No dia 27 do próximo mês será realizado o júri popular de uma mulher que foi acusada de motivar um suicídio. Uma tragédia familiar, marcada ainda por traição, que aconteceu no condomínio Aldeia da Praia, em Guarapari, em julho de 2013.
Juliete Ferreira Simões, de 34 anos, foi denunciada em 2014 pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES). O argumento foi o de que mesmo estando ciente do “profundo estado depressivo”, teria instigado ou induzido Rosana Zazari Alves a pôr fim à sua vida.
Pouco mais de um ano após os recursos de sua defesa serem negados, o Juízo da 1ª Vara Criminal de Guarapari, responsável pelo Tribunal do Júri, decidiu marcar a sessão de julgamento. “Julgo-o sanado e preparado para julgamento”, declarou em decisão do final do mês passado.
Caso controverso e raro
À Justiça o MP informou, quase dez anos após a sua denúncia, não ter encontrado provas que incriminem Juliete e pediu que ela fosse impronunciada, ou seja, que não fosse a julgamento.
A acusação de mais relevância no processo vem de uma suposta ameaça a Rosana, em uma ligação telefônica que teria partido de Juliete, onde ela teria dito à vítima “se mata que eu vou ficar com tudo que é seu”.
O advogado de defesa, Fábio Marçal, garante que a ameaça nunca foi comprovada. “O telefone da vítima não foi encontrado e a operadora de telefonia informou ao juízo que ele não estava ativo na época. Os telefones não existem e não há pessoas no processo que tenham ouvido esta ligação”, afirma.
A expectativa dele é de que haja absolvição. Relata que respeita a dor e a perda dos filhos de Rosana, mas destaca que sua cliente também é vítima. “O crime aconteceu há 12 anos. Se na época tivessem as tecnologias de hoje e as investigações que possibilitam, este caso nem teria chegado a este a momento”, pondera.
Pesquisa realizada por Marçal só encontrou três outras ações semelhantes no país, dos anos de 1968, 1981 e 1995.
Ele avalia que houve uma trama arquitetada pela família, que vivia um momento difícil no aspecto financeiro e com a mãe doente, e que não aceitava a separação. Pouco antes da morte os filhos discutiram com a mãe, que não aceitava uma internação.
Quem era a vítima
Rosana era ex-esposa de José Carlos Cruz Alves. No processo ele relata que há anos tentava se separar dela, com quem teve três filhos. Informou que não saiu de casa antes porque a ex ameaçava se matar. Foi neste contexto que ele conheceu Juliete, com quem manteve um relacionamento paralelo até sair de casa e formar uma nova família. O casal hoje tem dois filhos.
No processo é declarado que Rosana sofria há anos com depressão e que já tinha atentado contra sua própria vida em outras três ocasiões. Uma condição que foi seriamente afetada por fatores econômicos e judiciais em que sua família foi envolvida.
Rosana e José Carlos eram sócios-proprietários da TA Oil Distribuidora de Petróleo. Durante o governo José Ignácio Ferreira, a empresa esteve no centro de um escândalo envolvendo a acusação de recebimento de propina por parte do Executivo estadual.
Em CPI instaurada na Assembleia Legislativa para apurar as denúncias, o casal da TA Oil afirmou que chegou a pagar para conseguir o benefício fiscal. Essa denúncia foi um dos principais pilares da crise que levou ao desmoronamento da credibilidade do governo José Ignácio Ferreira. Com o decorrer das investigações, ao longo de quase uma década, os bens do casal acabaram sendo bloqueados, o que acentuou a crise familiar.
A defesa da família
Ao longo do processo a família de Rosana garante que houve instigação ao suicídio. Eles são representados por um assistente de acusação, o advogado Nicácio Pedro Tiradentes.
“Não há dúvidas de que houve instigação ao suicídio. Vamos fazer o possível para que a justiça seja feita”, assinalou.
LEIA MAIS COLUNAS DE VILMARA FERNANDES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.
