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Publicado em 10 de novembro de 2022 às 20:05
Com uma tristeza que não consegue descrever, Delma Félix Feitosa acompanhou o interrogatório de um dos acusados de matar a sua filha, Ana Paula Feitosa dos Santos Braga, de 24 anos. "É triste ouvir eles falarem mentiras e eu não poder dizer a verdade. É muito difícil", desabafou. >
Para ela, o pior momento foi quando Thiago Philipe de Souza Bragança, o Lipinho, descreveu o momento em que Ana foi assassinada. >
Durante o interrogatório, Thiago relatou que quando Ana estava sendo asfixiada, ela teria urinado. “Foi um momento muito triste, principalmente quando ele fala que ela urinou. Ela sofreu muito naquele momento, foi muita dor”, observa a mãe.>
Ela também contesta as afirmações dos acusados e de suas testemunhas e dos advogados de defesa, de que a Ana era usuária de drogas e que praticava rituais de vodu. >
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“Minha filha era trabalhadora, lutou para subir na vida. Tinha alugado o apartamento, financiado um carro, tinha três empregos. Não era drogada. Era uma filha maravilhosa. Todos os dias ela me ligava”, conta.>
Relatou ainda que a sua filha trabalhava com entrega de comida nas casas e que o que sobrava ela guardava em casa e depois distribuía com os mendigos da cidade. >
“Minha filha foi uma sobrevivente naquele lugar. Era uma menina de 24 anos, que amava a vida, que foi criada em um lar evangélico”, disse.>
Ela acompanha com expectativa, sentada nas primeiras fileiras do plenário, o desenrolar do julgamento. “Quero que eles sejam condenados há muitos anos de cadeia e que sofram”, finalizou.>
No início de janeiro de 2020, Ana Paula hospedou por uns dias, em sua casa, os capixabas Thiago e Wenderson. No final do mesmo mês, eles tiveram um desentendimento e a jovem foi morta por asfixia, com o uso de um cinto e fio elétrico em sua casa, em Los Angeles, nos Estados Unidos.>
O corpo de Ana Paula foi enrolado em um edredom. Os acusados pelo crime ainda filmaram a cena. Nas imagens Thiago informa: “Já está embrulhado já… Negão tem que limpar este sangue aqui”. Negão é o apelido de Wenderson.>
Em outro vídeo, Thiago está com o telefone da vítima e relata: “Eu matei ela e ainda estou com o telefone da mulher. Peraí… vamos nas fotos aqui…”.>
Neste último vídeo Thiago aparece usando um tênis vermelho, o mesmo calçado foi identificado pelo agente da Polícia Federal Mário Freitas no Brasil. “Recebemos informações de que ele estaria em Cariacica. Fomos investigar para obter um mandado de prisão, e no dia ele usava o mesmo tênis vermelho”, relata. Dias depois os jovens foram presos.>
Segundo as investigações, após o crime, Thiago e Wenderson fugiram com o carro de Ana Paula, de Los Angeles para a cidade de Desert Hot Springs, ambas na Califórnia. O corpo da jovem foi levado no porta-malas e jogado na lixeira de um cassino.>
De lá a dupla percorreu três estados americanos, chegando a Oklahoma, onde abandonaram o carro. Seguiram para Houston, no Texas, onde pediram mais dinheiro aos parentes.>
“Tô na rodoviária, o resto de dinheiro que eu tinha, eu comprei a passagem e só dá para chegar até Houston”, disse Thiago.>
Na sequência foram para a capital do México, onde se hospedaram em um hotel até Wenderson, que estava sem o passaporte, conseguir uma autorização da embaixada local para viajar. Na cidade eles gravaram um novo vídeo para os familiares, no hotel onde estavam hospedados.>
“Aproveitar a suíte presidencial, à vista, pedir uma cervejinha, ali tem o bar dos arrombados, só marcar que nós tá brotando”. As imagens mostram o local sendo descrito por Thiago, com a voz de Wenderson falando sobre o bar.>
Do México vieram para o Brasil. Chegaram em Vitória oito dias após o crime. Foram para o interior do Espírito Santo, em Barra de São Francisco, e depois para Cariacica, onde foram presos em 23 de fevereiro de 2020.>
O advogado Wagner Batista Campanha, que faz a defesa de Wenderson, afirmou que, no julgamento, "várias testemunhas já demonstraram a personalidade dele e a forma como ele é na comunidade, que é bem diferente do outro rapaz, e também foram ouvidas testemunhas que vieram dos Estados Unidos e muitas dúvidas foram dirimidas.">
"A minha expectativa é que o meu cliente responda pelo que realmente cometeu. Não sendo acusado de uma monstruosidade dessa, mas sim pelo fato de ele, infelizmente, ter tido a necessidade de sair em fuga nos Estados Unidos, para não ser preso ali, e ter de fato ocultado o cadáver. Contudo, a parte do homicídio ele não praticou. E no julgamento essa nossa tese está bem demonstrada", disse Campanha.>
Já o advogado Marcos Farizel, que defende Thiago, disse o cliente "confirmou sua participação e assumiu a autoria dos fatos, porém de uma forma um pouco diversa em relação as qualificadoras sustentadas pelo Ministério Público, que é a tese nossa. Nós vamos procurar desqualificar as qualificadoras para amenizar o resultado final da pena".>
"Isso significa que ele está denunciado pelo Ministério Público, no art. 121, com três qualificadoras, que são motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima, o que eleva a pena de 12 a 30 anos. A defesa vai tentar substituir essas qualificadoras para cair para uma pena mais branda entre 6 a 20 anos", disse Farizel.>
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