Redes de ódio precisam entrar na mira das forças de segurança para frear ataques a escolas

É preciso monitorar, nas redes sociais e na internet. grupos que impulsionam invasões a escolas, como as ocorridas em Aracruz e Vitória, recentemente

Publicado em 30/11/2022 às 02h00
Suástica e análise de celular mostram ligação de atirador com nazismo no ES
Símbolo do nazismo em roupa militar usada pelo atirador de Aracruz. Crédito: Carlos Palito

As forças policiais conseguiram identificar e prender, em quatro horas, o autor do ataque a duas escolas de Aracruz que resultou na morte de três professores e uma estudante e deixou mais de 10 feridos. O detido foi um adolescente de 16 anos, ex-aluno da Escola Estadual Primo Bitti, a primeira a ser alvo do atentado da última sexta-feira (25).

A mesma agilidade já havia sido demonstrada três meses antes, quando Henrique Trad, de 18 anos, invadiu a Escola Municipal Éber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, Vitória, armado com facas, bombas e bestas com o objetivo de matar pelo menos cinco pessoas, inclusive estudantes. Por falta de pontaria e por ter sido contido a tempo, o ataque cometido pelo jovem não provocou mortes.

Dois crimes cujas semelhanças são óbvias. Os ataques foram cometidos por dois jovens, paramentados com roupas de inspiração militar ou de combate, ostentando armas e de forma solitária. Além disso, o atirador de Aracruz ostentava em sua vestimenta uma suástica, símbolo do nazismo, presente também em outros atentados do tipo. A Polícia Civil informou que vai apurar a existência de uma rede neonazista no Estado, em função desse ataque.

São sinais de que não se tratam de “casos isolados”, como deixou claro a escritora e pesquisadora Michele Prado, especialista em ideologias extremistas, em entrevista a A Gazeta. Tal constatação suscita a necessidade de as forças de segurança se atualizarem e buscarem conter essas ações ainda no nascedouro. Por mais que ajam como um “exército de um homem só”, os autores dos tiros em escolas contam com um “exército” a incentivá-los e induzi-los até o solitário ato final.

São grupos de ódios que, cada vez mais, saem das sombras da “deep web”. Em vez da parte mais oculta da internet — aquela que é inacessível pelos mecanismos comuns de busca —, já ocupam as redes sociais. Lá, expõem a metodologia terrorista que desejam implementar, contudo ainda ficam escondidos atrás de perfis anônimos.

Preso com a ajuda do cerco inteligente de segurança, mecanismo importante para auxiliar a polícia na identificação do carro utilizado durante o deslocamento para a prática do crime, o próprio atirador de Aracruz teria dito, em depoimento, que aprendeu a manusear armas e a atirar assistindo a vídeos no YouTube. Em entrevista a O Estado de S.Paulo, o pai do jovem afirmou ter a intuição de que o filho foi manipulado e induzido por pessoas “realmente malignas, satânicas”.

Michele Prado afirma que, de fato, casos de ataques a escolas estão imersos dentro de uma mesma subcultura extremista. E lembra que existe uma explosão de radicalização voltada, principalmente, ao público jovem masculino, levando-os a perder a sensibilidade perante a violência extrema.

Formam-se atiradores que passam a competir entre si, para saber quem alcançará a pontuação mais alta, o que, no caso, envolve uma maior quantidade de mortes. Assim, os ataques se retroalimentam. Conforme denúncia do Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES), para invadir a escola em Jardim da Penha, Henrique Trad se inspirou no massacre de Suzano, em São Paulo, em que dois ex-alunos mataram sete pessoas, sendo cinco estudantes e duas funcionárias, em 2019. O jovem também falava, em grupos na internet, sobre a intenção de atacar a escola na qual estudou.

O ataque  em Vitória, por sua vez, inspirou outro, ocorrido em setembro, na Bahia. Na ocasião, um estudante de 14 anos invadiu uma escola em Barreiras e matou uma aluna cadeirante a tiros. Posteriormente, a Polícia Civil do Espírito Santo confirmou que esse adolescente se comunicava pela internet com Henrique Trad. Nas redes sociais, o atirador baiano dizia “ter ódio para liberar”.

Inspirações em atos anteriores, planejamento de longo prazo e exposição do “desejo de matar” em grupos na internet. Características que marcam os ataques citados e mostram que é possível haver uma política de segurança capaz de prevenir esses atos.

Como ocorreu no ano passado, quando a Polícia Civil do Estado conseguiu deter um adolescente de 13 anos, morador de Cariacica, que planejava cometer um atentado em uma escola. As investigações partiram do Serviço Secreto dos Estados Unidos e da Homeland Security Investigations (HSI). Na ocasião, foi descoberto que o garoto capixaba conversava com um outro adolescente, de 15 anos, morador de Minas Gerais, para que cometessem juntos os atentados, em escolas dos Estados onde vivem.

É dessa forma que as forças de segurança devem agir. Não basta apenas a repressão, com a prisão ou detenção dos autores dos crimes de ódio. É preciso haver prevenção. A web é mais um terreno que deve ser monitorado pela polícia, para que o terror vivido em escolas de Vitória e Aracruz, assim como em outras do país, não se repita.

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