Publicado em 4 de maio de 2020 às 21:25
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) irá aumentar a participação de militares em postos-chave no segundo e terceiro escalões para atenuar a entrada de indicados políticos do chamado Centrão. O núcleo duro do Palácio do Planalto - formado pela ala militar e pelos filhos do presidente - desenha um governo ancorado nas Forças Armadas.>
Desde os primeiros atritos com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Bolsonaro tem deixado clara sua insatisfação com parte dos ocupantes da Esplanada chamados por ele de estrelas.>
A saída precoce de Sergio Moro da Justiça acelerou o plano de reformulação ministerial arquitetada para o pós-crise da pandemia do novo coronavírus. Para isso, Bolsonaro vai se firmar em quem confia, os militares.>
Hoje, os fardados controlam 8 dos 22 ministérios e estão em 1.349 cargos do Executivo. Isso não leva em conta outros 881 postos ocupados por membros das três forças no Ministério da Defesa.>
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Além de manter o Planalto com generais em três das quatro pastas do prédio, novos oficiais serão colocados em posições estratégicas em ministérios para ajudar na contenção de futuras crises.>
O Ministério da Infraestrutura, que está na mira do Centrão, deverá receber novos militares para postos-chave como nas companhias ligadas aos portos.>
A avaliação dentro da pasta é que algumas companhias no Nordeste deverão ser cedidas aos novos aliados do governo. Porém, esses cargos serão reforçados com militares.>
Bolsonaro também sinalizou a assessores que quer mais nomes das Forças Armadas no Ministério da Justiça. A pasta passou a ser comandada na quinta-feira (30) pelo ex-AGU (advogado-geral da União) André Mendonça, após a saída de Moro. O presidente analisa se vai desmembrar a Segurança Pública da pasta, mas, até lá, quer ver outros militares no setor.>
Com a saída de Moro, voltou-se a discutir a recriação da pasta, que poderá acabar nas mãos do PP, que já mostrou interesse, ou de um velho aliado: o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), fiel ao presidente e com bom trânsito no centrão.>
Atualmente, o único remanescente da gestão do ex-ministro é o secretário Nacional de Segurança Pública, general Guilherme Theophilo.>
O primeiro lugar a receber o choque de gestão no estilo Bolsonaro foi o Ministério da Saúde. O general Eduardo Pazuello, indicado pelo próprio presidente, assumiu a Secretaria-Executiva da pasta, o segundo cargo mais importante da Saúde no país, para ajudar o recém-empossado Nelson Teich.>
A transição entre Mandetta e Teich já havia sido conduzida por outro militar, o contra-almirante Flávio Rocha. Ele é chefe da SAE (Secretaria de Assuntos Especiais), ligada diretamente à Presidência.Outros dois nomes militares podem ascender na pasta nas próximas semanas.>
Na visão do presidente, a presença dos fardados evita o que mais o incomoda: insubordinação e protagonismo.>
Auxiliares de Bolsonaro defendem gradualmente uma outra mudança na equipe, tirando força dos chamados "políticos clássicos" e, até, de algumas das estrelas como o ministro Paulo Guedes (Economia).>
Recentemente, Guedes entrou em choque com o núcleo militar - sobretudo os generais da reserva Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo)- por discordar com o Pró-Brasil, plano criado pelos militares para reativar a economia no pós-crise.>
O "posto Ipiranga", contudo, parece manter força no governo por ser agora o principal fiador de Bolsonaro. A aliados o presidente diz que tem um apreço pessoal por Guedes.>
Pesa a favor do ministro da Economia o fato de empresários bolsonaristas terem defendido seu nome em almoço com o presidente na quarta-feira (29) no Planalto.>
O núcleo militar recuou momentaneamente da investida sobre Guedes, mas segue defendendo a Bolsonaro que a crise é um momento de elevar gastos, e não de poupar. O presidente, por ora, avaliou a aliados que era arriscado perder dois dos principais pilares do governo ao mesmo tempo.>
As mudanças deverão atingir um dos poucos aliados políticos que integravam o núcleo-duro de Bolsonaro durante a campanha, Onyx Lorenzoni, hoje à frente do Ministério da Cidadania. Onyx caiu em desgraça com o presidente.>
Sem conseguir ser o articulador político que Bolsonaro queria no governo, quando esteve na Casa Civil, o ministro trouxe novo desgaste desnecessário ao governo ao anunciar que iria pagar duas parcelas do benefício às vítimas de Covid-19, sem ter dinheiro em caixa.>
A gestão dele na crise tem sido criticada por militares e, até, pelos filhos do presidente, que não têm a mesma confiança no ministro que o presidente. Bolsonaro usou uma live para se explicar à população e exigiu de Braga Netto um pito em Onyx.>
Aos ideológicos deverá ser mantido o espaço, para manter o contentamento da militância bolsonarista e dos filhos do presidente, em áreas específicas como Mulher, Família e Direitos Humanos, com Damares Alves, e Relações Exteriores, com Ernesto Araújo.>
O único que pode perder espaço é Abraham Weintraub, na Educação. O ministro sofria desgaste desde o ano passado e a pasta é cobiçada por todos os partidos do centrão. Contudo, não há expectativa na mudança da política atual do ministério.>
Entre os políticos devem permanecer, por enquanto, Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), que se aproximou dos militares e está sendo fiador do Centrão em alguns cargos na pasta.>
O movimento de Marinho foi visto como uma boia de salvação após ele ter ido para o embate direto com Guedes sobre o plano Pró-Brasil.>
Há uma pressão também para a substituição de Tereza Cristina (Agricultura) por Nabhan Garcia na pasta. Hoje é secretário de Assuntos Fundiários.>
A mudança agrada a ala mais ideológica do governo que reclama do alinhamento da ministra com a China. Tereza Cristina criticou a Bolsonaro os ataques feitos pelo filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e membros do Executivo ao governo chinês.>
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