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É assistente social da Polícia Federal no Espírito Santo e mestre em Segurança Pública (UVV)

Ansiedade e esgotamento mental devem ser encarados sem estigma

Como se não bastasse tanta vulnerabilidade, no Brasil vemos medidas de desmonte do SUS e da Política Nacional de Saúde Mental

  • Gegliola Campos da Silva É assistente social da Polícia Federal no Espírito Santo e mestre em Segurança Pública (UVV)
Publicado em 03/01/2022 às 14h00

O “Janeiro Branco” é uma campanha dedicada a chamar atenção para o cuidado com a saúde mental; momento muito oportuno, já que o primeiro mês do ano estamos comprometidos com propósitos e metas para os próximos 365 dias.

Levando em conta o ano estressante que tivemos, com pandemia, crise econômica, várias manifestações de intolerância, aumento da desigualdade e da pobreza, construir estratégias individuais e coletivas de atenção à saúde mental, sem idealização ou romantismo, é uma necessidade social, é uma questão de saúde pública.

Muitos já começam o ano esgotados, por questões pessoais e/ou profissionais, pelo excesso de tarefas em casa e/ou no trabalho ou pelas frustrações cotidianas. A gente não lida bem com muita coisa, não dá conta de outras, mas vamos “empurrando com a barriga” por comodismo, preconceito, desinformação ou falta de recursos para se cuidar.

Apesar de causas multifatoriais, sabemos que doenças mentais representam mais de 1/3 da incapacidade laboral do mundo, sendo os transtornos ansiosos e depressivos os mais incidentes. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o Brasil é o país com mais casos de ansiedade do mundo (9,3% da população = aproximadamente 20 milhões de pessoas) e o segundo com maior índice de depressão da América Latina.

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), de 35% a 50% das pessoas com transtornos mentais em países ricos não recebem o tratamento devido, já em países em desenvolvimento e/ou pobres esse percentual pode ficar entre 76% e 80%. Os dados são preocupantes já que doenças mentais não tratadas podem levar ao agravamento de vários processos de adoecimento e até algumas pessoas a desistirem da vida.

O Atlas de Saúde Mental da OMS publicado em 2020 revela um cenário decepcionante e mostra a falta de investimentos estatais e governança eficazes para se fornecer serviços de cuidado com a saúde mental de forma adequada, em um momento em que as repercussões da pandemia da Covid-19 levaram muitos ao esgotamento emocional, ao sofrimento psíquico e à necessidade urgente de cuidado com a saúde mental.

“As consequências psicossociais decorrentes desse processo vão desde o surgimento de estresses, ansiedades, depressões, compulsões, agressões, tentativas de suicídio, entre outros, bem como o agravamento de transtornos mentais preexistentes, em decorrência dos efeitos do isolamento social obrigatório, do medo da contaminação, ou ainda de fatores relacionados às condições de vida e subsistência, tais como perda de emprego, trabalho, renda e moradia.” (OMS, 2020).

Como se não bastasse tanta vulnerabilidade, no Brasil vemos medidas de desmonte do SUS e da Política Nacional de Saúde Mental, sucateamento dos serviços de atenção psicossocial e carência de ações de promoção e prevenção da saúde mental, sem falar que o fortalecimento dos sistemas de informação e da rede de apoio psicológico/psiquiátrico adequado para a população estão longe de serem alcançados.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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