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Mesmo sem cerimônia de posse, Paulo Vargas assume reitoria da Ufes

Mesmo sem cerimônia de posse, Paulo Vargas assume reitoria da Ufes

Em virtude das restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), solenidade será a distância. Professor já está na função

Publicado em 24 de março de 2020 às 16:04

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Paulo Vargas, diretor do Centro de Artes
Paulo Vargas, o novo reitor da Ufes. (Reprodução)

O professor Paulo Sérgio Vargas já está exercendo a função de reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A nomeação, feita pelo presidente Jair Bolsonaro, aconteceu na noite desta segunda-feira (23) e eram esperados alguns protocolos até a posse. Contudo, em virtude das restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a solenidade será a distância e o eleito assumiu o cargo nesta terça-feira (24).

"Em contato com o Ministério da Educação (MEC), foi informado que a posse se dará a distância, devido à impossibilidade de deslocamentos. A nomeação é válida para que o professor Paulo Vargas já assuma suas funções como reitor a partir de hoje (terça-feira). Portanto, ele já está no exercício da função", informou a Ufes, por meio de nota da assessoria. 

A nomeação de Paulo Vargas, que era diretor do Centro de Artes e professor do Departamento de Arquitetura, surpreendeu a comunidade acadêmica, uma vez que a antiga vice-reitora, Ethel Maciel, havia recebido a maioria dos votos do Conselho Universitário. Ela obteve a preferência de 26 conselheiros, enquanto Vargas e o professor Rogério Faleiros, empatados, receberam 16  votos cada.

O nome dos três compôs a lista tríplice enviada ao MEC, que depois foi repassada à Presidência da República para que Bolsonaro pudesse escolher o novo reitor. Também participaram da disputa a professora Gláucia de Abreu, que recebeu 12 votos, e Surama Freitas, com uma indicação.

Historicamente, os presidentes conduzem o mais votado ao comando das universidades federais. Ethel, além do apoio da maioria do conselho, apareceu também como preferida em uma consulta informal, na qual recebeu 67,5% dos votos de professores, alunos e servidores. Paulo Vargas não participou desta avaliação e apoiou Ethel. Segundo informações à época das eleições, ele era aliado da vice-reitora e apenas entrou na disputa oficial para reduzir as chances de candidatos com viés político mais à direita de assumir o comando da instituição.

A estratégia era dividir os votos do colégio eleitoral entre o grupo, composto também por Faleiros. Isso porque a professora Surama seria ligada ao bolsonarismo, pois se identifica em suas redes como parte de grupos de direita na universidade e projetos como o "Future-se".

 A nomeação de Paulo Vargas, no último dia do prazo, foi feita depois do MEC anunciar que professor mais antigo de conselho da Ufes iria ficar interinamente no cargo. A decisão não durou seis horas. 

A não indicação de Ethel Maciel causou reações, como a da diretoria executiva do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Por meio de nota, a entidade fez considerações sobre a forma como o presidente Jair Bolsonaro tem conduzido sua relação com as universidades.

"A nomeação à reitoria, em sua tradição democrática, sempre se deu em processos de consultas à comunidade acadêmica, que eram utilizadas de base para a construção da lista tríplice pelo Colégio Eleitoral. Ao ser encaminhada ao MEC, se nomeava aquele que encabeçasse a lista. Em 14 nomeações feitas em 2020, Bolsonaro só escolheu o primeiro colocado da lista tríplice para reitor em oito universidades. Em seis (43%), optou por candidatos menos votados, chegando a nomear postulante que teve 600 votos contra mais de 7 mil do primeiro colocado", pontua.

E acrescenta: "nesse momento, o DCE Ufes reafirma que permanecerá na defesa dos resultados da pesquisa informal paritária de votos de estudantes, técnicos e docentes, que é o mais importante indicador não vinculante, e por tradição e respeito ao Colégio Eleitoral de nossa Universidade ao programa eleito. Assim, compreendemos que a centralidade da luta deve ser contra o nosso maior inimigo: o Governo Bolsonaro, que desrespeita a democracia e autonomia das universidades públicas."

Depois, em nota em que, além do DCE, também assina a Associação dos Docentes da Ufes (Adufes), foi manifestada a " indignação com a não nomeação da primeira colocada da lista tríplice para a reitoria" e o apoio e solidariedade à Ethel.

"Revolta-nos profundamente que, ao longo da história brasileira, nenhum governo tenha efetuado a contento as mudanças nas leis relativas à nomeação de dirigentes das instituições de ensino a fim de tornar o processo eleitoral a expressão da vontade da comunidade acadêmica. O resultado disso, diante de um governo autoritário, que diariamente insulta a educação e a trata de forma ultrajante, é o desrespeito ao desejo da coletividade da universidade", diz parte da nota.

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Formado pela Ufes e doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Paulo Vargas foi procurado nesta manhã para falar sobre sua nomeação e projetos para a instituição, mas ainda não deu retorno. Assim que ele se manifestar, esse texto será atualizado. 

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