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A lógica do 'trabalhe enquanto eles dormem' pode levar à Síndrome de Burnout

A lógica do "trabalhe enquanto eles dormem" pode levar à Síndrome de Burnout

Justamente por não conseguirem encontrar um limite, os  funcionários preferidos dos chefes, os chamados workaholics, são os que costumam chegar ao nível de esgotamento físico e mental

Publicado em 2 de dezembro de 2020 às 06:00

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Saber o momento de se desligar das atividades profissionais é fundamental para manter a saúde mental. (Pixabay)

Se você é do tipo de pessoa que passa a madrugada conferindo e-mails e escrevendo relatórios, atenção: saber o momento de se desligar das atividades profissionais é fundamental para manter a saúde mental. Isso porque o excesso da jornada de trabalho, o alto nível de estresse e a exagerada busca por reconhecimento profissional podem, somados, levar à Síndrome de Burnout.

Recentemente oficializada como uma síndrome crônica e incluída na lista de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Burnout é caracterizado pelo esgotamento físico e mental gerado exclusivamente pelo trabalho. Normalmente, ele vem acompanhado de um quadro de ansiedade ou depressão.

A explicação da síndrome está no próprio nome. Em tradução livre, Burnout significa algo parecido com queimar por completo. É como se, aos poucos, a pessoa fosse se esgotando, até que um dia “explodir”. Justamente por não conseguirem encontrar um limite, os chamados workaholics são os que costumam desenvolver Burnout, como explica a psiquiatra e médica do trabalho Letícia Mameri.

“Muitas pessoas não têm limite. Essa falta do limite é o que faz a pessoa chegar ao ponto do Burnout. De esgotamento mesmo. Porque muitos, na hora que percebem que não estão bem, param antes de esgotar. Agora, tem os outros que vão para o esgotamento”, conta a psiquiatra, dizendo que, além do esgotamento, a indiferença - chegando até a um certo cinismo - e o descontentamento profissional são marcas da síndrome.

De acordo com Letícia, essas pessoas costumam ser competitivas, determinadas e, em certos casos, até agressivas no ambiente profissional. São também os melhores funcionários, que sempre ganham elogios do chefe, mas a busca excessiva por reconhecimento pode ser um preço muito alto.

Letícia Mameri, psiquiatra
Segundo Letícia Mameri, a Síndrome de Burnout não se desenvolve da noite para o dia. Ao contrário, é fruto de meses ou anos de estresse. (Divulgação)
Aspas de citação

Quanto mais reconhecimento ela vai tendo, mais ela vai querendo. Qual empresa que vai falar para o funcionário parar de fazer? Então o funcionário vai fazendo, vai fazendo, e a empresa acha isso maravilhoso. Até o momento que aquela pessoa pifa. E aí, depois que ela pifa, o Burnout não é nada simples de tratar

Letícia Mameri
psiquiatra
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A Síndrome de Burnout não se desenvolve da noite para o dia. Ao contrário, é fruto de meses ou anos de estresse. Por isso, quando a pessoa “pifa” não basta dar férias ou um aumento no salário. Esse funcionário precisará passar por um tratamento que o faça entender que a lógica adotada por ele no ambiente profissional não é saudável. Mesmo em casos de pessoas que trocam de emprego, ela pode repetir todo o processo da síndrome nesse novo local.

Para ajudar a lidar com a síndrome, o ideal é consultar um psiquiatra. O tratamento do Burnout é realizado a partir de sessões de terapia e medicação como antidepressivos ou ansiolíticos. Porém, é um tratamento de longo prazo, que, em casos mais graves, exige que o profissional fique afastado do emprego por um bom tempo. Por isso, o melhor a se fazer é cuidar da saúde mental para não chegar ao esgotamento.

É IMPORTANTE SE CUIDAR

Zelar pela própria saúde mental é fundamental para ter uma boa qualidade de vida. É claro que existem situações que ultrapassam o nosso alcance, mas algumas mudanças na rotina podem nos ajudar a manter a cabeça no lugar. Confira algumas dicas da especialista:

Tenha uma alimentação adequada: a nossa mente tem muito que se beneficiar com uma boa alimentação. Afinal, essa é a fonte da nossa energia e disposição. Sendo assim, ter uma alimentação saudável é importante para a nossa saúde mental.

Pratique exercícios físicos: além de evitar doenças, os exercícios físicos são importantes para nos dar disposição nas atividades diárias, sendo um grande aliado no combate à ansiedade e depressão.

Espiritualidade: não é necessário estar ligado a uma religião, mas é importante buscar um significado para a sua vida. A espiritualidade pode nos guiar em momentos que a cabeça não está muito bem.

SE NÃO ESTIVER BEM, PROCURE AJUDA

Caso você esteja sentindo muito estresse no ambiente profissional, vale procurar a ajuda de um psicólogo. A terapia, as vezes até sem medicamentos, é importante para manter uma boa saúde e não deixar a situação se desenvolver para um quadro mais grave de ansiedade ou depressão. Em muitos casos, os problemas também são externos ao trabalho, não configurando-se como Burnout. No contexto da pandemia, muitas pessoas tiveram a saúde mental afetada e o acompanhamento de um psicólogo pode ajudar nessa situação.

Caso você suspeite que está com Burnout deve procurar um psiquiatra. Se a sua empresa tiver médico do trabalho, o ideal é consultá-lo diretamente. Porém, atenção: essa síndrome ocorre quando a saúde mental é afetada especificamente pelo ambiente profissional. Nem todo quadro de depressão ou ansiedade – mesmo quando um dos motivos é o trabalho – se enquadra como síndrome de Burnout. Independente de ser Burnout ou não, vale lembrar que procurar ajuda de um profissional da saúde quando a cabeça não está bem é importante para manter a qualidade de vida.

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