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"Paciência de Jó”: Podemos coloca Ramalho em banho-maria

Direção nacional do Podemos diz que não vai interferir sobre lançar ou não o ex-secretário ao Senado

Vitória
Publicado em 29/07/2022 às 22h44
Marcelo Santos e Coronel Ramalho
Marcelo Santos e Coronel Ramalho, defensores da candidatura avulsa ao Senado, durante convenção do Podemos. Crédito: Letícia Gonçalves

O ex-secretário estadual de Segurança Pública coronel Alexandre Ramalho saiu da convenção do Podemos, na noite desta sexta-feira (29), sem ouvir do partido se vai ser ou não candidato ao Senado.

Apesar de o presidente da legenda, Gilson Daniel, e o governador Renato Casagrande (PSB) terem garantido a ele, em abril, que o militar da reserva teria espaço para concorrer ao cargo, muitos obstáculos estão no caminho.

A convenção delegou à Executiva estadual do Podemos a decisão sobre candidaturas majoritárias, ou seja, qual vai ser o destino de Ramalho. O materlo deve ser batido até o próximo dia 5.

E o representante da direção nacional, o coordenador Roberto Siqueira, lavou as mãos. "A decisão é da direção estadual, que tem o respeito e o respaldo da direção nacional", afirmou à coluna, após a convenção.

Convenhamos, que, se a candidatura estivesse prestes a ser confirmada, a demora seria desnecessária.

O deputado estadual Marcelo Santos (Podemos), candidato à reeleição, é um dos defensores do lançamento de Ramalho. Na convenção, o parlamentar reforçou o apoio e afirmou que Ramalho tem "paciência de Jó".

O Podemos integra a aliança do socialista. Para lançar Ramalho, teria que ser de forma avulsa, sozinho, sem coligação e sem se juntar oficialmente ao time de Casagrande.

Para o chefe do Executivo estadual, não faz muita diferença. O Podemos não soma ao tempo de propaganda de TV da coligação. Somente os seis maiores partidos, como o MDB de Rose, entram na conta.

O problema é para o Podemos mesmo. O presidente estadual da legenda, Gilson Daniel, que andava “mergulhado”, sem dar entrevistas, falou com a coluna nesta sexta, na Câmara de Vila Velha, onde foi realizada a convenção.

Entre os entraves para lançar a candidatura avulsa de Ramalho estão a divisão de recursos do partido. Uma disputa ao Senado é cara.

"O partido tem financiamentos que precisam ser dialogados, a campanha majoritária tem um custo (...) Mas o Ramalho tem chances, sim, de ser candidato", ponderou Gilson Daniel.

"Nós queremos fazer material casado com o governador, com os candidatos estaduais que são da coligação dele. Esse é um peso também", complementou, apontando mais um problema para o partido se lançar avulsamente ao Senado.

O melhor para a legenda seria se Ramalho "descesse" para a chapa de candidatos a deputado federal.

"Essa decisão é do próprio Ramalho. Se a Executiva decidir pela coligação com Casagrande e não o lançamento da chapa avulsa, ele vai ter, claro, a oportunidade de disputar o cargo que ele quiser", contemporizou o presidente estadual.

As especulações são de que, sem Ramalho na chapa, o próprio Gilson Daniel, pré-candidato a deputado federal, correria o risco de não se eleger.

Ele nega: "Nós fazemos de um a dois com a chapa atual. As pessoas falam muito porque não sabem que tem ex-prefeitos candidatos a deputado federal nessa chapa. Não fazem conta com Marquinhos Assad, com Jones Cavaglieri, não fazem conta com Braz, presidente da Câmara de Cachoeiro, com Gedson Merízio (...) Queremos fazer dois deputados federais, mesmo que o Ramalho não esteja na chapa".

"Com o Ramalho, facilita muito. Mas, sem ele, a gente pode chegar a dois deputados federais", ratificou.

"Não existe hipótese alguma de eu ser candidato a deputado estadual, sou candidato a federal", respondeu Gilson Daniel ao ser questionado pela coluna sobre uma especulação que ronda o mercado.

A situação é chata, no mínimo, considerando que Ramalho, talvez ingenuamente, fiou-se à palavra dada em um momento, sabendo que as coisas mudam.

O outro convite que Ramalho recebeu, do União Brasil do deputado federal Felipe Rigoni, no entanto, também poderia não vingar.

O ex-secretário, em abril, poderia ter saído do Podemos e entrado no partido de Rigoni para ser o candidato ao Senado da chapa dele. O deputado, por sua vez, nem candidato ao governo do estado vai ser mais. E se aliou a Erick, apoiando este ao Senado.

Se a direção nacional do Podemos ficasse encarregada da decisão sobre a candidatura ao Senado no Espírito Santo, ao menos o climão interno no partido seria resolvido.

Gilson Daniel poderia dizer "olha, eu te dei minha palavra, mas a direção nacional é mais forte que eu. Infelizmente, você não vai poder concorrer ao Senado".

Mas o próprio Gilson diz que tudo vai ficar no âmbito estadual, que tem autonomia para bater o martelo sobre a questão, como o coordenador nacional ressaltou.

RAMALHO PARECE MAIS MALEÁVEL

O coronel sempre disse que é o Senado ou nada, ou seja, se não concorrer ao Senado, não vai ser candidato a cargo algum.

Nesta sexta, apesar de ter permanecido a maior parte do tempo com o semblante fechado na convenção, aparentando estar pouco à vontade com o "banho-maria" que o partido lhe impôs, deu uma declaração mais maleável.

A coluna quis saber se, negada a candidatura avulsa ao Senado, ele aceitaria disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.

"Hoje o meu foco é o Senado, mas abro o diálogo com o partido no momento que o presidente entender, que a Executiva entender", respondeu.

Sobre ter mesmo "paciência de Jó", como afirmou Marcelo Santos, Ramalho preferiu outras palavras: "Tenho perseverança, determinação".

O governador Renato Casagrande, a quem Gilson Daniel e Ramalho serviram como secretários, compareceu à convenção do Podemos, mas, ao menos publicamente, não interviu na contenda envolvendo Ramalho.

O ex-secretário de Segurança, que é apoiador de Jair Bolsonaro (PL) ao mesmo tempo que se alinha a Casagrande, poderia tirar votos do ex-senador Magno Malta (PL), aliado de primeira hora do presidente da República, que quer voltar ao Senado.

A pré-candidatura de Ramalho ajudaria, portanto, a minar o bloco adversário, liderado pelo pré-candidato ao Palácio Anchieta Carlos Manato (PL). E ainda competir com o discurso de "novidade" de Erick Musso.

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