Publicado em 7 de julho de 2020 às 21:18
A decisão do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) de integração de 27 comarcas no interior do Estado tem recebido pressão por parte da OAB-ES, Assembleia Legislativa, prefeitos, e os debates podem passar a envolver mais um ator: o governo do Estado. Após silêncio sobre o assunto até agora, sem se posicionar contra ou a favor, o governador Renato Casagrande (PSB) pode mediar um diálogo entre OAB, deputados e o presidente do TJES, Ronaldo Gonçalves de Sousa, para discutir a medida. >
A agenda foi solicitada pelo presidente da OAB-ES, José Carlos Rizk Filho, defendendo uma conciliação sobre o tema. Para ele, há risco de "ruptura institucional". O governador ainda não confirmou se promoverá a agenda, e não quis declarar posição sobre o fechamento dos fóruns. >
Após a medida ter sido aprovada por unanimidade pelos desembargadores no final de maio, a OAB-ES representou o caso junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que concedeu uma liminar suspendendo a decisão. O CNJ cobrou que o TJES apresente os estudos técnicos que fundamentaram tal medida, demonstrando a economia a ser gerada principal argumento para integrar as comarcas. A redução de despesas seria de R$ 36 milhões.>
Mesmo com a decisão suspensa, Rizk considera que é necessário abrir este canal de diálogo. "Nada obsta a OAB de fazer um acordo. A minha intenção é 'desjudicializar', ou aproveitar a ação do CNJ para uma acordo. O que vejo é que não está havendo um diálogo, nem conosco, nem com os deputados. Os ofícios deles ao Judiciário não são respondidos. Se o governo não criar essa mesa, o meu medo é que haja um enrijecimento nas relações", afirmou.>
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Embora as resoluções que preveem a integração de comarcas hoje suspensas já tenham sido aprovadas, o presidente a OAB acredita que essa mediação possa resultar em medidas práticas, como a possibilidade de que o Judiciário reveja a decisão, ou defina outras formas de economia, ou financiamento.>
"Tem comarcas que a gente concorda com o fechamento, mas de 27, seriam 2 ou 3. Outro ponto é que essas cidades vão ter aumento de violência substancial, pois o criminoso vai sentir o ambiente mais fácil para a prática de crimes. Isso não é uma pauta só da advocacia, vai afetar outras áreas. Por isso defendemos que o governo teria capacidade de implementar essa pauta de diálogo", disse Rizk. >
Deputados governistas afirmam ainda não ter a confirmação de Casagrande sobre este tipo de reunião, mas não descartaram. "O governador tem esse estilo na forma de fazer a gestão, e prega a harmonia entre os Poderes. Esse fechamento foi algo de forma abrupta, contrariou muitos setores, então acredito que ele pode mediar esse diálogo", afirmou Bruno Lamas (PSB).>
O vice-líder do governo, Dary Pagung (PSB) pontuou que todo diálogo pode ser válido, para evitar estremecimentos, mas questiona qual contribuição concreta o governo teria a dar. "O próprio governo pediu que os Poderes cortassem gastos. Não tem como ele, agora, assumir esta conta. O que pode ser feito é apresentar outras saídas para o orçamento", comentou.>
Para um integrante do governo próximo ao governador, "como ele é sempre de muito diálogo, pode ser que se disponha a ajudar". Ele também reconhece a questão política envolvida, principalmente com os prefeitos. "Principalmente por ser ano eleitoral, para o prefeito é uma perda, ele politicamente entende que isso é uma crítica que pode receber, se for candidato à reeleição, de que 'o prefeito é fraco, não conseguiu segurar uma comarca lá'. Os municípios querem essas estruturas, mas de fato algumas têm pouca demanda", comentou.>
Nesta terça-feira (7), o governo transferiu R$ 40 milhões para o orçamento do TJES, por meio de créditos suplementares. Os recursos foram arrecadados pelo próprio Judiciário e fazem parte do Fundo Especial do Poder Judiciário. Quando o Fundo tem superávit, o recurso vai para o caixa único do Estado, e para o Tribunal usá-lo, tem que passar pelo Executivo. >
Segundo o TJES, esse valor será utilizado para cobrir a queda de arrecadação, e destinado exclusivamente ao pagamento de contratos já firmados, como limpeza, correios, água, energia, telefone, internet entre outros. A medida foi necessário mesmo após os cortes e diminuição desses contratos, segundo o Judiciário, e quedas adicionais do custeio somente acontecerão após a integração de comarcas ser implementada.>
O TJES firmou um acordo com o Executivo permitindo uma redução de até 4% de seus duodécimos por mês por conta da pandemia. Os duodécimos são os repasses mensais dos recursos do Orçamento, feitos pelo Tesouro Estadual, para cada Poder. A economia do Judiciário pode ser de até R$ 29,6 milhões, e para isso, algumas medidas de cortes no custeio foram adotadas. >
O Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) foi procurado, mas não quis comentar sobre o tema.>
O presidente da Associação dos Magistrados do Espírito Santo (Amages), Daniel Peçanha, pontuou que todo tipo conciliação é positiva, mas considera que o Executivo, nesse momento, mesmo com muito boa vontade, terá problema para auxiliar, pois também enfrenta dificuldades orçamentárias.>
"Talvez, caso seja encontrada uma saída orçamentária, possa haver alguma mudança. Mas, vale lembrar que enfrentamos uma imensa defasagem de juízes e servidores e não temos espaço orçamentário para recomposição dos quadros. O melhor dos cenários seria esse: ter orçamento suficiente para recomposição de pessoal. Isso proporcionaria a chance de manutenção da estrutura atual", avalia.>
Peçanha também destacou que o presidente do TJES, Ronaldo Gonçalves, tem se mostrado sempre aberto ao diálogo, mas essa deverá ser uma decisão coletiva, do Tribunal Pleno, que foi quem votou o relatório e as integrações. >
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