Publicado em 12 de julho de 2021 às 14:51
O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), declarou nesta segunda-feira (12) que "está cada vez mais claro" que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cometeu crime de responsabilidade por não ter atuado frente às denúncias de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.>
Aziz se referia especificamente ao fato de o presidente não ter respondido as indagações sobre as denúncias que teriam sido levadas a ele pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e por seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda.>
Em depoimento à CPI, os irmãos confirmaram que se encontraram com o presidente no Palácio do Alvorada, em março, quando levaram ao presidente as denúncias de irregularidades na compra da vacina indiana, desenvolvida pela Bharat Biotech e intermediada no Brasil pela empresa Precisa Medicamentos. A cúpula da CPI encaminhou na semana passada uma carta a Bolsonaro pedindo que ele se manifeste sobre a hipótese de ter conhecimento das denúncias de irregularidades e quais medidas adotou.>
"E o crime de responsabilidade, que é a prevaricação, ele não respondendo [a respeito das denúncias dos irmãos Miranda], então cada vez fica mais claro. E ele mesmo admite, segundo uma entrevista à Rádio [Gaúcha], segundo nós ouvimos 'eu recebo mais de 100 pessoas por mês e não tudo eu encaminho'", afirmou Aziz, em entrevista à Rádio Eldorado nesta segunda-feira.>
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"Se não é uma coisa grave um deputado federal levar uma denúncia para o presidente da República, com um servidor de carreira, falando que tinha indícios de irregularidades na compra da vacina Covaxin e o presidente não toma nenhuma providência, se isso não for crime de responsabilidade, de prevaricação, então nós temos que mudar a Constituição, as leis", completou.>
Em uma transmissão ao vivo em suas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não iria responder aos questionamentos da cúpula da CPI sobre as denúncias do deputado federal Luis Miranda e seu irmão.>
"Caguei para a CPI. Não vou responder nada", disse o presidente.>
Aziz ainda sugeriu de forma irônica na entrevista que o presidente deixe de dar passeios de moto pelo país para analisar as denúncias de irregularidades, uma vez que o combate à corrupção foi uma de suas bandeiras de campanha.>
"Agora é sério ele dar uma declaração dessas, de que ele recebe mais de 100 pessoas por mês. Então imagine quantas denúncias ele está recebendo e não está encaminhando por falta de tempo", afirmou>
"Então eu posso sugerir ao presidente que ele tire um dia por semana, talvez todo sábado, quando ele for passear de moto, ele tire aquele dia e encaminhe todas as denúncias contra o governo dele aos ministros dele responsáveis pelas pastas. Eu tenho certeza que o Brasil iria ficar muito mais feliz sabendo que o presidente dá transparência ao seu governo", completou.>
O presidente da CPI ainda afirmou que o líder do governo na Câmara Ricardo Barros (PP-PR) segue pressionando para prestar depoimento, para tratar das denúncias, mas que caberia ao presidente se manifestar, uma vez que ele teria sido procurado por Luis Miranda.>
Segundo relatou o parlamentar, Bolsonaro, ao ouvir o relato das irregularidades, teria dito que era um "rolo" de Ricardo Barros.>
"Hoje até vi ele [Barros] postando de que está sendo massacrado e não tem o direito de se defender. Ô deputado Ricardo Barros, peça para o presidente para fazer uma nota de desagravo para o senhor dizendo que o deputado Luis Miranda é o maior mentiroso do Brasil e que ele nunca sacou nenhum tipo de adjetivo sobre o senhor", disse Aziz durante a entrevista.>
"Não dá para inverter as coisas achando que a CPI está acusando o deputado Ricardo Barros. Quem está acusando o deputado Ricardo Barros, segundo o deputado Luis Miranda, foi o presidente Jair Bolsonaro que teria dito naquele sábado, dia 20 de março, quando o deputado e o irmão dele levaram umas denúncias que o presidente até hoje não tomou nenhuma providência", completou.>
Além do crime de responsabilidade, Aziz afirmou que a CPI avança para comprovar as responsabilidades do governo federal em omissões no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.>
"Acho que nós temos duas questões muito sérias já: crime contra a vida e crime sanitário. Esses crimes que foram cometidos não tem volta. [Foram adotados] Tratamento precoce, imunização de rebanho, propagação de remédios que não tinham efeito nenhum", disse.>
"A tipificação do crime será feita através do relatório, votado pela comissão. Mas tem muita coisa aí que não ficará sem resposta para a sociedade", completou.>
Nesta semana, a CPI vai voltar a carta para a apuração das acusações de irregularidades na negociação de vacinas. Na terça-feira (13), vai prestar depoimento Emanuele Medrades, que é representante da Precisa Medicamentos. Senadores investem nesse depoimento, para tentar contornar o habeas corpus que foi obtido pelo sócio-administrador da empresa, Francisco Maximiano, que acabou portanto tendo seu depoimento cancelado.>
A suspeita sobre a compra de vacinas veio à tona em torno da negociação da Covaxin, quando o jornal Folha de S.Paulo revelou no último dia 18 o teor do depoimento sigiloso do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, que relatou pressão "atípica" para liberar a importação da vacina indiana.>
A partir do caso Covaxin, a Folha de S.Paulo chegou a outro caso de suspeitas de irregularidades, envolvendo a empresa Davati Medical Supply.>
A reportagem localizou Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que se apresentou como vendedor da empresa.>
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo ele disse que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, pediu propina de US$ 1 por dose para fechar contrato. As acusações foram repetidas em depoimento à CPI da Covid. Dias foi exonerado.>
Na quarta-feira, vai depor o reverendo Amilton Gomes de Paula, fundado da ONG Senah. Ele teria sido o responsável por intermediar o contato entre Dominghetti e representantes do governo federal.>
Na quinta-feira, será a vez do tenente-coronel Marcelo Blanco, que participou do encontro em que teria acontecido o pedido de propina. Na sexta-feira, será a vez da oitiva de Cristiano Carvalho, representante da Davati no Brasil.>
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