ex-presidente da Associação de Moradores, Empresários e Investidores da Enseada do Suá (Amei-ES), o engenheiro civil e mestre em urbanismo Eduardo Borges conta que a prefeitura, até a etapa de licitação, atendia grande parte do que a comunidade vislumbrava de intervenções no trânsito da região. >
“Parte do projeto da licitação desagradou a comunidade, como a retirada do estacionamento, mas foi executada certinho, de acordo com o que nos foi apresentado. Mas não executou outras partes nem conforme a gente queria nem conforme o projeto”, afirma.>
À reportagem de A Gazeta, a prefeitura alega que foi necessário mudar a proposta, pois após a licitação foram feitas simulações sobre o projeto e a ideia original poderia piorar o tráfego. Confira explicação completa mais abaixo.>
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São relacionados três pontos: >
“O acesso à Rua Clóvis Machado deveria ser feito com uma faixa de entrada para a ponte (linha verde) e três faixas na Navegantes, sentido Centro. A prefeitura manteve duas faixas para o Centro e duas para a ponte. Isso faz com que os veículos não escolham a João Batista Barra — trajeto mais longo, ou seja, não melhorou em nada a fluidez da Clóvis Machado”, pontua o ex-presidente da Amei-ES, compartilhando uma cópia do projeto (imagem abaixo). >
Além disso, frisa Eduardo Borges, esse cruzamento é o único ponto em todo o sistema viário costeiro de Vitória, da altura da Vale até a Curva do Saldanha, em que as faixas de rolamento diminuem para duas, gerando mais engarrafamentos. “Esse gargalo ocorre exatamente na entrada da Terceira Ponte, ponto nevrálgico do trânsito metropolitano.” >
Em relação à Avenida João Batista Parra, o ex-presidente reforça que, no sentido shopping-ponte, o acesso deveria ser feito com duas faixas de entrada e com a retirada de estacionamento na via (imagem abaixo). “A prefeitura só executou uma faixa e manteve o estacionamento, diminuindo a capacidade viária do novo acesso à ponte”, aponta.>
Eduardo Borges diz que essas inconformidades do projeto com o que foi executado já foram apresentadas à prefeitura, mas, segundo ele, não há sinais de revisão por parte da administração municipal.>
O atual vice-presidente da Amei-ES, Leandro Moulin, conta que a entidade contratou um escritório de arquitetura e engenharia para avaliar as intervenções realizadas, particularmente na Clóvis Machado, e a conclusão do estudo vai ser anexada à representação já feita ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES). Ele não descarta a possibilidade de a associação também ingressar com uma ação civil pública contra a prefeitura, já que a administração não deu retorno às solicitações feitas pela entidade, mesmo com a intermediação da promotoria de Justiça. >
“O que a prefeitura faz é simulação de diálogo, não só com a Enseada do Suá, mas com outras comunidades também. Neste caso, a associação entende que a administração municipal não executou o projeto que ela mesma licitou e isso precisa ser apreciado pelos órgãos de controle. Da nossa parte, contratamos o escritório e vamos adotar as medidas que consideramos necessárias.”>
O secretário de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana de Vitória, Alex Mariano, explica que, depois de o projeto pronto e licitado, a administração realizou simulações em programa de computador e identificou que a proposta aprovada inicialmente poderia causar mais engarrafamentos na região de acesso à Terceira Ponte. >
“O projeto foi conceitual e, quando colocamos para fazer análise dele, essa proibição de entrar carros ia trazer congestionamento maior do que existe. Se tem uma via com três faixas e, então, passa a poder entrar só ônibus, toda a Clóvis Machado iria ficar vazia”, argumenta. >
Questionado se a proposta não seria exatamente deslocar o trânsito dessa rua para a avenida João Batista Parra, o secretário afirma que a via tem sido usada, mas particularmente por motoristas que trafegam do Centro para a Terceira Ponte e não do sentido contrário. >
Alex Mariano acredita que ainda há um tempo para acomodação, de seis meses a um ano, para as pessoas que seguem do shopping para a ponte optarem pela João Batista Parra.>
O secretário também considera que o acesso para a avenida não foi comprometido, embora reduzido. “Não está atrapalhando em nada. Começa em uma, mas depois passa para duas faixas”. >
Sobre o número de pistas na Nossa Senhora dos Navegantes, que poderia ter sido ampliado para três, Alex Mariano pondera que, como o fluxo maior de veículos é para acessar a Terceira Ponte, as faixas 1 e 2 da avenida são suficientes para quem vai seguir para o Centro. >
Perguntado por que as mudanças feitas não passaram novamente pelo crivo da comunidade, já que, segundo ele, as simulações demonstraram ser mais efetivas para a mobilidade, Alex Mariano afirma que a antiga diretoria havia sido comunicada. >
No entanto, ele ficou reticente ao saber que foi justamente o ex-presidente da Amei-ES quem informou sobre as mudanças que descobriu no projeto. O secretário alega que essa comunicação teria sido feita por outra equipe da prefeitura, mas que não entraria nessa divergência. >
Alex Mariano também foi indagado sobre as implicações de realizar intervenções diferentes do projeto licitado. Nesse ponto, ele acredita que não há problemas porque, segundo afirma, não houve prejuízo aos cofres públicos pelas mudanças realizadas. >
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