
Enquanto discursos autoritários ganham espaço, inclusive no Palácio do Planalto, em meio à pandemia do novo coronavírus, os pontos-chave da posse da nova procuradora-geral de Justiça do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Luciana Gomes Ferreira de Andrade, foram a defesa da democracia e o fortalecimento das instituições. A promotora assumiu o cargo, na manhã desta segunda-feira (4), em uma cerimônia fechada ao público e transmitida via redes sociais.
"Tempos mais duros virão, de possível escassez econômica e até democrática. Precisamos estar vigilantes para prevenir retrocessos, sobretudo aqueles que flertam com o autoritarismo e com a demagogia do engodo que faz desacreditar as evidências técnicas e científicas, induzindo ao risco até mesmo da saúde e da vida das pessoas", discursou Luciana Andrade.
Apesar de não ter citado nomes, as declarações da procuradora-geral vêm um dia após o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), apoiar manifestações que pedem o fechamento do Congresso e um golpe militar.
Devido à pandemia, o evento na sede do MPES, em Vitória, foi atípico. As poucas autoridades e os familiares da nova procuradora-geral presentes usaram máscaras. E, a cada discurso, com reforço sobre a importância do isolamento social para o combate à Covid-19, os microfones eram higienizados.
Após pedir um minuto de silêncio pelas vidas perdidas durante a pandemia, em seu primeiro discurso como procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade ressaltou a importância de as instituições e os Poderes estarem vigilantes para prevenir retrocessos.
Ela também afirmou que o Ministério Público Estadual (MPES) vai se posicionar e trabalhar para que os Poderes instituídos continuem operando "cada qual no limite de suas competências para garantir o cumprimento dos direitos previstos pela Constituição".
ENDOSSO ÀS CRÍTICAS E DIÁLOGO
Na mesma linha das declarações da procurada-geral, o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), afirmou que falta coordenação nacional que deixe claro para a sociedade as medidas necessárias para o combate ao vírus. O chefe do Executivo estadual tem feito críticas constantes, durante este período, sobre a politização da pandemia e as posturas do presidente.
Em seu discurso, Casagrande também defendeu o fortalecimento das instituições para que a população entenda o valor da democracia.
Renato Casagrande
Governador do Espírito Santo
"As instituições não podem reduzir seus poderes decorrentes de uma extrapolação de outros Poderes. Um governante precisa saber os seus limites"
Ao se despedir do cargo, o ex-procurador-geral Eder Pontes afirmou que "para ser efusivo o MP precisa estar aberto para integração interna e externa" e defendeu o diálogo entre os Poderes e instituições como uma aproximação fundamental quando se trata de interesses sociais.

PRIMEIRA PROMOTORA A OCUPAR O CARGO
Aliada de Eder Pontes, Luciana Andrade chegou ao Espírito Santo em 2003 para ocupar o cargo de promotora de Justiça e, em seguida, atuou como secretária-geral do gabinete do procurador-geral e coordenadora da Assessoria de Gestão Estratégica durante os mandatos do ex-procurador-geral. Ela também foi secretária-geral no mandato de Elda Spedo.
Andrade foi a mais votada da lista tríplice eleita pelos membros da instituição, com 168 votos, e foi escolhida pelo governador Casagrande para ocupar o cargo. O mandato é para o biênio de 2020-2022. A nova líder da instituição é a primeira promotora de Justiça e a terceira mulher a ocupar a cadeira. Antes dela, duas procuradoras ocuparam o cargo, que é o mais alto da instituição: Catarina Cecin Gazele e a já citada Elda Spedo.
ELOGIOS A EDER PONTES
Também discursaram na cerimônia o presidente da Associação Espírito-Santense do Ministério Público, Pedro Ivo de Sousa, e a hoje subprocuradora-geral de Justiça administrativa, Elda Spedo. Em todas as falas, o ex procurador-geral Eder Pontes foi elogiado. Pontes chegou a se candidatar para uma reeleição, mas desistiu.
Compareceram à cerimônia a vice-governadora Jaqueline Moraes (PSB), o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), e o vice-presidente Marcelo Santos (PDT). Também estiveram presentes o marido e os dois filhos da nova procuradora-geral.
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