Uma liderança criminosa da região da Ilha do Príncipe, em Vitória, aparece em operações realizadas desde o ano passado como o elo entre pelo menos 18 policiais militares e civis e supostos esquemas criminosos.
As investigações e denúncias já apresentadas à Justiça estadual apontam para crimes como tráfico, apropriação e comercialização de drogas apreendidas, corrupção, agiotagem, lavagem de dinheiro.
Trata-se do traficante Yago Saib Bahia da Silva, conhecido como Passarinho ou Pardal. Ele mantinha contato próximo com os investigados e denunciados, com quem falava com frequência por mensagens e vídeos.
Informações presentes em denúncias do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) revelam que a suposta “parceria” incluía pagamento de propinas para garantir segurança e acesso a dados sigilosos e direcionamento de ações policiais. Um detalhe: era um criminoso que tinha contra ele um mandado de prisão.
Yago só foi detido em março do ano passado em uma situação inusitada. Fugia de uma perseguição de rivais quando seu carro capotou. Ao ser socorrido, a sua identidade foi revelada. Tentou fugir, mas acabou preso. Ele se encontra na Penitenciária de Segurança Máxima 2, em Viana.
Ele é descrito como integrante da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) e uma das operações chegou a identificar as transferências de dinheiro que enviava para a sede do grupo criminoso, em São Paulo. Há ainda informações de sua atuação, antes de sua prisão, com outros grupos, como Terceiro Comando Puro (TCP) e A Família Capixaba (AFC).
Mais recentemente surgiram informações de que ele teria "rasgado a camisa", migrando para a facção rival, o Primeiro Comando de Vitória (PCV), onde seu nome chegou a aparecer, com identificação de padrinhos.
Sua prisão desencadeou várias investigações e operações — Pardal, Argos e Turquia — e a prisão de integrantes das forças de segurança.
O grupo dos militares
O envolvimento de policiais militares surge meses após a prisão do traficante, com a prisão de um PM. O relato inicial era de que ele receberia cerca de R$ 2 mil por semana, em troca de proteção e favorecimento aos criminosos.
Mas o prosseguimento das apurações acabou ampliando o número de envolvidos, chegando a 15 militares que foram denunciados à Justiça e estão presos. Entre as acusações está a venda ilegal de drogas apreendidas que não apareciam no registro oficial.
Também foi apontada a cobrança periódica pela “liberação” de áreas específicas para atuação do tráfico. Em contrapartida, garantiam a não intervenção policial e a repressão de grupos rivais. Valores que seriam “lavados” por meio de agiotagem.
Foram acusados de organização criminosa, corrupção passiva militar, tráfico de drogas, com apropriação e venda dos entorpecentes, lavagem de dinheiro e agiotagem, com extorsão de dinheiro sob ameaças e simulações de abordagens policiais.
Na sede do Denarc
Outra leva de investigações mostra que o processo se repete na Polícia Civil, na área destinada à investigação e repressão ao tráfico ilícito de drogas e crimes relacionados, o Departamento Especializado em Narcóticos (Denarc).
Três policiais que atuavam no local foram afastados de suas funções, um deles foi preso, durante a realização da Operação Turquia, realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), em parceria com a Polícia Federal.
A suspeita é de que os três, usando da função, faziam parte de um núcleo criminoso que fornecia drogas e armas para integrantes da facção.
Um cenário que também contaria com o apoio do traficante Yago, com quem mantinham contato direto, confirmando até se os detidos eram de fato os indicados e se o material a ser apreendido tinha sido encontrado.
Há suspeita de que drogas apreendidas, que não eram registradas oficialmente, estariam sendo desviadas para a própria organização criminosa, com o traficante novamente intermediando a comercialização e partilhando o lucro com os integrantes da corporação.
Durante a realização da Operação Turquia, no momento da busca e apreensão, foi localizado no pátio do Denarc uma queima feita em duas manilhas empilhadas. Foram encontrados em meio a cinzas e a fumaça, restos de pinos de drogas, vestígios de aparelhos telefônicos, balança de precisão e até de um simulacro de arma de fogo, tudo queimado.
Em nota a Polícia Civil disse que descarte de materiais ilegais são feitos com autorização da Justiça.
A coluna tentou obter informações sobre o responsável pela defesa de Yago, sem retorno. O espaço segue aberto a manifestação.
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