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Aplicativo vai mapear locais de agressão contra mulheres na Grande Vitória

Aplicativo vai mapear locais de agressão contra mulheres na Grande Vitória

Programa avisará as mulheres que se cadastrarem quando se aproximarem de um local não seguro, onde haja algum registro de violência apontado por outra vítima

Publicado em 23 de abril de 2021 às 02:00

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Logomarca do aplicativo
Aplicativo "Não me calo!" vai mapear locais de violência contra a mulher. (Divulgação)

Não me calo! Este é o nome do aplicativo, lançado na última segunda-feira (19), que vai ajudar a mapear os locais onde as mulheres forem vítimas de algum tipo de violência na Grande Vitória. E todas que se cadastrarem no programa vão ser avisadas, por um alerta, sempre que se aproximarem de um ponto não seguro, onde haja algum registro já apontado por outra vítima.

A proposta é da artista plástica Geisa Silva, que já desenvolveu outros projetos relacionados à violência contra a mulher. Um deles foi o Mapa da Violência contra a Mulher, onde foram identificados 400 pontos em Vitória onde as mulheres foram alvo de algum tipo de violência. 

“A ideia do aplicativo surge para aprofundar os efeitos do mapa, além de ampliar e democratizar seu alcance, tendo em vista que outras ocorrências poderão ser registradas, ficando disponíveis à consulta rápida e prática pela tela do celular”, relata.

> Para baixar o aplicativo, clique AQUI

COMO FUNCIONA

Geisa explica que o aplicativo consiste em um mapa onde as vítimas vão marcar o local em que sofreram algum tipo de violência. Precisam ainda fazer um breve relato sobre a situação que vivenciaram naquele ponto. No programa já estarão inseridos os 400 pontos já identificados pela artista no Mapa da Violência contra a Mulher.

Desta forma, todas as mulheres que se cadastrarem no aplicativo e ativarem o localizador de seus celulares, vão receber um alerta quando se aproximarem de um ponto onde outra mulher sofreu violência, para que fique atenta.

“Além de servir como um alerta prático, o aplicativo cumpre uma função informativa e estatística, refletindo de maneira prática os casos de violência a partir dos registros das próprias mulheres, mesmo aquelas que não se sentem em condições de fazer o registro policial da violência”, observa Geisa.

A artista destaca que nem todos os casos de violência contra a mulher são denunciados à polícia e com o aplicativo ela estima que será possível alcançar um número bem maior de vítimas. 

"A facilidade do acesso digital poderá contribuir para a desburocratização e ampliação dos relatos de violência, mesmo dos casos que não constam nos registros policiais. Queremos despertar a atenção para a quantidade de episódios de violência, que de forma humanizada vão ser indicados pelos relatos das vítimas, sendo não só números estatísticos, mas pessoais, próximos, com um caráter mais afetivo e pontual", explica Geisa.

TRAJETO INSEGURO

Para caminhar por uma cidade, as mulheres lançam mão de várias estratégias e assim evitar algum tipo de violência, observa a artista: “São considerados o horário, estar sozinha ou acompanhada, rua movimentada ou deserta, rua iluminada ou sem iluminação, além do que já ouviu sobre determinado local. Até uma mudança de rota causada por medo é um tipo de agressão”.

Também impressionou Geisa a quantidade de situações que estão deixando de ser vividas pelas mulheres para evitar a violência. "Elas deixam de fazer muitas coisas por serem mulheres. Deixam de passar por ruas, visitar certos locais, de vivenciar e experienciar o que desejarem por serem mulheres. São muitas as estratégias que a mulher tem que criar para fugir de possíveis violências. Isto choca", relata Geisa.

Uma situação diferente em relação aos homens. “A menina é educada com cuidados que os pais não teriam com o filho. Desde muito nova sempre ouvimos as mães com vários cuidados sobre aonde ir, horários, com quem sair, atitudes. A preocupação do homem, quando ocorre, é com assalto. As mulheres pensam no estupro, pensam em nosso corpo, na integridade”, assinala.

Intervenção urbana feita em Jardim da Penha, Vitória,  mostrando pontos de violência contra a mulher. Faz parte do Mapa da Violência
Intervenção urbana em Vitória, mostrando pontos de violência contra a mulher, realizada por Geisa Silva, em 2019. (Geisa Silva)

CARTAZES PELA CIDADE

Uma intervenção urbana foi realizada em 2019 pela artista mostrando mais de 400 locais onde as mulheres sofreram algum tipo de agressão em bairros de Vitória. Nos pontos foram afixados cartazes com o depoimento de uma mulher.

Cerca de 200 mulheres foram ouvidas por Geisa no Centro de Vitóriae outras 200 em Jardim da Penha e no campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Os depoimentos foram colhidos nas ruas ou via on-line. A partir das informações, ela pode elaborar o Mapa da Violência contra a Mulher em duas versões, uma para o Centro e outra para a região de Jardim da Penha.

As situações de alerta, marcadas em amarelo, referem-se às situações em que as mulheres deixaram de frequentar alguns locais por medo. Já em vermelho estão marcadas as agressões, sejam elas físicas, morais, emocionais, psicológicas ou patrimoniais, sofridas pelas vítimas.

Mapa da Violência contra a mulher, no Centro de Vitória, feito pela artista plástica Geisa Gomes
Mapa da Violência contra a mulher, no Centro de Vitória, feito pela artista plástica Geisa Silva. (Geisa Silva)

As informações, disponíveis no Instagram, serviram de base para o projeto do aplicativo. Um perfil, segundo a artista, que será alimentado agora com as informações sobre a violência contra a mulher. “Vamos informar sobre os tipos de violência, tirar dúvidas das mulheres”, explica.

Dois anos após realizar o projeto, Geisa avalia que pouco mudou ou avançou quando o assunto é a violência cotidiana contra as mulheres. “Não só não mudou, mas a violência esta silenciosa, acontece nas casas, e as mulheres ficam impossibilitadas de relatarem as situações. Muitas têm filhos, outras sem emprego, situações que dificultam ainda mais uma tomada de atitude por parte delas”, pondera.

NOVAS INTERVENÇÕES PELA CIDADE

A expectativa da artista plástica é de que três semanas após o lançamento do aplicativo será possível ter relatos que permitam a realização de uma nova intervenção urbana, agora nas cidades da Grande Vitória.

A proposta é que nos locais físicos das ocorrências registradas pelas mulheres no aplicativo seja feita a colagem de adesivos que despertem a percepção de quem passa por aqueles pontos. Nos adesivos afixados constará a logomarca do projeto e a indicação do aplicativo por meio de um código QR (QR Code).

“Por ele será possível acessar direto a nossa página, um espaço para as mulheres poderem fazer o relato das agressões. É também um meio para que mulheres consigam alertar umas às outras em relação aos locais onde sofreram algum tipo de violência”, assinala.

O aplicativo foi criado com o apoio da Lei Aldir Blanc, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult). Entre os anos de 2014 e 2015, a artista desenvolveu o projeto Mapa do assédio, no Paraná, onde residia, à época. Também é autora de outros projetos, como “Em números”, onde mostra que as mulheres não são apenas dados estatísticos.

Intervenção urbana feita em Jardim da Penha, Vitória, mostrando pontos de violência contra a mulher. Faz parte do Mapa da Violência(Geisa Silva)

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