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'Falava para ela manter distância dele', diz mãe de enfermeira assassinada

'Falava para ela manter distância dele', diz mãe de enfermeira assassinada

Márcia Rocha diz que família pensava que suspeito de matar a filha dela, Íris Rocha, era policial e ficaria sem arma após pedido de medida protetiva feito pela enfermeira

Publicado em 19 de janeiro de 2024 às 16:14

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Preso desde a quinta-feira (18), Cleilton Santana dos Santos, principal suspeito de matar e cobrir com cal o corpo da enfermeira grávida Íris Rocha de Souza, de 30 anos, isolou a então namorada da própria família durante o curto relacionamento que tiveram, sob o argumento de que o casal queria privacidade. A declaração foi feita pela mãe de Íris, Márcia Rocha, em entrevista exclusiva à reportagem de A Gazeta.

“Ele falava que tinha ficado feliz com a bebê, mas falava que queria ter privacidade. Falava que eles queriam curtir a privacidade dos dois, por isso não queria contar para os pais dele e para os pais dela. Só ficamos sabendo do relacionamento depois (que Íris já estava grávida). E ninguém percebeu, no começo, que estava. Ela não falava. Ninguém desconfiou”, conta Márcia.

O relacionamento teria começado em abril de 2023. Depois, com a gravidez, Íris, que até então morava em Vitória com a mãe e o filho de 8 anos, mudou-se para Jacaraípe, na Serra, por causa do relacionamento. Segundo a mãe, a enfermeira dizia que era lá que ela e Cleilton queriam criar a filha deles, que se chamaria Rebeca.

O nascimento da criança estava previsto para fevereiro, mas o relacionamento do casal teria chegado ao fim em outubro do ano passado, quando Íris solicitou uma medida protetiva após Cleilton lhe aplicar um golpe de "mata-leão", que a levou a desmaiar em seguida.

O contato mais recente entre os dois, até onde a família sabe, dizia respeito ao pedido de pensão que a enfermeira desejava fazer a Cleilton para a filha de ambos.

Confira mais detalhes na entrevista exclusiva

Como a Íris era? Como era a personalidade dela?

Ela era super dinâmica, alegre, divertida. Fazia amizades onde ia. Sempre foi muito dedicada, tinha um sorriso bem expansivo, era muito amiga. Era muito linda, por dentro e por fora. Aqui no condomínio, então, todo mundo a ama. Era muito prestativa. Ela se doava mesmo. Ela gostava de cuidar de pessoas, cuidar do outro, zelar, fazer o que ela podia fazer de melhor, sem distinção, sem preconceito de nada. Ela era muito ligada às causas sociais. Quando ela encontrou a causa da enfermagem, foi um abraço. Antes, por ela ser muito alegre, divertida, procurava por hobbies ou esportes que levavam a isso. Era skatista, andava Vitória inteira de bicicleta, participava de musicais, de dança, de ginástica artística, pintura. Tenho até quadros dela. Ela participava de tudo. Quando ela começou a se dedicar à igreja, quando achou importante ter uma fé, ela se dedicava tanto que passou a preparar umas aulinhas para ensinar as crianças de uma forma mais dinâmica, mais lúdica.

Ela se dedicava muito aos estudos também?

Muito. Ela realmente se dedicou o máximo à enfermagem, quando estudava. Ela se dedicava muito à saúde da mulher, à obstetrícia, ela participou de muitos projetos nesta área e depois, agora, nas ciências fisiológicas… Ela participava de campanhas, sabe? Ela era assim, ativa mesmo… Era mestranda. Tinha terminado vários créditos e já estava se preparando para a dissertação.

Íris deixou um filho de oito anos. Como ela era enquanto mãe?

Ela queria que ele soubesse tudo que ela pudesse ensinar para ele. Então, ela tentava ensinar tanto os estudos, ela levava ele para aulas extras, por exemplo, porque queria que ele fosse a pessoa mais instruída possível. Os poucos recursos que a gente tinha, ela tirava esse tempo e esse valor para que ele tivesse esse ensinamento. E quanto aos hobbies, todos os hobbies dela ela queria ensinar para ele. Tanto que ele sabe andar de skate, ele sabe andar de bicicleta e sabe nadar. São coisas que ele aprendeu com ela. Ela levava pra lá e para cá. Eu dava apoio logístico sempre, como avó, mas ela, como mãe, é quem tomava a frente. Deixou muitas memórias. Nossa, ele ama demais a mãe.

Ele morava com ela?

Morava com ela. Ela tinha a guarda dele, compartilhada com o pai, que pegava de 15 em 15 dias. Ele sempre foi muito presente. Tinham uma relação muito boa.

 Íris Rocha de Souza foi assassinada aos oito meses de gestação; ex-namorado é principal suspeito
Íris Rocha de Souza foi assassinada aos oito meses de gestação. (Acervo familiar)

Como estava a expectativa para a chegada da Rebeca?

Ela estava muito feliz. Ela tinha escolhido esse nome, falou que as pessoas falavam também que representava a unidade. Era uma palavra bonita, representava uma coisa boa. Ela ficava assim: “Será que vai ficar mais parecida comigo? Será que vai parecer com você? Mas nós vamos criar ela mais tranquila, porque o meu filho eu criei ele do jeito que eu gosto de ser, mas ela vai gostar de coisas mais calmas, mais tranquilas.” E eu falava: “não, filha, ela vai ter o jeito dela, ela vai escolhendo o jeito dela ser”. E ela (Íris) ficava pensando já no futuro, sabe? Pensando o que a menina ia vestir, o que ela ia viver. “Faltam só poucos dias (para a criança nascer), então já tem que pensar no futuro da Rebeca”. Ela estava muito empolgada, muito feliz.

Olhando para o futuro, Íris tinha alguma aspiração, algum sonho que não chegou a concretizar?

Principalmente viajar para fora, porque ela queria muito conhecer o exterior, os Estados Unidos, a Europa. Ela falou: “mãe, eu vou fazer o mestrado, vou atrasar um pouco de trabalhar na área dita comercial, dita profissional, porque eu quero entrar já com esse diferencial do mestrado. Eu passando em concurso público, isso me facilitará conseguir os recursos necessários e um tempo para eu ir com o meu filho para passear na Europa, passear nos Estados Unidos.” Ela tinha muitos amigos também no exterior, queria conhecer mais e eles a convidavam para ir. Ela falou: “lugares para eu ficar eu já tenho. Então agora eu só vou me dedicar para juntar esse dinheirinho para eu ir.”

Ela chegou a falar em morar fora ou queria apenas conhecer?

A fala dela era só conhecer, até por causa do ex-marido (que tinha a guarda compartilhada com o filho). Ela sabia da dificuldade que seria morar fora com ele (filho).

E em relação ao relacionamento que ela teve mais recentemente? O suspeito do crime é o pai da bebê, certo?

Sim, é ele.

Ele demonstrava que estava feliz com a bebê também?

Ele falava que tinha ficado feliz com a bebê, mas falava que queria ter privacidade, falava que queria curtir a privacidade dos dois. Por isso, não queria contar para os pais dele e para os pais dela. Só ficamos sabendo do relacionamento depois (que já estava grávida). E ninguém percebeu, no começo, que estava. Ela não falava. Minha outra filha tinha engordado, achamos que também era o que estava acontecendo com a Íris (no começo). Ninguém que conhecia ela desconfiou.

Depois do término, ela voltou a se relacionar com ele? A senhora tinha alguma informação?

Não, ela não voltou a se relacionar com ele. O máximo que ela falou foi que ia pedir pensão para ele. Então, ela ia ter contato com ele para pedir a pensão, mas eu não sabia se era através da mãe dele, se era através de amigo dele, entende? Até então, eu falei assim: “você tem que manter distância dele. Você pediu uma medida protetiva e isso é sério.”

Então vocês chegaram a saber da medida?

Da medida sim, na hora. Ela me contou que fez um boletim de ocorrência, só que ela falava: “mãe, foi a primeira vez, ele é muito bom comigo.” Eu falei: “Íris, quer que a mamãe vai atrás, que segue? Eu tenho amigos.” Eu falei: “A gente tem amigos em vários lugares. Você quer que a gente vá atrás, que verifique alguma coisa?” E ela falou: “Não, mãe, foi só essa vez. Foi um mal entendido mesmo. Ele só não sentiu a força que tinha. Foi por isso que ele apertou muito”. Essa coisa de pessoas que amam. A gente não vê o erro do outro. Só que (ele a agrediu e) ela desmaiou, né?! Com o pedido da medida, achamos que ele ia ficar sem arma. Achamos que isso ia acontecer. Que ele era policial mesmo e ia para a área administrativa, porque tem muitos casos disso, de policial que vai para a área administrativa e fica lá até se aposentar.

Então a família achava que ele era realmente policial?

Ele falava que era, ele contava os fatos. Ele sabia (das informações). Era ardiloso mesmo, sabe? E ela não tinha malícia. Parecia uma menina. Mantinha o sorriso sempre. Ela segurava as pontas, enfrentava os desafios com garra e determinação. E nisso ela sufocava alguma coisa dentro dela, que a gente não percebia. Ela poupava a gente, para preservar a gente. Ela não contava.”

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