Cada brasileiro trava guerra pessoal para sobreviver à inflação

Enquanto os mais velhos revivem tempos mais sombrios, quem tem menos de 30 anos sofre pela primeira vez o impacto do custo de vida elevado. Entre os mais pobres, a fome volta a assolar, enquanto a classe média precisa cortar gastos e fazer escolhas

Publicado em 14/06/2022 às 02h00
Inflação
Janquieu Pereira, Amanda Lyrio e Kethellyn Lorrayne Otto da Silva fazem parte da geração que conhece agora o peso da inflação. Crédito: Caroline Freitas/Arte

Não é por menos que uma das matérias mais acessadas nos últimos dias em A Gazeta traz a resposta para uma dúvida crucial nestes tempos de carestia:  "É mais barato cozinhar com gás, air fryer ou forno elétrico?".

Afinal, fazer contas, recalcular rotas financeiras, repensar o próprio consumo e abrir mão de conforto tornou-se essencial para os assalariados que veem sua renda mensal perder o poder de compra, seguindo o ritmo frenético de uma inflação que não retrocede vigorosamente.

Em maio, a alta de 0,47% registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a variação mais baixa desde abril de 2021, quando o índice foi de 0,31%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa em 12 meses passou de 12,13% em abril para 11,73% em maio, quando a meta do Banco Central para este ano é de 3,5%, com teto de tolerância de 5%.

Para quem está sem trabalho ou na informalidade, as estratégias são de guerra, e toda economia, mínima que seja, faz diferença quando se precisa literalmente sobreviver.

Não se pode ignorar que estamos diante de uma emergência nacional: há 33 milhões de brasileiros passando fome, número que fez o país voltar ao patamar de 30 anos atrás. A miséria se espalha, e o empobrecimento de quem depende da própria força de trabalho é concreto. A perda de qualidade de vida é flagrante. Pior ainda: há uma geração afetada pela falta de expectativas com o futuro.

São jovens que se tornaram economicamente ativos nos últimos anos. Além das dificuldades de se estabelecerem no mercado de trabalho, eles estão diante dos reveses impostos pela inflação em suas vidas. Assim, a rotina fica desgastante: as atividades de lazer se tornam supérfluas e deixadas de lado. Planejar a própria vida, como sair da casa dos pais para ter mais autonomia, se inviabiliza. Mesmo que o cenário seja menos danoso do que o da hiperinflação brasileira nos anos 80 e 90, a disparada dos preços imobiliza uma geração que deveria estar buscando o seu espaço.

A inflação tem causas multifatoriais, e o ciclo inflacionário atual tem raízes na pandemia e no conflito na Ucrânia. Eventos globais e imprevisíveis, o que não tira a responsabilidade governamental nas formas de conduzir o seu enfrentamento. A própria instabilidade política brasileira contribui para manter o descontrole dos preços. Há rachaduras estruturais no país que precisam de reparos, com participação ativa do Congresso, mas até agora não houve sucesso. Esse fracasso inflacionário também é resultado das péssimas escolhas do passado e do presente. Urgente é que o futuro seja diferente.

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