Publicado em 23 de setembro de 2025 às 17:02
Cerca de 3,2 mil pessoas se reuniram no Maanaim de Domingos Martins, no sábado (20/09), para o Seminário de Acessibilidade. O evento, com o tema “Acolhimento e Acessibilidade”, foi transmitido para todos os canais da Igreja Cristã Maranata (ICM), como YouTube e TV Maanaim, alcançando mais de 50 mil pessoas. >
O objetivo central, segundo o pastor Josias Junior, gerente de comunicação da ICM, foi capacitar membros da igreja para receber e incluir pessoas com deficiência, garantindo que elas não fiquem afastadas de Deus por falta de suporte.>
“Seguimos a orientação de Jesus, que é ‘ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura’. Por isso, damos tanta importância à acessibilidade, pois sabemos que a mensagem do nosso Senhor Jesus não pode ter barreiras para chegar a todas as pessoas, principalmente às mais necessitadas. A importância da comunicação está exatamente no contexto de ampliar esses horizontes, de chegar mais longe, de falar com todas as pessoas, não importa em que condições elas estão”, complementa.>
O seminário destacou que a acessibilidade na Igreja Cristã Maranata vai muito além da eliminação de barreiras físicas. É um trabalho que envolve quebra de paradigmas, acolhimento familiar e, principalmente, a tradução do mundo espiritual para diferentes realidades sensoriais e cognitivas, conforme explica o pastor Luiz Eugênio, secretário geral da ICM.>
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“Quando acolhemos uma criança com autismo, uma pessoa com deficiência ou uma pessoa idosa, por exemplo, estamos acolhendo a família toda. Nosso objetivo é amparar essas famílias que precisam de ajuda. Além disso, o seminário também treina os membros da igreja para receber essas pessoas”, explica.>
O cuidado com as pessoas idosas também foi um ponto de atenção, segundo o pastor, uma vez que a população idosa tem crescido no país. “Essa sensibilização é necessária, pois convivemos cada vez mais com o aumento dessa camada da sociedade. Esse é um foco que temos, pois é uma população que, muitas vezes, sente-se desamparada e a igreja precisa estar preparada para acolhê-los”, complementa.>
Segundo Leonice Monteiro Dias Rocha, responsável pela organização do seminário, tudo foi planejado pela comissão de acessibilidade e professores especialistas. O seminário é preparado com antecedência, pensando não somente em quem participa das aulas, mas também nos membros da igreja que tenham algum tipo de deficiência.>
“A importância do seminário está na conscientização. Fala-se muito de acessibilidade, mas ela vai além do físico, como a criação de uma rampa. A acessibilidade precisa estar em toda a igreja. Nossa preocupação é possibilitar que todos possam participar. O principal objetivo é o entendimento da palavra do Senhor para a salvação dessas vidas”, diz.>
O pastor Luiz Fernando Pitta, membro do Conselho Presbiteral e representante do projeto de acessibilidade, deu uma aula sobre o assunto durante o seminário e destacou a importância de toda a igreja estar envolvida no acolhimento de todos os membros, principalmente aqueles que têm alguma deficiência. Ele atua como uma ponte entre o presbitério e os especialistas, organizando e distribuindo de forma igualitária esse atendimento. >
“Temos mais de 5 mil igrejas em todo o Brasil, divididas por Estados e municípios. Analisamos a estrutura que cada igreja tem ou se existem pessoas dentro dessas regiões ou coordenações que façam o trabalho de facilitadores para membros que tenham algum tipo de deficiência e organizamos de forma que esse auxílio possa chegar a todos”, explica.>
Com isso, ele afirma, é possível levar a palavra de Deus a todos e promover uma mudança positiva na vida dessas pessoas. “Muitas famílias que não têm acesso a esse tipo de ajuda começam a se comunicar melhor com seus familiares e também a entender os direitos da pessoa com deficiência. O objetivo principal é levar a palavra de Deus, mas o resultado é algo especial para todos”, complementa.>
Segundo o pastor Lucimar Bízio, doutor em Lingística e especialista em Educação, o maior obstáculo à inclusão não está na deficiência e sim no olhar de quem não a tem. “Esse olhar precisa ser desconstruído, senão, será vista apenas a deficiência do outro. As barreiras do preconceito, de não aceitar a diferença, de não aceitar a condição da pessoa precisam ser desconstruídas. Se forem vencidas, o acolhimento com amor, o respeito e o auxílio estarão presentes”, explica.>
Especial>
Outra barreira que ele cita é a da comunicação. Pessoas que não escutam, entendem por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), mas deficientes surdos-cegos, por exemplo, precisam de uma comunicação alternativa. “Essa barreira da comunicação precisa ser vencida e desconstruída. São pessoas que precisam de um material mais tátil. Tudo vai depender da condição de cada um”, diz.>
Um exemplo dessa quebra de barreiras foi com Raquel Cristine Martins Silva. “No passado, quando fiquei surdo-cega, ninguém sabia se comunicar comigo. Perdi a visão e a audição de uma vez só. Quando comecei a ir para a igreja, ninguém sabia Libras e eu me sentia sozinha, mesmo rodeada de pessoas”, conta.>
No entanto, quando ela passou a ser assistida pelos especialistas do grupo de acessibilidade da ICM, voltou a se sentir participante. “Sinto-me viva hoje. A palavra de Deus traz a mensagem do Espírito Santo de Deus, que está sempre guiando a nossa vida. A palavra de Deus enche o nosso coração”, acrescenta, com o auxílio de uma tradutora de Libras tátil.>
A possibilidade de comunicação de Raquel acontece por meio dos integrantes do grupo de acessibilidade do Maanaim de Domingos Martins e também do programa Libras Sinais de Vida. “Esse programa ensina a língua de sinais para intérpretes que estão começando a aprender e querem ajudar, e também apresenta estratégias de comunicação assertivas para intérpretes que já dominam Libras”, explica. >
Para Amabile de Araújo, que integra a equipe de Libras do Maanaim, a assistência dela e de outros intérpretes é essencial para que os membros que não escutam ou não enxergam possam interpretar os cultos e reuniões. O trabalho é voluntário.>
“As famílias de muitos deles não conseguem se comunicar porque não sabem a língua de sinais, mas quando começam a frequentar a igreja e veem que são acolhidos, seus parentes também se interessam. Muitos chegam aqui pedindo para ensinarmos Libras para que possam se comunicar com o marido, a esposa, o filho… E muitos participam de nossas oficinas. Isso faz com que o membro da igreja que é surdo se sinta ainda mais amado por sua família”, conta.>
E esse auxílio vai além dos cultos e reuniões, conta Claudete Abelo, que também integra a equipe de Libras do Maanaim, pois, muitas vezes, acompanham em uma consulta médica, no banco... “É um trabalho social e viramos parte da família desses membros. A língua de sinais é a salvação do surdo, pois ele pode participar da mesma comunhão e sente o Espírito Santo falar da mesma forma. Ele se sente parte da igreja”, acrescenta.>
Laerte Carlini Dossi, que é surdo, esteve no Maanaim pela primeira vez, acompanhando o seminário. Laerte contou que se batizou recentemente e estava emocionado por poder participar dos cultos. “Não falto a nenhum, estou presente todos os dias”, diz.>
Ele foi auxiliado por Warlen Carlos, que é professor e policial em Viana e faz parte da equipe de Libras do Maanaim. “Usamos os sinais sempre no contexto religioso”, explica.>
O seminário também abordou a inclusão de outros públicos. Juliana Muniz, pedagoga e doutoranda em Diversidade e Inclusão, falou sobre a importância de sensibilizar a igreja para o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). >
“É importante que a igreja tenha esse conhecimento para perceber a importância de como a mente de uma criança ou adolescente com TEA ou TDAH funciona e consigam se inserir. Esse é um público que também necessita de acolhimento, de acesso à palavra de Deus. E precisamos também sensibilizar a igreja para lidar com esse público”, explica.>
A psiquiatra Ana Peixoto reforçou que o trabalho realizado pela ICM não é assistencialista, mas sim de possibilitar o acesso à palavra de Deus. “Isso envolve um preparo, pois, muitas vezes, as pessoas têm um pensamento estereotipado do que é a deficiência, que cria rótulos e discriminações. Para acessar a pessoa com deficiência, é preciso ter quebra de paradigmas”, analisa.>
Entre os temas abordados durante a sua aula, ela falou sobre a saúde mental das famílias em que há pessoas com algum tipo de deficiência. “Que olhar devemos ter para melhorar a nossa sensibilidade sobre essa população? É aceitar a diferença, amar a pessoa do jeito que ela é. Quantas deficiências físicas e mentais Jesus curou… Não é uma coisa de agora, mas é o nosso tempo de despertarmos para essas pessoas”, afirma.>
Seminário de Acessibilidade da Igreja Cristã Maranata
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