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Publicado em 27 de maio de 2021 às 15:05
O desmatamento da área de Mata Atlântica aumentou 462% no Espírito Santo entre os anos de 2019 e 2020. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (26) pelo Atlas da Mata Atlântica. >
Nesta quinta-feira (27) é celebrado o Dia da Mata Atlântica, o bioma de maior biodiversidade do país e também o mais ameaçado. >
Dos 17 estados brasileiros que compreendem o bioma, em 10 houve aumento da área devastada. No território capixaba, passou de 13 hectares desmatados em 2019 para 75 hectares em 2020, o que equivale a 105 campos de futebol oficiais, como o do Estádio Kleber Andrade, em Cariacica.>
Apesar do dado assustar, o Estado ainda é considerado um dos que menos destrói as áreas de Mata Atlântica, vegetação típica de quase todo o limite capixaba.>
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"Quando analisamos de forma mais crítica, 75 hectares é um número relativamente pequeno para o Espírito Santo. Mas, claro, que precisamos estar atentos e identificar onde foram esses desmatamentos para detalharmos as causas. Pode ter sido qualquer evento, inclusive casual, como um incêndio próximo à reserva, ou se foi realmente uma ação deliberada", analisa Sérgio Lucena, professor da Ufes e diretor do Instituto Nacional de Mata Atlântica (INMA).>
Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, explicou que o desmatamento no Espírito Santo era considerado sob controle em 2018 e 2019, mas no último ano esse aumento chamou atenção, principalmente se comparado com o crescimento em outros estados.>
"Uma das características de desmatamento no Espírito Santo é que não são grandes áreas desmatadas. A retirada da floresta está atrelada à especulação imobiliária, o crescimento das cidades, e o aumento da agricultura. Esse é o padrão que encontramos. Por isso, não conseguimos ainda entender a razão desse aumento repentino. Lembramos que o Brasil está vivendo um momento de retrocesso nas questões ambientais, comandados pelo governo federal, que pode contaminar de alguma forma o estado e as pessoas na expectativa de não impunidade", pontuou Luís Fernando. >
A manutenção do alto patamar de perda da vegetação nativa, com o crescimento do desmatamento em diversos estados, ameaça intensamente o bioma e reforça a necessidade de ações de preservação e restauração florestal. >
"O desmatamento afeta concretamente a vida das pessoas, como a garantia de fornecimento de água de qualidade e quantidade até para alimentar a indústria, agropecuária e até mesmo a manutenção do clima. No próprio Espírito Santo, nos últimos anos houve uma seca forte no Norte que dificultou a produção das safras de café. O desmatamento também colabora com gases do efeito estufa e há também a perda da biodiversidade rara e extremamente ameaçada", explica Luís Fernando. >
Em todo o Brasil, foram desflorestados 13.053 hectares (130 quilômetros quadrados) da Mata Atlântica. Em São Paulo, o crescimento também foi de mais de 400% em um ano. Já no Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul tiveram mais de 100% de crescimento. >
O professor Sérgio Lucena observa que o fato da maior parte da população ser urbana, não se deve esquecer que a biodiversidade da mata também se faz necessária. >
"Não podemos tratar essa biodiversidade como distante, pois reúne um ecossistema natural que vai além do espaço que ocupa. Essas florestas nos prestam serviços ecossistêmicos, como a manutenção da água de qualidade e demais recursos hídricos", ressalta. >
Sérgio pondera ainda que toda a sociedade deve colaborar. "A proteção dos ecossistemas naturais depende do consumo consciente e moderado. Se consumimos demais, vamos demandar mais matéria-prima da natureza, vamos fabricar mais, poluir mais. Por isso o consumo de produtos naturais e orgânicos colabora com o meio ambiente, além é claro de usarmos a nossa cidadania para escolher líderes políticos comprometidos com a proteção do meio ambiente e que tomem decisões favoráveis à natureza, no âmbito municipal, estadual e federal", completou. >
O Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) informou, por nota, que nos períodos avaliados de 2018 a 2019 e 2019 a 2020, o total de desmatamento permaneceu abaixo do patamar de 0,01% do total de 1 milhão de hectares de vegetação nativa do Estado. >
O Idaf afirmou ainda que entrou em contato com a SOS Mata Atlântica e aguarda o fornecimento dos dados para realizar a apuração administrativa dos pontos de desmatamento do estudo. >
Ainda por nota, a Idaf ressaltou que além das fiscalizações de rotina e ostensivas realizadas pelos 78 escritórios presentes em todo o Estado, o instituto tem realizado operações conjuntas periodicamente, como no caso da Operação Mata Atlântica em Pé, realizada em conjunto com o Ministério Público Estadual, a Polícia Militar Ambiental e o Iema. Em 2020, foram R$ 254 mil em multas aplicadas e 95 hectares embargadas para recuperação florestal.>
O Idaf também informou que utiliza o sistema MapBiomas Alerta, para monitoramento dos desmatamentos detectados por imagens de alta resolução e gerencia o Cadastro Ambiental Rural, que facilita a apuração dos alertas ao identificar os imóveis e proprietários das áreas desmatadas. >
Já a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Seama) afima que possui o Programa Reflorestar, que é referência nacional de restauração florestal de larga escala. Desde o início de sua operação, em 2013, são mais de 10 mil hectares de restauração florestal e mais de 10 mil hectares de florestas em pé. Mais de 285 mil hectares de florestas, em regeneração natural, são monitoradas por imagens de satélite. >
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