Baixo uso de preservativos entre jovens do ES deve estimular políticas públicas

O que coloca a saúde das pessoas em perigo são comportamentos de risco, como o sexo sem proteção. No Brasil. número de novas infecções pelo HIV se concentra entre os mais jovens

Publicado em 11/05/2021 às 02h00
Camisinha
Preservativo distribuído na rede pública. Crédito: Divulgação / Ministério da Saúde

Desde os primeiros registros da Aids, há mais de 40 anos, as formas de se encarar a doença causada pelo vírus HIV passaram por redirecionamentos importantes, ancorados pelos avanços científicos testemunhados, ano após ano. E uma das mudanças mais relevantes se deu quando passou-se a reforçar o comportamento como fator predominante para o contágio: abandonou-se a expressão "grupo de risco" e passou-se a adotar outra, mais eficiente e menos discriminatória: "comportamento de risco". É interessante perceber que com a Covid-19 o caminho foi o mesmo, mas chegou-se a essa conclusão em bem menos tempo. 

Assim, quando uma pesquisa do IBGE aponta que os jovens do Espírito Santo são os que menos se protegem no país durante as relações sexuais, é esse risco relacionado ao comportamento individual que se sobressai. Não importa o grupo do qual faça parte, homossexuais ou heterossexuais, o que coloca a saúde das pessoas em perigo  é o relaxamento com o uso de preservativos, considerado o meio mais simples e eficiente de se proteger do HIV e de uma infinidade de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) que voltaram a ser relevantes nos últimos anos. 

Uma delas é a sífilis, uma preocupação mundial. O boletim epidemiológico de sífilis do Ministério da Saúde referente ao ano de 2020 mostra que a sífilis adquirida, IST que passou a ter  notificação compulsória no Brasil desde 2010, teve sua taxa de detecção aumentada de 34,1 casos por 100 mil habitantes em 2015 para 76,2/100 mil em 2018. Já em 2019, houve redução para 72,8 casos por 100 mil habitantes. Mas essa queda é justificada, pela própria pasta, pela demora na notificação e na alimentação das bases de dados  em função da mobilização dos profissionais de saúde diante da pandemia de Covid-19, no ano passado. 

No Espírito Santo, o número de casos novos em adultos aumentou 11,5% em 2019 em relação ao ano anterior, com 5.123 notificações da sífilis adquirida. Já em 2018, foram notificados 4.609 casos. A sífilis é uma doença curável, mas quando transmitida da mãe para o filho durante a gravidez pode provocar aborto ou deixar sequelas na criança.

Já sobre a transmissão do HIV, o boletim epidemiológico nacional de 2020 aponta que é na faixa etária de 20 a 24 anos que se concentra o maior número de novas infecções no Brasil, com 27,6% dos casos. No Espírito Santo, os dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) mostram que, em 2019, a maior parte dos casos novos  ocorreu entre pessoas do sexo masculino, na faixa etária de 20 a 39 anos, com 603 registros.

O documento do Ministério da Saúde mostra também que o maior número de pessoas com o vírus no país está  na faixa dos 25 aos 39 anos, de ambos os sexos (52,4% são homens e 48,4% são do sexo feminino). São 492,8 mil registros. Mesmo que a taxa de mortalidade em decorrência da Aids tenha apresentado queda de 17,1% nos últimos cinco anos, por conta sobretudo da evolução do tratamento, a doença não pode ser subestimada.

Todos esses números mostram que a mudança de comportamento deve ser tratada como política pública. É uma situação análoga a que se encara atualmente com o uso de máscaras para conter a disseminação da Covid-19: o uso de preservativo deve ser naturalizado, sem tabus, porque dele depende a saúde da população sexualmente ativa.

As campanhas promovidas pelo Ministério da Saúde pecam pela timidez, em um tema que havia avançado muito, principalmente na década de 90, quando se ensinava mais abertamente até mesmo a maneira correta de se colocar a popular camisinha. Houve uma mudança cultural significativa, relevante para a saúde pública. A gestão da saúde precisa ser mais pragmática, sem moralismos. E, no Espírito Santo, esses dados sobre a baixa adesão dos mais jovens também precisam motivar  estratégias para atingir esse público de forma mais efetiva.

O HIV há muito deixou de ser uma sentença de morte, o que é louvável. Os antirretrovirais e as iniciativas de prevenção, como a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), são avanços inegáveis. Há qualidade de vida para as pessoas com HIV, com possibilidade de redução da carga viral em níveis indetectáveis. Mesmo que hoje seja possível viver com o HIV como uma condição crônica, proteger-se do vírus ainda é, definitivamente, o melhor caminho.

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