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Capixabas acusados de matar brasileira nos EUA se contradizem ao narrar crime

Capixabas acusados de matar brasileira nos EUA se contradizem ao narrar crime

Cada um optou por transferir a culpa pelo assassinato para o outro; diferenças foram constatadas também em relação a  depoimentos prestados anteriormente à polícia e ao próprio Juizado da Primeira Vara Criminal de Vitória

Publicado em 10 de novembro de 2022 às 21:40

Wenderson Júnior Dalbem Silva e Thiago Philipe Souza Bragança e confessaram assassinato de Ana Paula Braga
Wenderson Júnior Dalbem Silva e Thiago Philipe Souza Bragança e confessaram assassinato de Ana Paula Braga Crédito: Montagem A Gazeta

O interrogatório dos dois capixabas acusados de matar uma brasileira nos Estados Unidos e fugir para o Espírito Santo foi marcado por muitas contradições. Eles apresentaram versões diferentes ao narrarem o crime, e cada um deles optou por transferir a culpa pelo assassinato para o outro. Os dois foram ouvidos na tarde desta quinta-feira (10) pelos jurados do Tribunal do Júri.

As diferenças foram constatadas não só em relação aos depoimentos prestados durante a tarde desta quinta-feira (10), mas também em relação a outros depoimentos prestados à polícia e ao próprio Juizado da Primeira Vara Criminal de Vitória durante a fase de instrução.

Foram ouvidos Thiago Philipe de Souza Bragança, o Lipinho, e Wenderson Júnior Dalbem Silva, mais conhecido como Júnior ou Negão. Eles foram denunciados pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e pronunciados - decisão judicial que os encaminha para o Tribunal do Júri - pelo juiz da Primeira Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches.

Os dois foram apontados como autores do assassinato da mineira Ana Paula Feitosa dos Santos Braga, de 24 anos, morta na casa que ela tinha acabado de alugar em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos, em 30 de janeiro de 2020.

O primeiro a ser interrogado foi Thiago. Ele informou que conheceu Ana no estado de Massachusetts, quando ela ainda estava casada. Acrescentou ainda que ela chegou a morar em sua casa quando se separou do marido. Lá também ele conheceu Wenderson e que, algum tempo depois, eles passaram a dividir um apartamento.

Disse ainda que decidiram se mudar para Los Angeles quando Wenderson passou a ter problemas na cidade e decidiram fugir. No caminho, Ana teria ligado oferecendo para hospedá-los. Com ela ficaram, mas pagando aluguel.

Relatou que, no dia do crime, os três estavam no apartamento, bebendo e fazendo o uso de drogas. E que houve um desentendimento entre eles, porque Thiago desconfiava de que Ana queria matá-los. E que, em um determinado momento, Ana tentou feri-lo com uma faca. “Do nada ela arrancou uma faca e me arranhou. Eu segurei a mão dela. Foi quando o Wenderson entrou e falou que ela não faria nada”.

Thiago disse que saiu do quarto e que só retornou quando ouviu os gritos de Wenderson. Ana estava agredindo-o com uma faca. “Tirei ela de cima dele e, a partir deste momento, o Wenderson passou o cinto no pescoço dela. Eu a segurei e, quando a soltei, ela bateu a cabeça. Saiu sangue, ela urinou e mexeu. O Júnior (Wenderson) passou um fio de ventilador no pescoço dela. Depois nós fugimos, sem rumo”, relatou.

Outra versão

Wenderson foi interrogado na sequência e apresentou uma versão para o crime diferente. Relatou até que, ao chegar ao Fórum Criminal de Vitória para o julgamento desta quinta-feira (10), foi ameaçado por Thiago, para que mudasse a sua versão, assumindo a autoria do crime.

Segundo Wenderson, quando estavam em Los Angeles, Thiago e Ana tinham um relacionamento sexual que era marcado por muito ciúme. E que chegou a presenciar muitas discussões entre os dois.

No dia do crime, ele relata que houve uma briga entre Ana e Thiago e que ele interferiu e acabou sendo agredido no braço com uma faca. Disse que eles estavam sob efeito de drogas.

“Neste momento, pedi ajuda ao Thiago. Ele a tirou de cima de mim e fui ao banheiro, porque meu braço estava sangrando. Quando voltei, dez minutos depois, o Thiago já estava com o cinto no pescoço da Ana. Entrei em desespero, falei que estava matando ela. Abri a porta para pedir ajuda, mas ele a fechou e me ameaçou, dizendo que me mataria da mesma forma que fez com ela”, contou.

Segundo Wenderson, na sequência, Thiago enrolou um fio no pescoço de Ana. “Foi um desespero total. Ele também me ameaçou a embrulhar o corpo da Ana em um edredom e a levar o corpo para o porta-malas do carro.”

E negou o que disse em depoimento anterior, de que tinha sido forçado por Ana a fazer sexo com ela.

Ao ser questionado pelos promotores e pela juíza, por qual motivo não tinha fugido, já que viajou de carro e passou por vários aeroportos, disse que tinha medo do que Thiago poderia fazer com sua família no Brasil.

Aos dois foram apresentados os áudios e vídeos obtidos durante a investigação policial. Wenderson disse que não lembrava dos fatos.

Já Thiago disse que o material foi feito para ameaçar uma pessoa que tinha contratado um pistoleiro para matar Wenderson.

O que diz a defesa

O advogado Wagner Batista Campanha, que faz a defesa de Wenderson, afirmou que, no julgamento, "várias testemunhas já demonstraram a personalidade dele e a forma como ele é na comunidade, que é bem diferente do outro rapaz, e também foram ouvidas testemunhas que vieram dos Estados Unidos e muitas dúvidas foram dirimidas."

"A minha expectativa é que o meu cliente responda pelo que realmente cometeu. Não sendo acusado de uma monstruosidade dessa, mas sim pelo fato de ele, infelizmente, ter tido a necessidade de sair em fuga nos Estados Unidos, para não ser preso ali, e ter de fato ocultado o cadáver. Contudo, a parte do homicídio ele não praticou. E no julgamento essa nossa tese está bem demonstrada", disse Campanha.

Já o advogado Marcos Farizel, que defende Thiago, disse o cliente "confirmou sua participação e assumiu a autoria dos fatos, porém de uma forma um pouco diversa em relação as qualificadoras sustentadas pelo Ministério Público, que é a tese nossa. Nós vamos procurar desqualificar as qualificadoras para amenizar o resultado final da pena".

"Isso significa que ele está denunciado pelo Ministério Público, no art. 121, com três qualificadoras, que são motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima, o que eleva a pena de 12 a 30 anos. A defesa vai tentar substituir essas qualificadoras para cair para uma pena mais branda entre 6 a 20 anos", disse Farizel.

A expectativa dos advogados da defesa é que o julgamento se encerre no final da noite desta quinta-feira.

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