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Publicado em 28 de abril de 2021 às 19:12
O Ministério Público Federal (MPF) ingressou com uma ação civil pública para que o ex-delegado de polícia do Espírito Santo Cláudio Guerra pague à União cerca de R$ 400 mil. O valor é referente à indenização a familiares de uma vítima da ditadura, que teria sido assassinada por Guerra em Minas Gerais nos anos 1970. O Estado já quitou a indenização. O MPF quer o ressarcimento aos cofres públicos.>
Cláudio Guerra atuou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), responsável por matar e incinerar corpos de inimigos do regime militar. Ele é acusado de ter assassinado pelo menos nove pessoas e incinerado o corpo de 12.>
Entre eles estaria Nestor Vera, morto dentro da Delegacia de Furtos e Veículos de Belo Horizonte, em 1975. O assassinato dele foi relatado no livro ”Memórias de uma Guerra Suja”, em que Guerra narra o envolvimento que teve na perseguição, morte e ocultação de cadáveres de militantes políticos nas décadas de 1970 e 1980, sob orientação de agentes do Exército e do Serviço Nacional de Informações (SNI).>
Segundo o MPF, por causa da morte de Nestor, os filhos dele foram indenizados em R$ 100 mil pela União em 1996. O pagamento se deu devido à Lei 9.140/95, que determina a indenização de vítimas do regime militar ou familiares de pessoas mortas e desaparecidas, por motivos políticos. >
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Atualmente, o valor corrigido corresponde a R$ 428 mil.>
A ação do Ministério Público Federal de Minas Gerais foi protocolada no dia 23 de abril.>
O órgão argumenta que "é dever do Estado ajuizar ações regressivas contra agentes públicos que, por dolo ou culpa, tenham dado causa à obrigação da União ao pagamento de indenização a terceiros", conforme prevê a Constituição Federal. >
"A União não promoveu absolutamente nenhuma medida para garantir o ressarcimento, pelo réu, dos valores despendidos pelo Estado a título de indenização reparatória à família de Nestor Vera", diz um trecho da ação.>
O MPF ainda afirma que, apesar de o pagamento da indenização ter ocorrido em 1996, a obrigação do ressarcimento não prescreveu já que, segundo decisão recente do STF, "são imprescritíveis as ações de reparação de danos decorrentes de fatos que configuram ilícito penal". >
Além do ressarcimento do valor que foi pago à família de Nestor Vara, a ação também pede que Cláudio Guerra e a União sejam condenados a reparar "danos morais coletivos" causados à sociedade brasileira em decorrência do assassinato. >
"O medo, o desrespeito aos direitos humanos e a omissão da verdade sobre as circunstâncias dos ilícitos perpetrados por agentes do Estado e, especificamente, pelo réu, também geraram – e permanecem reproduzindo – danos que recaem sobre toda a sociedade brasileira e que reclamam ser reparados", diz um trecho da ação.>
A ação é assinada pelos procuradores da República Edmundo Antonio Dias e Helder Magno da Silva. O processo tramita na 19ª Vara Federal de Belo Horizonte.>
Procurado pela reportagem, Cláudio Guerra informou que não comentaria o assunto. >
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