Até que a vacina chegue, a empatia é o melhor remédio contra a Covid-19

Governos devem cumprir seu papel de fiscalizar o cumprimento das regras sanitárias, mas a principal encarregada da tarefa de frear o avanço do novo coronavírus é mesmo a população

Publicado em 11/12/2020 às 05h00
Uso de máscara é essencial para evitar avanço da pandemia
Uso de máscara é essencial para evitar avanço da pandemia. Crédito: Carlos Alberto Silva

Por dois dias consecutivos nesta semana, o Espírito Santo registrou recordes de novas infecções pelo coronavírus. Os números, acima de 2.400 casos confirmados em um intervalo de 24h, superam os dias considerados mais críticos vividos durante o pico da Covid-19, em meados do ano. O Brasil entra em um repique da pandemia antes mesmo de ter controlado a primeira onda, e tudo indica que vai inaugurar 2021 em situação ainda mais calamitosa. Sem previsão de quando a tão esperada vacina chegará, a população precisa reforçar o autocuidado, sobretudo os mais jovens.

Desde o início da pandemia, uma pequena, mas barulhenta ala dos negacionistas, representada na figura do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, sempre rebateu a lógica e a ciência para atacar a necessidade de isolamento social e as medidas sanitárias, como uso de máscara e álcool gel. No entanto, após longos meses de restrições e sacrifício, mesmo aqueles que defendiam a quarentena estão colaborando com aglomerações e relaxando em atos simples como lavar as mãos. A fadiga da pandemia já foi até mensurada pela OMS e atinge até 60% das pessoas em alguns grupos.

Um dos nichos populacionais que mais têm contribuído para a aceleração do contágio é o dos jovens. A cada dia, ruas, praias, áreas de lazer e bares estão mais lotados, e o resultado não poderia ser diferente. Do número total de jovens contaminados pelo vírus no Espírito Santo desde o início da crise, quase metade infectou-se nos últimos 100 dias. Essa faixa etária é a que mais se expõe para trabalho ou diversão, levando os casos a saltarem de 3.804 em setembro para 7.781 em novembro, um crescimento de 104,55%.

Ao lado do cansaço provocado pelo isolamento, está também a sensação de invencibilidade, que faz com que os mais jovens subestimem a Covid-19 e, assim, exponham-se mais a situações de risco. Ao ignorar medidas de prevenção, transmitem a doença para pessoas mais vulneráveis. Embora sejam minoria entre as fatalidades, os jovens são os que mais se infectam e também os que mais transmitem o coronavírus no Espírito Santo. A maioria dos contaminados no último mês tinha cerca de 29 anos, enquanto a maior parte dos internados atualmente têm, em média, 45 anos.

Esse cenário levou o secretário de Saúde, Nésio Fernandes, a se dirigir diretamente a essa parcela da população em um rede social, em um apelo para que evitem aglomerações pelos próximos 90 dias. Natal, ano-novo e recesso escolar acendem especial alerta. “Jovens são vetores velozes, sua capacidade de transmitir a doença para pessoas de riscos é grande. Neste fim de ano, nestas férias, convido a juventude a fazer uma reflexão sincera: a balada e a festa vale a vida dos nossos entes queridos?”, escreveu.

Ao contrário do que disse Jair Bolsonaro na quinta-feira (10), que parece viver em um universo paralelo, o Brasil não está no  finalzinho da pandemia”. O país tem o maior número de Estados com alta na média de mortes desde julho. No Espírito Santo, o avanço da doença preocupa e pode, já a partir da próxima semana, colocar mais cidades em risco alto para a transmissão do coronavírus. A mudança no perfil de risco leva a um caminho doloroso e já conhecido, que é o da imposição de medidas mais restritivas à circulação de pessoas e à atividade econômica. Não há dicotomia entre saúde e economia. O caminho para promover ambas é salvar vidas.

A crescente no contágio também pode representar em breve uma sobrecarga na oferta de leitos de UTI nas redes pública e privada, que hoje vive uma situação diferente do auge da pandemia. Com o retorno das cirurgias eletivas e o aumento do trânsito de veículos, que levam a mais acidentes, para citar apenas dois fatores, a pressão sobre a rede hospitalar é maior.

O governo do Espírito Santo e as prefeituras devem cumprir seu papel de fiscalizar o cumprimento das regras sanitárias, que vêm sendo descaradamente desrespeitadas em flagrantes quase diários. Mas a principal encarregada da tarefa de frear o avanço do novo coronavírus é mesmo a população. Bares não lotam por imposição dos donos, mas por vontade dos clientes. Nas festas de fim de ano, cabe a cada família cuidar de seus membros e da comunidade, se não quiser ser responsável por mais infecções, que têm levado a vida de mais de 100 capixabas por semana. Até que a vacina chegue, a empatia é o melhor remédio contra a Covid-19.

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