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Publicado em 10 de novembro de 2022 às 16:14
Os dois capixabas que estão sendo julgados em Vitória por matarem uma brasileira nos Estados Unidos brigaram no momento em que chegaram ao Fórum de Vitória na manhã desta quinta-feira (10). Foi preciso a intervenção de um policial penal para evitar agressões. A discussão foi em decorrência das versões do crime que seriam apresentadas por eles.>
Estão sendo julgados Thiago Philipe de Souza Bragança, o Lipinho, e Wenderson Júnior Dalbem Silva, mais conhecido como Júnior ou Negão. Eles foram denunciados como autores do homicídio pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e pronunciados - decisão judicial que os encaminha para o Tribunal do Júri - pelo juiz da Primeira Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches.>
Eles foram apontados como autores do assassinato da mineira Ana Paula Feitosa dos Santos Braga, de 24 anos, morta na casa que ela tinha acabado de alugar em Los Angeles, Califórnia.>
Thiago e Wenderson foram presos em 23 de janeiro de 2022 e permanecem detidos em unidades prisionais diferentes. Wenderson está no Centro de Detenção Provisória de Colatina (CDPCol) e Thiago em Xuri, no Centro de Detenção Provisória de Vila Velha (CDPVV). Ambos chegaram em uma mesma viatura.>
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A discussão ocorreu quando a viatura da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) estacionou no fórum e eles descerem e estavam sendo levados ao andar do Tribunal do Júri. O motivo da briga eram as versões que cada um iria apresentar sobre o crime. >
Wenderson disse que não mudaria a sua versão, assinalando que só transportou o corpo e que nem sabia que o embrulho que carregava era o corpo de Ana. Diante da fala os dois ficaram nervosos e o policial penal precisou fazer uma intervenção para separá-los.>
A discussão entre Thiago e Wenderson, ao chegar ao Fórum Criminal, foi confirmada por Wenderson durante o seu interrogatório. Ao ser questionado pelo promotor ele informou que Thiago o ameaçou, querendo que ele mudasse sua versão e assumisse a autoria do crime. “Coisa que eu não fiz. Neguei”, contou, informando ainda que não chegou a ocorrer agressão entre eles.>
No salão do Tribunal do Júri, os dois estão sentados lado a lado. Durante os depoimentos, Thiago permaneceu de cabeça levantada, com o olhar voltado para a frente. Wenderson mantém a cabeça baixa e chegou a chorar durante o depoimento de uma de suas testemunhas de defesa.>
O julgamento de Thiago e Wenderson teve início às 9h45. Foram ouvidos os depoimentos de um policial da Polícia de Los Angeles e de um agente do FBI, ambos participaram da investigação do crime nos EUA. Na sequência foi ouvido uma testemunha de defesa de Wenderson e a mãe de Thiago.>
No início de janeiro de 2020, Ana Paula hospedou por uns dias, em sua casa, os capixabas Thiago e Wenderson. No final do mesmo mês, eles tiveram um desentendimento e a jovem foi morta por asfixia, com o uso de um cinto e fio elétrico.>
O corpo de Ana Paula foi enrolado em um edredom. Os acusados pelo crime ainda filmaram a cena. Nas imagens Thiago informa: “Já está embrulhado já… Negão tem que limpar este sangue aqui”. Negão é o apelido de Wenderson. >
Em outro vídeo, Thiago está com o telefone da vítima e relata: “Eu matei ela e ainda estou com o telefone da mulher. Peraí… vamos nas fotos aqui…”.>
Neste último vídeo Thiago aparece usando um tênis vermelho, o mesmo calçado foi identificado pelo agente da Polícia Federal Mário Freitas no Brasil. “Recebemos informações de que ele estaria em Cariacica. Fomos investigar para obter um mandado de prisão, e no dia ele usava o mesmo tênis vermelho”, relata. Dias depois os jovens foram presos.>
Segundo as investigações, após o crime, Thiago e Wenderson fugiram com o carro de Ana Paula, de Los Angeles para a cidade de Desert Hot Springs, ambas na Califórnia. O corpo da jovem foi levado no porta-malas e jogado na lixeira de um cassino.>
De lá, a dupla percorreu três estados americanos, chegando a Oklahoma, onde abandonaram o carro. Seguiram para Houston, no Texas, onde pediram mais dinheiro aos parentes.>
“Tô na rodoviária, o resto de dinheiro que eu tinha, eu comprei a passagem e só dá para chegar até Houston”, disse Thiago.>
Na sequência foram para a capital do México, onde se hospedaram em um hotel até Wenderson, que estava sem o passaporte, conseguir uma autorização da embaixada local para viajar. Na cidade eles gravaram um novo vídeo para os familiares, no hotel onde estavam hospedados.>
“Aproveitar a suíte presidencial, à vista, pedir uma cervejinha, ali tem o bar dos arrombados, só marcar que nós tá brotando”. As imagens mostram o local sendo descrito por Thiago, com a voz de Wenderson falando sobre o bar.>
Do México vieram para o Brasil. Chegaram em Vitória oito dias após o crime. Foram para o interior do Espírito Santo, em Barra de São Francisco, e depois para Cariacica, onde foram presos em 23 de fevereiro de 2020.>
“Eles confessaram o crime. Foram presos e, posteriormente, a prisão temporária foi convertida para uma prisão preventiva, e permanecem detidos até o julgamento”, relata Ricas. >
O advogado Wagner Batista Campanha, que faz a defesa de Wenderson, afirmou que, no julgamento, "várias testemunhas já demonstraram a personalidade dele e a forma como ele é na comunidade, que é bem diferente do outro rapaz, e também foram ouvidas testemunhas que vieram dos Estados Unidos e muitas dúvidas foram dirimidas.">
"A minha expectativa é que o meu cliente responda pelo que realmente cometeu. Não sendo acusado de uma monstruosidade dessa, mas sim pelo fato de ele, infelizmente, ter tido a necessidade de sair em fuga nos Estados Unidos, para não ser preso ali, e ter de fato ocultado o cadáver. Contudo, a parte do homicídio ele não praticou. E no julgamento essa nossa tese está bem demonstrada", disse Campanha.>
Já o advogado Marcos Farizel, que defende Thiago, disse o cliente "confirmou sua participação e assumiu a autoria dos fatos, porém de uma forma um pouco diversa em relação as qualificadoras sustentadas pelo Ministério Público, que é a tese nossa. Nós vamos procurar desqualificar as qualificadoras para amenizar o resultado final da pena".>
"Isso significa que ele está denunciado pelo Ministério Público, no art. 121, com três qualificadoras, que são motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima, o que eleva a pena de 12 a 30 anos. A defesa vai tentar substituir essas qualificadoras para cair para uma pena mais branda entre 6 a 20 anos", disse Farizel.>
A expectativa dos advogados da defesa é que o julgamento se encerre no final da noite desta quinta-feira.>
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