Escalada do preço dos alimentos compromete o sustento dos mais pobres

Famílias precisam colocar comida na mesa, enquanto a Covid-19 não é definitivamente aplacada com vacinas e o desenvolvimento de tratamentos eficazes. A urgência de se combater a doença vai muito além da saúde pública

Publicado em 01/04/2021 às 02h00
Cesta básica
Alguns itens da cesta básica de alimentos cujos preços dispararam na pandemia. Crédito: Carlos Alberto Silva

O impacto da pandemia no preço dos alimentos permanece em 2021 afetando dramaticamente a fatia da população economicamente mais vulnerável, sobretudo os 68 milhões de brasileiros que receberam o auxílio emergencial no ano passado e ainda aguardam a distribuição do benefício, programada para ser iniciada em 6 de abril. Auxílio que virá com valor consideravelmente reduzido, é importante lembrar.

Mesmo os assalariados da classe média, que conseguiram manter ou recuperar o emprego em meio à crise sanitária, não passam incólumes à carestia que fez itens básicos como arroz e feijão subirem pelas tabelas. A cada ida ao supermercado, veem o seu poder de compra sistematicamente reduzido.

inflação de alimentos e bebidas cresceu 17,52% na Grande Vitória entre março de 2020 e fevereiro de 2021. O índice é muito superior à inflação oficial do mesmo período, que ficou em 6% nas principais cidades do Espírito Santo, segundo dados do IBGE.

E não há perspectiva de melhora, com a pandemia atingindo seu momento mais crítico, com recordes diários de mortes e contágio desenfreado, sem que haja uma coordenação nacional efetiva para superá-la. Enquanto a vacinação em massa não deslancha e a inação do governo federal segue aprofundando a crise, mais longe se está também de uma acomodação consistente dos preços, com o retorno à alguma normalidade.

A inflação é um fenômeno multifatorial e se consolida sob algumas condições favoráveis e combinadas, tanto externas quanto internas, como a depreciação do câmbio, com o dólar acumulando altas seguidas e consistentes, o que estimula o aumento das exportações.

Assim, o mercado interno  — que no ano passado sentiu o aumento do consumo com o pagamento do auxílio de abril a dezembro  — é pressionado pela demanda, mas com oferta reduzida. Na pandemia, contribuíram para o cenário inflacionário as mudanças de hábitos de consumo e as interrupções extraordinárias nas cadeias de produção.

O caos pandêmico permanente fez as expectativas de recuperação econômica avistadas no último trimestre de 2020 se transformarem na atual ameaça de estagflação, uma vez que as reações pontuais da economia naquele momento não confirmaram sua consistência. 

Dentro do processo inflacionário, com o aumento médio de preços, a estagflação se define quando concomitantemente há a derrubada geral da atividade econômica. O tombo de 4,1% no PIB  de 2020 é o principal sinalizador dessa perda de fôlego já neste primeiro semestre.

A desorganização econômica provocada pela pandemia é mundial, e os países mais desenvolvidos ou ao menos mais comprometidos com a superação da crise sanitária estão conseguindo se reorganizar com medidas muito consistentes, com investimentos maciços na vacinação.

O Brasil está muito atrasado, e essa demora força governadores e prefeitos a tomarem decisões drásticas, com  quarentenas de diferentes níveis de rigidez, imprescindíveis para reduzir a pressão sobre o sistema hospitalar, mas ao mesmo tempo freando a atividade econômica. Outras nações conseguiram reduzir os danos econômicos com o isolamento social apostando em organização, fiscalização e engajamento da população, e assim já passam por um processo de recuperação produtiva. 

A escalada do preço dos alimentos retira dos mais vulneráveis a garantia do sustento, refletindo-se no empobrecimento da população. Sem emprego e renda consistentes, o orçamento familiar é uma quimera. As famílias precisam colocar comida na mesa, enquanto a Covid-19 não é definitivamente aplacada com vacinas e o desenvolvimento de tratamentos eficazes. A urgência de se combater a doença, como se constata, vai muito além da saúde pública.

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