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Ansiedade: entenda como esse transtorno se manifesta no corpo

Ansiedade: entenda como esse transtorno se manifesta no corpo

Distúrbio de ordem mental que se tornou um fenômeno coletivo na pandemia de Covid-19 pode ter sintomas físicos, atingindo até crianças e adolescentes

Publicado em 25 de julho de 2022 às 11:30

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Ansiedade em excesso faz mal e precisa de tratamento quando afeta o dia a dia da pessoa. (Shutterstock)

Ansiedade não é um problema novo. Pelo contrário. É um velho conhecido dos profissionais da saúde mental. Mas a pandemia de Covid-19, que espalhou medo e insegurança em níveis quase nunca antes vistos, deu força para que ela passasse de um transtorno individual a uma espécie de crise coletiva.

Como uma pandemia dentro da pandemia, só que algo marcado por um adoecimento psíquico generalizado, que atinge milhões de pessoas em diferentes partes do planeta, sobretudo os grupos mais vulneráveis da sociedade. Um sofrimento para a mente e para o corpo.

Pesquisas recentes, como uma realizada em 2020 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com 7 mil crianças e adolescentes, apontam esse fenômeno. De acordo com o resultado, um quarto das pessoas desse grupo teve sinais de ansiedade.

O QUE É A ANSIEDADE?

O médico psiquiatra Rodrigo Eustáquio explica que a ansiedade é um sentimento natural do ser humano, assim como a felicidade ou a tristeza. Por isso, a princípio, não é preciso tratar. "Ela pode se manifestar como uma preocupação, uma aflição, um pensamento intrusivo, uma angústia", descreve ele.

Ou seja, é esperado sentir certa apreensão e até agonia nos dias que antecedem uma prova do vestibular ou uma entrevista de emprego. É normal ficar ansioso antes da tão sonhada viagem, por exemplo. O sinal de alerta acende quando essa sensação não passa e afeta o dia a dia da pessoa. E começa a chamar a atenção dos estudiosos quando atinge tanta gente ao mesmo tempo.

"A Organização Mundial da Saúde estima que o primeiro ano da pandemia tenha aumentado em 25% a incidência de quadros de ansiedade e depressão na população", aponta o psiquiatra.

SINAIS

Há uma série de manifestações físicas da ansiedade. Falta de ar, taquicardia, sudorese, enxaqueca, insônia, enjôo, diarréia e tontura são apenas algumas delas. "Esses sinais podem aparecer de forma distinta, variando de pessoa para pessoa. Umas podem sentir vários sintomas ao mesmo tempo. Outras, apenas um", destaca Rodrigo Eustáquio.

Mesmo assim, não é tão simples detectar. O diagnóstico, diz o psiquiatra, se dá por exclusão. 

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Se a pessoa acorda no meio da noite com palpitação, dor no peito, falta de ar, ela deve ser examinada. Afastadas as causas cardiovasculares, pode-se concluir que se trata de um quadro de ansiedade

Rodrigo Eustáquio
Médico psiquiatra
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Além de provocar esses sintomas, a ansiedade pode piorar outras condições, como aumentar a pressão arterial, por exemplo. Pode também intensificar o quadro de quem já sofre com dores de cabeça, como observa o neurologista Luiz Felipe Lucrécio.

"Enxaqueca, insônia e ansiedade, apesar de serem doenças distintas e de poderem ocorrer isoladamente, são frequentemente associadas. Não digo que uma coisa cause a outra, mas, se somam."

De acordo com Lucrécio, pacientes com enxaqueca acabam agravando o quadro por conta da ansiedade. 

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A ansiedade pode causar insônia, levando à privação de sono de qualidade, o que acaba piorando a dor de cabeça, deixando o paciente mais irritado e mais ansioso. Acaba virando uma bola de neve

Luiz Felipe Lucrécio
Neurologista
Aspas de citação

Essa agonia sem fim pode culminar em transtornos alimentares, como a compulsão, que leva a pessoa a comer mais, de forma exagerada, ou a anorexia nervosa e bulimia, em que a pessoa deixa de comer.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Nem os pequenos foram blindados. "Eles sofreram múltiplos impactos pela Covid-19. No âmbito social, acadêmico, financeiro, emocional. O isolamento afastou as crianças e os adolescentes da escola, prejudicando a aquisição de conhecimento e o lado socioafetivo. Sem falar das perdas de entes queridos, como pais, avós, tios. Isso aumentou a predisposição aos transtornos mentais de forma precoce", afirma Eustáquio.

A ansiedade é ainda mais preocupante nas crianças e adolescentes, segundo o especialista. "Isso porque eles não exteriorizam os sentimentos como os adultos. Acabam manifestando isso de forma indireta, com queda no rendimento escolar, dificuldades no sono, na alimentação, na interação social".

Sem uma intervenção de um especialista, esses quadros podem levar a suicídio, automutilação.

IMPACTO NOS DENTES

Dentistas também passaram a se ocupar mais dos pacientes com esse tipo de desordem emocional, que agora rangem ou apertam mais os dentes, a ponto de quebrá-los. O chamado bruxismo não poupou nem os mais jovens.

"Esse fenômeno tem aumentado de forma significativa em crianças e adolescentes, em especial a ansiedade excessiva. Isso tem resultado em mais casos de bruxismo e apertamento diurno. E muitos reclamam de dores de cabeça e ouvido", afirma a cirurgiã dentista Daniela Feu.

Daniela Feu é cirurgiã dentista e afirma que ansiedade pode refletir nos dentes
Daniela Feu é cirurgiã dentista e afirma que ansiedade pode refletir nos dentes. (Divulgação)

Novamente, um problema leva a outro. "O estresse diminui a imunidade, alterando a mucosa bucal e causando problemas como aftas e herpes. Além disso, a depressão resulta muitas vezes em higiene precária ou inexistente, o que aumenta muito o índice de lesões cariosas ou agrava as doenças periodontais", diz Daniela.

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O grande problema é o paciente identificar que precisa da ajuda de um cirurgião-dentista e buscar orientação, porque muitas vezes ele perde a noção de autocuidado

Daniela Feu
Cirurgiã dentista
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Segundo ela, o uso prolongado de medicações psicotrópicas tem como efeito colateral a boca seca, que aumenta o índice de cárie e também pode estimular o bruxismo noturno dependendo de sua composição.

"O tratamento das consequências, como fraturas em dentes ou restaurações, é relativamente rápido, mas o controle do bruxismo requer acompanhamento mais prolongado e será um tratamento integral, que vai envolver também o controle das questões emocionais da criança, pesquisa das condições respiratórias, refluxo, estabelecimento de rotina de sono, limitação do uso de eletrônicos, etc. Além disso, existem as placas estabilizadoras noturnas que irão proteger os dentes e reduzir a intensidade de contração muscular, melhorando os sintomas e evitando danos maiores", frisa a cirurgiã dentista.

COMO TRATAR?

O psiquiatra Rodrigo Eustáquio reforça que o tratamento da ansiedade deve começar o quanto antes e envolve apoio familiar, muito diálogo e mais de um especialista.

"É algo muito estigmatizante. Então, não se pode culpar a pessoa. Tem que ter diálogo. E o tratamento deve contar, na maioria das vezes, com psicólogo, psiquiatra, nutricionista. Nos casos mais moderados a graves, pode ser necessário usar medicação", orienta o médico.

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