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Publicado em 15 de outubro de 2025 às 10:14
Enquanto o Brasil se prepara para sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) no próximo mês de novembro, em Belém (PA), comunidades rurais do Maranhão, que ficam na zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia, já têm na rotina práticas de resistência, tradição e sustentabilidade que vão pautar o evento global. >
Na Estrada do Arroz, nos arredores de Imperatriz, no Maranhão, a luta pela terra e pelo sustento ganha força através da resiliência das mulheres, que mantêm vivas as cadeias produtivas do extrativismo sustentável, principalmente do coco do babaçu, palmeira típica da região.>
Tradição passada de mãe para filha, a quebra do coco babaçu é protagonizada por mulheres. Zuleide Sousa começou nessa prática aos 13 anos, como filha e neta de quebradeira de coco. “Criei sete filhos sozinha. Não é um trabalho fácil, mas é gratificante”, conta. >
O processo de quebra do coco exige força, mas também delicadeza. As mulheres sentam no chão e seguram firmemente a machadinha com a lâmina virada para cima. O coco, bem menor que o de praia, é encaixado na parte metálica da ferramenta e, com precisão, golpeado até se abrir e as amêndoas serem retiradas. Cicatrizes nas mãos e nos dedos são marcas comuns desse ofício.>
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O protagonismo dessas mulheres transcende a geração de renda: é fundamental para a resistência ambiental. A luta para evitar a derrubada das palmeiras de babaçu foi o propósito central da fundação de suas associações, garantindo a permanência da floresta e da própria cultura. Uma delas é a Pindowa, da região da Estrada do Arroz.>
A partir do babaçu, uma série de produtos são feitos. Da amêndoa, é fabricado óleo (para cozinhar), óleo de coco torrado, conhecido como azeite de babaçu, e também farinha, a partir da segunda camada do coco, o mesocarpo.
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Para agregar valor, o grupo de mulheres também tem produzido chaveiros, centros de mesa, cestaria e sabonetes com misturas do coco e de outros produtos, como buriti e lavanda. Os artesanatos também contam com elementos da região amazônica, como o açaí.
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“Nos desafiamos a fazer novos produtos para agregar valor. Um litro de azeite de babaçu é vendido por R$ 30. Pelo mesmo valor, vendemos dois chaveiros, em que não vai nem um coco inteiro. E para fazer 1 litro de azeite precisamos de quatro quilos de coco”, conta Mauriane Sobrinho, diretora financeira da cooperativa Pindowa.>
Nada do fruto é desperdiçado. Após a quebra, as sobras viram carvão, que é usados na casas das famílias das mulheres extrativistas. Antes da quebra, o trabalho vem da colheita do coco. Como as palmeiras estão espalhadas em áreas onde dividem espaço com pecuária e outras culturas, uma lei garante acesso livre para retirada do coco, mesmo dentro de propriedades privadas.>
“Me orgulho de ser quebradeira de coco, porque, além de ter essa renda, também ajudo a preservar o meio ambiente. Ver a floresta de babaçu de pé foi uma luta que nós travamos quando a associação foi fundada, para evitar a derrubada de palmeiras. Não queremos que isso acabe", destaca Terezinha dos Santos Cruz, quebradeira de coco desde os 10 anos.>
Bárbara Sousa, presidente da cooperativa, é filha de Zuleide e começou a liderar outras mulheres na busca pela manutenção da tradição passada de mãe para filha. A cooperativa tem 27 associações em três territórios, com um público de 1.200 pessoas atendidas. >
“A meta da cooperativa é poder trazer mais pessoas para nossa base e comercializar nosso produto em rede de supermercado, buscando outros parceiros", planeja Bárbara.>
Na zona rural de Imperatriz, outra comunidade de mulheres extrativistas também tem agregado valor aos seus produtos a partir da inovação. Na comunidade KM 1700, o foco está na extração e no beneficiamento do açaí. São mais de 300 famílias que têm renda integralmente dependente do fruto.>
Elcilene do Nascimento Alencar, representante da comunidade, explica que o açaí nativo só é produzido por seis meses. Então, para garantir renda e trabalho durante todo o ano, o grupo desenvolveu o Coffi, uma bebida semelhante ao café feita a partir do caroço do açaí. >
Os projetos da comunidade têm inspirado a juventude. Depois de ver o trabalho da mãe, a filha de Elcilene desenvolveu na escola dois tipos de borracha a partir da fibra do açaí. Uma delas é capaz de apagar escritas feitas à lápis e a outra está sendo pesquisada para aplicações como solado de sapato. Inclusive, esse projeto será apresentado em uma feira científica no Chile. >
A sustentabilidade também está ligada ao fortalecimento da economia solidária. As parcerias, como a estabelecida com a Suzano, trouxeram estrutura e maquinário novo, a exemplo do moinho para produção da farinha, que melhorou a saúde das quebradeiras. No ano passado, a empresa investiu R$ 28 milhões em programas sociais voltados para a redução da pobreza, como os do extrativismo no Maranhão. Até agora, os projetos ajudaram a tirar 120 mil pessoas da linha da pobreza. A meta é chegar a 200 mil até 2030.>
Além das quebradeiras de coco, na região da Estrada do Arroz também há apoio à agricultura familiar. Pequenos produtores da região fornecem hortaliças, como alface, couve e rúcula, além de abóbora e melancia, para serem servidos no restaurante da fábrica de celulose em Imperatriz. >
Na Associação Frei Tadeu, com sede em Ribamar Fiquene, no Maranhão, é desenvolvido o projeto Sumaúma Sustentável, projeto apoiado também pela Suzano que promove geração de renda para famílias em situação de vulnerabilidade econômica. Desde o início do ano, uma série de cursos, principalmente para fabricação de alimentos, são oferecidos para que famílias da região possam complementar a renda.>
O projeto Sumaúma Sustentável tem 149 famílias cadastradas, com o objetivo de fortalecimento da renda da mulher no grupo familiar. Em parceria com o Senar e a Universidade Federal do Maranhão, são oferecidos cursos na área de queijaria, salgados, melipolicultura, compostagem, apicultura e também corte e costura. >
A repórter viajou ao Maranhão a convite da Suzano.>
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