Publicado em 12 de julho de 2021 às 20:31
Ao ser confirmado pelo presidente Jair Bolsonaro para o STF (Supremo Tribunal Federal), André Mendonça terá de enfrentar os atritos entre Planalto e Congresso, se aproximar de governistas e convencer a oposição do Senado de que será um ministro independente. >
Esses movimentos são fundamentais para ele ter seu nome aprovado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e no plenário da Casa. >
Nesta segunda-feira (12), Bolsonaro foi ao Supremo a convite do presidente da corte, ministro Luiz Fux. >
"Pedi que após reunião com o senhor ministro Fux fosse publicada indicação do senhor André Mendonça [para o STF]", declarou Bolsonaro a jornalistas. Questionado, o presidente disse ainda acreditar que Mendonça terá os apoios necessários para ser confirmado no Senado. >
>
A oficialização do nome do ministro da AGU (Advocacia-Geral da União) para ocupar a vaga de Marco Aurélio Mello na corte deverá ser publicada em edição extra do Diário Oficial da União ainda nesta segunda e ocorre em momento de tensão entre os Poderes provocada pelas recentes declarações golpistas de Bolsonaro. >
Embora Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, tenha demonstrado que vai adotar uma postura neutra durante o processo que confirmará ou não a indicação, os acontecimentos recentes se somam às ressalvas que alguns senadores têm em relação a Mendonça. >
Congressistas reconhecem a experiência e o currículo do AGU e ex-ministro da Justiça, mas temem que ele repita o estilo do ministro Kassio Nunes Marques, primeira indicação de Bolsonaro ao STF, que já se posicionou ao menos 20 vezes a favor do governo desde que chegou ao tribunal. >
Além disso, o nome de Mendonça enfrenta a resistência do presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (DEM-AP). A aliados ele teria manifestado preferência pelo ministro Humberto Martins, presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça). >
Senadores governistas também desejavam influenciar na escolha e defendiam nomes com mais habilidade política, como o do procurador-geral da República, Augusto Aras. >
Para tentar mudar esse cenário, Mendonça começou a se encontrar individualmente com senadores e com as principais bancadas antes mesmo de ter o nome confirmado de maneira oficial por Bolsonaro. Nessas conversas, ele tem deixado a impressão de ter um perfil moderado e aberto ao diálogo. >
Na semana de esforço concentrado do Senado, quando os congressistas estiveram presencialmente na Casa para votar as indicações do presidente às embaixadas e agências reguladoras, Mendonça aproveitou para tentar se aproximar dos senadores e viabilizar sua aprovação. >
Assuntos polêmicos, como religião, não predominaram nesses primeiros encontros com os congressistas. >
Em uma reunião com membros da bancada do PL, DEM e PSDB, o ex-ministro da Justiça teria se limitado a dizer que os seus princípios religiosos o permitiam "ser uma pessoa que busca ser justa, ouvindo todos os lados para tomar decisões". >
Mendonça também conversou com o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). O congressista avalia que, até o momento, não há nada que desabone o indicado, mas ressalta que ele deverá enfrentar uma sabatina difícil na CCJ. >
"Eu recebi o ministro no meu gabinete. Eu deixei claro que o AGU Mendonça, que atuou com destaque na questão da corrupção, tem o aval para ser ministro do STF. O ministro da Justiça Mendonça do governo Bolsonaro, não. Precisamos ter a certeza de que ele será independente. Seguramente, será uma sabatina dura, até porque alguns senadores defendem outros nomes", afirmou. >
Outro senador que recebeu Mendonça foi Lasier Martins (Podemos-RS), autor de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que muda a forma de escolha de ministros do STF. >
Segundo Martins, o indicado se manifestou a favor de alguns pontos da proposta, como o que limita os mandatos dos membros da corte, o que agradou. >
Atualmente, o ministro pode ficar no cargo até completar 75 anos, como foi o caso de Marco Aurélio. >
Na oposição, um dos receios é que Mendonça aja como um ministro "terrivelmente evangélico" -termo usado por Bolsonaro em diversas ocasiões- , atendendo apenas a causas do presidente e de agremiações religiosas. Nesta semana, ele deve se reunir com a bancada do PT. >
Mendonça é pastor da Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília. Álvaro Dias (Podemos-PR) defende que a religião do indicado não seja determinante para aprová-lo ou não. >
"Até agora, não vejo nada que o descredencie. Religião não está em xeque. Podia ser um católico, judeu, ateu. Às vezes, o presidente extrapola nas suas falas, mas o importante é ele [o indicado] ser leal às instituições, ao Estado democrático de Direito", disse. >
Bolsonaro, porém, está otimista. >
"Eu converso sempre com senadores, o André também tem feito a peregrinação no Senado. Na contagem dele -mais dele do que minha, porque ele está mais ligado com os senadores- existe sim uma grande possibilidade de ser aceito. E, ao que tudo indica, a cada dia que passa ele ganha mais adeptos", disse. >
Bolsonaro classificou ainda Mendonça como "extremamente evangélico" e reafirmou ter pedido ao indicado que, caso aprovado, inicie, uma vez por semana, sessões no Supremo fazendo uma oração. >
"Creio que os demais ministros do Supremo, caso ele seja aprovado, não vão se opor a isso. Muito pelo contrário, vão se sentir com alma bem mais leve para fazer seus julgamentos." >
A primeira etapa da avaliação do nome de Mendonça será a sabatina na CCJ. No colegiado, com 27 membros, ele será submetido à votação secreta. >
Para aprovação, é necessária maioria simples. Mesmo se for rejeitado, a indicação é submetida ao plenário do Senado, onde necessitará da maioria absoluta (41 dos 81 senadores). A votação também será secreta. >
Kassio, o último indicado ao STF, teve o nome aprovado por 22 votos a 5, na CCJ. No plenário, o placar ficou em 57 a 10. >
Antes de Kassio, em 2017, Alexandre de Moraes foi aprovado no Senado por 55 votos a favor e 13 contra, sem abstenções. Na CCJ, foi aprovado por 19 votos a 7, após 11 horas e meia de sabatina. O ministro foi indicado por Michel Temer (MDB). >
Já em 2015, Luiz Edson Fachin, indicado por Dilma Rousseff (PT), foi aprovado em plenário com 52 votos favoráveis ante 27 contrários. Na CCJ, após 12 horas e 39 minutos, obteve 20 votos a 7. >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta