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O que acontece com a base de Casagrande após a reeleição de Erick Musso

O que acontece com a base de Casagrande após a reeleição de Erick Musso

Deputado foi eleito antecipadamente e vai ficar no comando da Casa durante todo o mandato do governador, o que pode significar uma nova relação entre as forças políticas

Publicado em 29 de novembro de 2019 às 22:32

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Renato Casagrande (PSB), Erick Musso (Republicanos) e Enivaldo dos Anjos (PSD). (Divulgação/Ales)

Os reflexos da manobra política utilizada pelo presidente da Assembleia LegislativaErick Musso (Republicanos) e seu grupo para realizar sua eleição antecipada para a presidência da Casa 14 meses antes do protocolo trouxe, como consequência, uma incerteza sobre como ficará a base do governo no Legislativo e como se comportará daqui em diante.

O governo foi surpreendido pela decisão de Erick Musso de pautar a eleição para esta semana, somente dois após a aprovação da PEC que autorizou a mudança de data. O governador Renato Casagrande (PSB) e seu núcleo político fez uma reunião com Erick, e os deputados Marcelo Santos (PDT) e o líder do governo, Enivaldo dos Anjos (PSD) para debater sobre a data da eleição da Mesa, na noite anterior à votação, mas o encontro não chegou a um acordo. Na manhã seguinte, quarta-feira (27), a cúpula do Palácio Anchieta foi informada minutos antes da sessão que a eleição estava resolvida, sem que fosse dado tempo para sua reação.

Agora, para analistas e políticos ouvidos reservadamente pela reportagem, será necessária uma nova estratégia para o governador recompor e manter a base. "A política agora terá que ser mais praticada. Se o governo alega que foi surpreendido, como confiar naquele grupo? Foi uma vitória política marcante desse núcleo do Erick, e foi de uma maneira desafiadora. Agora o tempo corre a favor dele, que tem a garantia de que estará comandando um Poder até o final do mandato do governador, e tem o controle da pauta da Assembleia e de muitos cargos", avaliou um parlamentar.

"Eles tinham desconfiança de que depois que o governo conseguisse aprovar a PEC da reforma da Previdência, que montaria uma maioria, e ganharia a próxima eleição da Assembleia. Foi uma vitória da experiência política dos que cercam o Erick, que foram subestimados, e mostrou que governo vivia numa bolha, por não ter captado isso", comentou outro político.

AÇÕES

O cientista político Fernando Pignaton pontua que nem mesmo José Carlos Gratz, quando presidente da Assembleia, teve uma garantia de poder por tanto tempo, como agora Erick Musso. Desta forma, é necessário que o governador reveja sua forma de lidar com a Casa.

"O tamanho do poder da Assembleia, se bem conduzido, pode ser do tamanho do poder do Executivo. Para reconstruir a base, ele tem que redefinir toda a estratégia geral. Ele iniciou o governo em uma linha de críticas e comparações a Paulo Hartung. Agora surgiu outro polo. É preciso definir se há condições de buscar alguma composição, ou se haverá uma política intermediária, de convivência, sabendo que esse grupo nitidamente quer disputar o poder."  Há ainda uma possibilidade mais severa, de ruptura. "O governo pode tentar uma maioria lá dentro e atropelar a presidência. Deixar claro que essas forças são oposição, e cobrar um preço político por isso", apontou.

Para o cientista político João Gualberto, com esta antecipação da eleição da Mesa Diretora totalmente atemporal, a base de apoio não obrigatoriamente sofrerá grande modificação. "Não acredito que o grupo de Erick vá usar isso para descolar a base do governo, neste primeiro momento. Mas a manobra tem cheiro de política antiga, é preciso estarem atentos, é um jogo de varejo político circunstancial. O governador não tem como fazer uma barganha maior que o presidente quanto aos cargos da Assembleia", analisou. "Agora, o governo vai tocar com o jogo zerado. Tem que absorver a perda e tocar a vida."

Gualberto também pontuou sobre o papel chave de Enivaldo dos Anjos, que transita entre os dois grupos, usufruindo da confiança de ambos, mas que na realidade atua em "carreira solo". "É um político que está aí há décadas, tem uma margem de manobra que lhe é própria. Ele agiu mais como deputado do que como aliado. Não dá para negar que esta falta de ação do líder contribuiu para o resultado", afirmou.

Pignaton acrescenta ainda que a política entra em um novo momento, saindo do monocentrismo em torno do Executivo, que estava estabelecido, para uma mudança na correlação das forças de poder. "Quando o governo entra nesse jogo de cúpula, com forças tão antagônicas como essas, correu um risco. Optou pelo diálogo, mas o outro grupo já demonstrou claramente que quer ser uma alternativa de poder", concluiu.

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