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Crescimento de indicadores da Covid-19 acende sinal de alerta no ES

Crescimento de indicadores da Covid-19 acende sinal de alerta no ES

Tendência de aumento da taxa de transmissão e dos óbitos causados pelo novo coronavírus preocupa especialistas e  governo

Publicado em 19 de novembro de 2020 às 22:13

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Espírito Santo chegou à 175.300 casos confirmados da Covid-19 nesta quinta-feira (19)
Espírito Santo chegou à 175.300 casos confirmados da Covid-19 nesta quinta-feira (19). (Secretaria de Estado da Saúde (Sesa))

O ano de 2020, historicamente, irá ficar marcado como o ‘ano da pandemia’. Com medidas de distanciamento social, higienização pessoal e de objetos e uso de máscaras, o mundo tenta, ainda hoje, lutar contra a infecção pelo novo coronavírus. No Espírito Santo, o combate à Covid-19 tem tido altos e baixos que preocupam os especialistas.

Desde o anúncio do primeiro caso de Covid no Estado, em 26 de fevereiro deste ano, a curva dos casos e mortes causados pela doença ascendeu até o pico, em junho. Em especial, maio e junho foram meses de nível máximo dos casos confirmados e das mortes em decorrência do novo coronavírus, levando a medidas de distanciamento social e controle sanitário.

A curva de casos confirmados e mortes no Espírito Santo, porém, iniciou um processo de descida a partir de julho, que vinha em ritmo constante até os números mais recentes do mês de novembro. As estatísticas mais novas indicam uma estabilização na queda dos óbitos, além de crescimento do número de casos e das internações em leitos de UTI, e já acendem um sinal de alerta  para as autoridades de saúde. Diante desse cenário preocupante,  o governador Renato Casagrande disse que vai anunciar, nesta sexta-feira (20), novas medidas de restrição.

Alguns indicadores são importantes para entender como está ocorrendo a evolução da pandemia do novo coronavírus no Espírito Santo. Veja abaixo a situação de alguns indicadores que mostram o ritmo da pandemia no Estado:

NÚMERO DE INTERNAÇÕES

Um dos indicadores mais importantes para análise do quadro geral da pandemia do novo coronavírus é a ocupação dos leitos de UTI e enfermaria nos hospitais. A taxa de ocupação indica o quanto o sistema de saúde do Estado está conseguindo absorver os quadros mais graves da doença e o tamanho da rede ainda disponível.

Na mais recente atualização feita pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), nesta quinta, constavam 416 leitos de UTI disponíveis para uso de pacientes com Covid. Desses 416, 352 estão ocupados, uma taxa de 84%. Essa porcentagem é a maior desde o dia 7 de julho. Na ocasião, porém, havia mais leitos (em números absolutos), dado o quadro da doença naquele momento.

Ainda assim, os números absolutos também causam preocupação. A quantidade de leitos ocupados -  352 - é a maior desde o dia 14 de setembro, quando eram 362 ocupações por pacientes com a Covid-19.

Os leitos de enfermaria disponíveis para receber infectados pelo coronavírus também têm taxas elevadas. A ocupação, no dia 1º de novembro, foi a maior desde o início da pandemia, com cerca de 77% de unidades sendo utilizadas. Em números absolutos, os 328 leitos ocupados atualmente representam o maior nível desde 27 de agosto, quando eram 351.

A  infectologista Rubia Miossi ressalta que, assim que for necessário, o governo pode remanejar leitos de UTI e fazer novas contratações e parcerias com o setor privado. “A grande questão com esse aumento das internações nas UTIs é se os leitos estarão disponíveis na velocidade em que se mostrar necessário”, observa a médica.

Os dados da Sesa indicam que, em caso de necessidade, o Espírito Santo poderia chegar, num regime de ampliação dos leitos de UTI, a 715 unidades de terapia intensiva nos hospitais, o que poderia ajudar a desafogar o sistema de saúde. “Nós vimos, no início da pandemia, as taxas de ocupação dos leitos de UTI de outros países chegarem a 100% e a falta de vagas para pacientes que necessitavam. Então, o governo trabalhou para que isso não acontecesse”, constata Rubia.

TAXA DE TRANSMISSÃO

A preocupação dos especialistas com uma possível retomada dos números de maio e junho da pandemia advém da atual taxa de transmissão da doença no Espírito Santo. Dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) atestam que, no último dia 6, o indicador alcançou o maior nível desde a semana do dia 19 de junho.

Taxa de transmissão do novo coronavírus no ES
Taxa de transmissão do novo coronavírus no ES. (IJSN/NIEE)

Na prática, a taxa 1,33 mostra que 100 contaminados com a Covid-19 podem transmitir a doença para 133 pessoas. Etereldes Gonçalves, professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), alerta que os números apontam para um crescimento acelerado dos casos.

Aspas de citação

A taxa de transmissão acima de 1 significa um crescimento exponencial no Estado. É provável que a gente entre na quarta semana seguida com a taxa de transmissão acima de 1.2, o que é bem preocupante

Etereldes Gonçalves
Professor da Ufes
Aspas de citação

O professor afirma, porém, que é pouco provável que o Estado atinja os níveis de taxa de transmissão do começo da pandemia devido ao número de pessoas já contaminadas. Ainda assim, ele diz que a curva está ascendente. “Houve relaxamento das medidas de proteção. As populações da classe média e alta, que podiam trabalhar de casa, começaram a se contaminar agora, voltando a sair de casa. Esse ritmo causa preocupação”, reforça Etereldes.

ÓBITOS

O crescimento das taxas de internação em leitos de UTI e da transmissão do novo coronavírus no Espírito Santo gerou, consequentemente, um aumento no número de mortes no Estado.

A primeira quinzena de novembro, com 154 mortes em decorrência da Covid-19, representou aumento quando comparada com o mesmo período de outubro. A média móvel de mortes, que compara os níveis observados de óbitos dentro de 14 dias, foi de 12.71 na última quarta-feira (18). É o maior nível desde o dia 17 de setembro, quando a média móvel chegou à 13.21.

O médico infectologista e professor de Medicina da Ufes, Paulo Peçanha, afirma que as notícias que os indicadores trazem não são boas. “Estamos vendo as curvas de casos e óbitos não só pararem de descer, como começarem a subir”, constata o professor.

Paulo ainda pontua que esse novo momento vivido pelo Estado no combate ao coronavírus se deve ao relaxamento de medidas de distanciamento social e de restrições sanitárias. “A curva já esteve em baixa, a população sabe qual é o caminho. Temos que nos conscientizar individual e coletivamente, para que não aconteça a reversão da queda que vinha acontecendo”, adverte o especialista.

Segundo o médico infectologista, o relaxamento da população com relação às medidas de proteção ao novo coronavírus pode ter acontecido pela queda das curvas de casos e mortes no ES. “Os números em queda deram a falsa sensação de que já estava tudo bem. Mas não, o vírus continua circulando e as medidas que já foram tomadas têm que voltar a ser respeitadas”, pontua.

MAPA DE RISCO

O último mapa de risco de convivência divulgado pelo governo do Espírito Santo, válido até o dia 22 de novembro, é outro ponto de atenção com relação ao combate à Covid-19 no Estado. Abaixo, é possível ver que apenas os municípios de Ecoporanga e Santa Teresa se encontram no nível de risco moderado.

Apesar disso, o Estado está a um ponto percentual de atingir 50% da ocupação de leitos de UTI em potencial. Isso significa que, de todos os leitos que o Estado pode remanejar e disponibilizar para o atendimento de pacientes com Covid-19, 49% desse total já estão ocupados. O mapa de risco, que leva esse número total de unidades em consideração, pode ser modificado caso este nível seja atingido.

Na quarta-feira, quando o governador Renato Casagrande adiantou que novas medidas de controle da Covid-19 vão ser adotadas, ele pediu, ainda, que voltem a ser respeitados os protocolos de distanciamento e as restrições sanitárias no Estado. “Se não seguirmos os protocolos, nós não teremos condições de controlar a doença. Eu vejo muitas aglomerações. Às vezes, as pessoas não se preocupam muito porque são jovens, mas a doença não escolhe. Às vezes, a pessoa jovem é muito vulnerável, ou aquela que tem resistência pode passar para pessoas de mais idade da família e amigos”, disse.

O médico infectologista Paulo Peçanha ressalta que as novas medidas restritivas do governo não podem acontecer sem que a população tome consciência da responsabilidade e dos cuidados com relação à Covid-19. “Ficamos muito tempo com a curva estável. Quando começou a acontecer a redução e parecia que as coisas iriam melhorar, vemos essa reversão. Todo cuidado agora é pouco para evitar uma retomada. Todos sabemos a fórmula, sabemos como fazer”, finaliza.

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*Rafael Carelli é aluno do  23° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob supervisão da editora Joyce Meriguetti e de Aline Nunes

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