Designer está à frente de obras e projetos de urbanização pelo país com foco no redesign urbano
Designer está à frente de obras e projetos de urbanização pelo país com foco no redesign urbano. Crédito: Divulgação

“A sociedade está se organizando para revitalizar as cidades”

O designer Guto Índio da Costa fala sobre redesign urbano e também como a relação da população com a cidade tem mudado

Publicado em 17/11/2021 às 11h26

A população começou a enxergar com outros olhos a cidade e a ver seus problemas, partindo para a ação, tornando-se protagonista de um novo cenário urbano, mais humanizado. E esse novo olhar teve um crescimento ainda maior nos períodos de isolamento social durante os meses mais críticos da pandemia do novo coronavírus.

“A cidade de Nova Iorque, por exemplo, nos meses em que as pessoas passaram isoladas em suas casas, tornou-se um espaço ermo, sujo, com tapumes nas frentes das lojas e as ruas tomadas pela criminalidade. Esse foi um dos reflexos da desocupação dos espaços urbanos na pandemia, mas as pessoas, a sociedade também tem se organizado para revitalizar as cidades”, afirma o designer Guto Índio da Costa, porta-voz do redesign urbano, processo de projetar e moldar as cidades com propostas inteligentes através de mobiliário urbano.

Atualmente, o designer está à frente de obras e projetos de urbanização pelo país com essa visão, como no Rio de Janeiro, em Niterói e em Balneário Camboriú, além de participações em projetos para as cidades-sedes da Copa do Mundo FIFA de 2022, no Catar.

Em passagem pelo Espírito Santo na última semana, para uma palestra voltada a arquitetos e outros profissionais da área, na Casa Cor ES, transmitida virtualmente pelas redes sociais, Guto foi entrevistado por Imóveis & Cia sobre a nova visão das cidades pela população, o que ficou de aprendizado durante a pandemia e o que se pode esperar para o futuro, em termos de organização dos espaços urbanos.

Designer Guto Índio da Costa
Guto Índio da Costa em ambiente da Casa Cor ES com o banco Gaivota, de sua autoria. Crédito: Divulgação

CONFIRA A ENTREVISTA:

Durante a pandemia, o que mudou com relação ao mobiliário urbano?

A pandemia colocou em xeque as nossas cidades, colocando em evidência o lado negativo: os lares não são ideais para convivência, não têm espaço adequado, não possuem boa ventilação. E isso mudou também a forma como as pessoas se relacionam com o espaço urbano e a vida nas cidades, de ter cidades com espaços mais agradáveis. As pessoas passaram a valorizar mais como estão as praças, os espaços de encontro e de convívio ao ar livre.

O que esperar dessa nova visão?

Podemos esperar mudanças muito grandes no sentido de transformar as cidades em lugares mais agregadores, mais confortáveis, com espaços públicos de qualidade. Vejamos a iluminação pública por exemplo: ela é tratada de forma técnica, fria, mas poderia ser algo para construir um espaço agradável, que seja continuação das casas das pessoas.

Qual a importância do redesign urbano?

As cidades são organismos vivos e, principalmente no Brasil, passaram por um crescimento expressivo de forma não planejada. Isso nos trouxe uma série de problemas refletidos no espaço urbano: nossas cidades carecem de espaços de qualidade para pedestres, novos conceitos de mobilidade urbana, distribuição de energia, água, coleta de lixo, saneamento, melhor arborização, paisagismo, mobiliário urbano. O redesign urbano surge como uma forma de contornar esses problemas, criando alternativas de ocupação dos espaços públicos de maneira mais humana, sustentável, integrada, inteligente e adequada para os usos e vocações de cada cidade

Qual a diferença para o urbanismo?

O redesign urbano difere do urbanismo porque, em vez de se pensar em grandes intervenções, que são caras e não saem do papel, busca-se resolver problemas pontuais, como humanizar as calçadas, melhorar a mobilidade urbana sem intervenções mais complexas e repensar a cidade. É uma visão micro do todo e o momento é propício para que isso aconteça.

Guto Índio da Costa

Designer

"Podemos esperar mudanças muito grandes no sentido de transformar as cidades em lugares mais agregadores, mais confortáveis, com espaços públicos de qualidade"

Existem exemplos desse tipo de visão?

Há vários exemplos fora do país, como a cidade de Paris, na França, que deu espaço para micromobilidades, como bicicletas, patinetes, quadriciclos. Outro exemplo é a cidade de Barcelona, na Espanha, que se redesenhou para os Jogos Olímpicos de 1992, deixando a cidade mais agradável para as pessoas.

A atenção ao ser humano está no centro das novas cidades?

É uma atenção mais ao pedestre, oferecendo outro grau de transporte público, calçadas melhores, iluminação melhor, paisagismo. O uso do espaço melhora a vida das pessoas. É muito importante colocar o pedestre, a pessoa, no espaço urbano, que vem sempre em primeiro lugar. Em segundo, temos a micromobilidade urbana, em terceiro o transporte público e, somente em último lugar, temos o transporte particular. Mas, no Brasil, essa escala é totalmente invertida, as grandes cidades são quase hostis para os pedestres.

Isso também interfere na forma como as pessoas veem o espaço urbano?

Todo espaço urbano, quando faz sentido para seus usuários, se enche de gente e esta é uma das formas mais fáceis de se afastar a criminalidade. Muitos projetos que têm sido feitos não são encomendados pelas prefeituras e sim pela sociedade, por meios de associações, como foi o redesenho da orla de Balneário Camburiú (SC). A sociedade está se organizando para revitalizar as cidades, tornando as entidades privadas em protagonistas do desenho urbano.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Coronavírus imóveis Mobilidade Urbana Design Pandemia Isolamento social Imóveis Urbanismo

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.