Publicado em 9 de dezembro de 2020 às 16:32
No ano em que as candidaturas negras representaram, pela primeira vez, a maioria no país, e os recursos de campanha foram distribuídos de forma proporcional às raças, pretos e pardos tiveram um avanço nas urnas. Comparado às eleições municipais de 2016, o Espírito Santo viu um aumento de 11,3% de negros eleitos, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).>
Ao todo, 12.537 candidatos disputaram o pleito em 2020, sendo 6.606 negros. >
Dos 937 candidatos que se elegeram no Estado (prefeitos, vice-prefeitos e vereadores), 359 se autodeclararam pretos ou pardos, que juntos formam os negros, de acordo com a classificação do IBGE. Em relação ao último pleito, quando 348 foram eleitos, houve um aumento de 11 pessoas negras.>
A diferença numérica pode parecer pequena, mas é importante destacar que houve uma redução no número de vagas disponíveis para as Câmaras Municipais no Estado, o que interfere no número de candidatos eleitos este ano. Em 2016, 1.010 candidatos foram eleitos e, em 2020, foram 937. Ou seja, uma redução de 73 vagas no geral. >
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Levando isso em conta, a variação percentual de negros em relação as duas eleições é de um crescimento de 11,3%.>
Apesar disso, o resultado está longe de refletir o retrato da população capixaba, em que os negros representam 62%. Na política, eles continuam sendo minoria: corresponderão a 38,3%, enquanto os brancos serão 58,6% a partir de 2021, com o resultado das eleições deste ano.>
Nas prefeituras, o crescimento no número de negros eleitos foi significativamente maior. Dos 77 prefeitos que se elegeram neste ano, 19 se declararam nesse grupo da população. >
Esse número é 72,7% maior do que em 2016, quando pretos e pardos ocuparam 11 prefeituras. Em 2020, contudo, todos os prefeitos eleitos são pardos, nenhum é preto. >
"É inegável que esse aumento é significativo no campo da representação política, principalmente em relação aos cargos majoritários, em que os negros encontram mais dificuldade de acesso, por exigir mais recurso financeiro e uma colocação dentro dos partidos", afirma o cientista social e pesquisador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Ufes João Victor da Penha Santos. >
"Mas a gente precisa ser crítico sobre a ausência de pretos eleitos. O negro retinto, mais melaninado, ainda encontra barreiras para se eleger. E isso nos chama atenção para um outro ponto: será que, de fato, esses 19 pardos se reconhecem como negros ou há uma confusão na identificação racial e eles na verdade são brancos?", questiona. >
Mesmo com mais negros nas prefeituras do Espírito Santo, eles ainda estão sub-representados. Os 19 prefeitos que se elegeram representam apenas 24,6% do total dos eleitos no Estado; os brancos são 74%. >
Em Boa Esperança o resultado da eleição está em aberto, por isso a contabilização foi feita baseando-se em 77 prefeituras.>
O avanço foi mais tímido nas Câmaras, apesar de esse espaço, historicamente, ter maior número de negros. Em 2016, dos 856 vereadores eleitos, 324 eram pretos ou pardos, o que representou 37,8% das cadeiras ocupadas. Em 2020, os negros são 317 dos 785 eleitos para o Legislativo, ou seja, 40%. >
Apesar de o número absoluto ser menor, percentualmente houve um aumento de 5,8%, já que há menos cadeiras disponíveis nas Câmaras municipais agora em relação a 2016 passou de 856 para 785. Essa mudança do número de vagas pode ser feita durante as legislaturas.>
Apesar disso, pretos e pardos continuam sendo minoria. Dos vereadores que se elegeram em 2020, 56% se autodeclaram brancos. >
"A gente já observa há algum tempo mais representatividade negra em cargos para vereador, que são menos competitivos. Mas isso também é resultado do debate que tem sido promovido pelo movimento negro, das políticas de ações afirmativas e, neste ano, pela resolução do TSE, que determinou a distribuição de recursos de forma proporcional. Ainda assim, temos muito a avançar, visto que os negros são mais da metade da população", analisa João Victor. >
Em 2020, 74 das 78 cidades vão ter pelo menos um negro na Câmara. Apenas quatro Casas não elegeram vereadores pretos ou pardos: Alfredo Chaves, Ibatiba, Irupi e Vargem Alta. >
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