Para o desempregado, a falta de oportunidades também é um golpe

Crescem os golpes digitais que oferecem empregos com salários de até R$ 5 mil sem exigência de currículos, meras iscas para prejudicar aqueles que estão sem trabalho ou testemunham queda vertiginosa da própria renda

Publicado em 20/06/2022 às 02h00
Carteira de trabalho
Carteira de trabalho. Crédito: Fernando Madeira

Não adianta apelar para os velhos ditados e alertar que quando a esmola é grande, o santo desconfia. Ou pelo menos deveria desconfiar. Os golpes que oferecem propostas tentadoras de emprego pelo WhatsApp e por SMS conseguem fazer ainda mais vítimas quando encontram um mercado de trabalho desguarnecido que, desde a metade da década passada, não consegue absorver a população economicamente ativa do país.

Quase todo usuário de celular tem alguma experiência para contar sobre esses golpes mais recentes. A mensagem recebida sempre vem acompanhada por um link. Mesmo que a estratégia sedutora dos estelionatários, com ofertas de salários de até R$ 5 mil com carga horária de meio expediente e sem exigência de formação ou experiência, gere desconfiança naqueles mais antenados, há sempre os que caem.  O resultado pode ser ter o celular infectado por vírus ou os dados pessoais roubados.

Para além dos prejuízos causados por um crime tão covarde, que aposta na boa-fé e na inocência das vítimas, vale fazer uma reflexão sobre a própria natureza desses golpes. Construir narrativas para tentar tirar proveito dos outros é algo que sempre existiu, são inúmeras as variações do conto do vigário. Normalmente, os golpes estimulam a ganância, com promessas de retornos financeiros consideráveis. É bem emblemático, portanto, que nas abordagens mais recentes o objeto de desejo seja um emprego bem remunerado. Sinal dos tempos.

Mas é compreensível o valor dado a uma oportunidade de trabalho e a uma boa renda diante das estatísticas.  Os números mais recentes do desemprego no país, referentes a maio, mostram que são 11,3 milhões de brasileiros nessa situação, de acordo com o IBGE. Houve um recuo de 10,5%  na taxa de desocupação no trimestre encerrado em abril deste ano, mas ainda um número elevado demais. Sem contar o encolhimento da renda, que caiu 7,9% em um ano. O empobrecimento da população não arrefece.

Ao se colocar um emprego atraente como a isca de um golpe, mexe-se com a esperança de muitas pessoas que desejam uma vida melhor. É preciso levar isto em consideração: o brasileiro quer trabalhar, garantir seu sustento com qualidade de vida, ter dignidade. Quer educação qualificada que o faça avançar no mercado de trabalho, quer o direito de sonhar. 

A recorrência desse tipo de artimanha mostra que as pessoas precisam estar preparadas, com educação digital, para não serem vítimas. É preciso também esforço investigativo para desmanchar essas redes criminosas que se aproveitam da ingenuidade de tantas pessoas, com as devidas punições. E, acima de tudo, a maior de todas as reivindicações é a de um país com mais oportunidades de trabalho para os seus cidadãos.  

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