O cadastro de uma facção criminosa que atua no Espírito Santo revela que o batismo de integrantes já conta com mais de oito mil nomes.
Identificado como pertencente ao Primeiro Comando de Vitória (PCV), a lista detalha informações como os nomes dos traficantes, seus apelidos, sua “quebrada” (local de atuação), a cidade e até quem são os “padrinhos” que os indicaram.
Partes do registro têm sido apreendidas em operações policiais e ajudam a traçar um raio-x da facção, seus integrantes, áreas de atuação, as ligações de poder e até as migrações entre grupos criminosos.
Ao lado do nome e do apelido pelo qual é conhecido aparece a numeração de cada membro, que é a sua identificação entre os parceiros. Inclusive há informações de que alguns chegam até a tatuar o número no corpo, que não é substituído nem com a morte ou saída do grupo.
E é por este motivo que estes códigos dão a indicação de que pelo menos mais de 8 mil pessoas já foram registradas na facção criminosa.
A coluna teve acesso a parte destes documentos e conversou com Romualdo Gianordoli Neto, subsecretário de Inteligência da Segurança de Estado da Segurança Pública (Sesp), sobre o tema. Na avaliação dele, o número de integrantes é menor, considerando os que saíram ou morreram.
“Não acredito que sejam tantos. São batizados, mas não significa que todos ainda sejam membros ativos, mesmo que o número seja mantido pela pessoa”, observa. Ele acrescenta que este tipo de registro vem sendo investigado pela Polícia Civil.
O processo de batismo e os padrinhos no PCV
Para ser considerado um membro e fazer parte do cadastro é necessária uma “indicação”. Os padrinhos são identificados na frente do nome de cada novo integrante e se tornam responsáveis pelas ações de seu tutelado.
Para o PCV, a informação é de que seriam necessários pelo menos três padrinhos, mas na lista consta que alguns membros conquistaram o acesso com apenas dois. Umas das possibilidades é que o “responsável” tenha um maior poder dentro da organização.
A lista revela ainda a movimentação entre os grupos criminosos. Há integrantes que atuavam em outra denominação e que agora aparecem listados como batizados do PCV. É o caso de um membro do Primeiro Comando da Capital (PCC) que passou a fazer parte da facção rival.
Outro exemplo vem de Carlos Alberto dos Santos Gonçalves, o Bequinha, que, anteriormente, integrava o Terceiro Comando Puro (TCP), onde atuou com os três Irmãos Vera — dois deles estão detidos na Penitenciária de Segurança Máxima 2 — e migrou para o PCV.
Em seu cadastro aparece Sérgio Raimundo Soares da Silva Filho, o Kauê, e Márcio Doido como os seus padrinhos.
Kauê e Bequinha são apontados como os responsáveis por vários ataques registrados nas últimas semanas, na Serra, incluindo o que atingiu uma família e matou Alice Rodrigues, de 6 anos.
Tais disputas entre traficantes, que vêm sendo associadas ao PCV, voltaram a fazer vítimas na noite da última sexta-feira (3), ferindo duas crianças e dois adultos, também na Serra.
LEIA MAIS COLUNAS DE VILMARA FERNANDES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.
