As estatísticas gritam enquanto a Covid-19 segue calando vozes

No Espírito Santo, número de mortes pela Covid-19 chega a 10 mil. Em pleno 2021, ano que se iniciou com a esperança da redução de óbitos com as vacinas, é inaceitável que tantos ainda morram sem nem sequer a chance de terem sido vacinados

Publicado em 11/05/2021 às 21h45
Luto
Luto: Espírito Santo atinge mais de 10 mil mortes pela Covid-19. Crédito: Pixabay

Passaram-se apenas 19 dias desde o registro de 9 mil mortes pela Covid-19, em 22 de abril, para o Espírito Santo atingir a marca dos 10 mil óbitos nesta terça-feira (11). Uma escalada um pouco mais lenta do que a passagem das 8 mil para as 9 mil mortes, alcançada em 14 dias, mas não menos vertiginosa. Os dados consolidados e as estatísticas da pandemia gritam, clamam por socorro, mas é o silêncio do luto de familiares e amigos que ensurdece a todos neste momento. 

É um massacre social que responde, apesar de todos os esforços dos governos estaduais e prefeituras, à falta de uma ação nacional coordenada capaz de mobilizar a sociedade, instigando cada cidadão para a missão compartilhada de proteger a si mesmo e aos outros.

Não só isso: é lamentável constatar que muitas das mortes registradas nos últimos meses poderiam ser evitadas se o ritmo de vacinação estivesse mais acelerado, sem os contratempos que a falta de imunizantes vêm causando. A via-crúcis para garantir a segunda dose da Coronavac, em falta pela carência de insumos para a sua produção, é uma mancha para um país que já teve um dos programas de imunização mais eficientes do planeta.

O Brasil demorou demais para negociar as vacinas, perdendo a chance de fazer o certo, na hora certa, e hoje colhe os frutos podres da gestão desastrosa da pandemia. A CPI da Covid  se transforma, a cada dia, na última trincheira possível para em alguma instância punir os culpados e conter essa catástrofe.

A duras penas, portanto, um milhão de pessoas no Espírito Santo já receberam pelo menos uma dose de algum dos imunizantes disponíveis. Há percalços, como problemas para agendamentos nos sites das prefeituras, mas dentro do possível a gestão local das vacinas tem sido ágil: assim que elas desembarcam no Estado, são prontamente distribuídas às administrações municipais, encarregadas de imediatamente aplicá-las nos grupos determinados.

A vacinação no Espírito Santo teve início oficialmente em 18 de janeiro. Quase quatro meses depois, esperava-se que uma parcela maior já estivesse no processo de imunização, principalmente com a doença mudando seu perfil e atacando de forma mais grave as pessoas mais jovens e sem comorbidades. Mas não há vacinas suficientes para isso.

Não há vacina, dirão alguns, porque há uma demanda mundial por imunizantes. A informação é correta, mas os países que se organizaram e negociaram previamente estão conseguindo cumprir metas ambiciosas. No Reino Unido, que se tornou um dos exemplos mais bem-sucedidos, há o plano de incluir uma terceira dose, a partir de setembro, para pessoas com mais de 50 anos e problemas de saúde, antecipando-se a novas ondas de contágio ao anular variantes já existentes ou o surgimento de novas. Governos sérios estão um passo a frente, adiantando-se diante de um cenário ainda incerto. No último domingo (09), o país não registrou nenhuma morte por Covid-19, feito inédito desde julho de 2020.

Enquanto no Brasil a vacina se transformou em uma guerra política descabida, as mortes disparavam. A reação da sociedade civil ganhou relevo com  iniciativas como o Unidos pela Vacina na construção de pontes entre os setores público e privado, garantindo suprimentos, infraestrutura e logística para a vacinação em cidades que não têm capacidade de realizar campanhas de imunização com segurança. Mas, apesar da boa vontade, ainda faltam vacinas. 

Nesta terça-feira (11), o Ministério da Saúde divulgou que firmou contrato para compra de mais 100 milhões de doses da vacina da Pfizer. O que é inegavelmente uma boa notícia, ao mesmo tempo mostra como a lentidão do governo impedirá que mais brasileiros estejam protegidos imediatamente, já que a chegada das doses está prevista para setembro. Pelo menos mais quatro meses de espera.

Até se consolidar a imunização da população, as mortes, evitáveis, continuarão a fazer parte do cenário. O Espírito Santo, atualmente, é o sétimo Estado brasileiro em número de mortes por 100 mil habitantes. Com 247,7 mortes por 100 mil habitantes, esse índice em solo capixaba supera até mesmo o do Brasil, atualmente em 202,5/100 mil.

As 10.013 mortes contabilizadas desde o início da crise sanitária não são relevantes apenas para quem era próximo dessas pessoas. Essas perdas reforçam o tamanho da tragédia para o Espírito Santo. Em pleno 2021, ano que se iniciou com a esperança da redução de óbitos com a disseminação das vacinas, é inaceitável que tantos ainda morram sem nem sequer a chance de terem sido vacinados.

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