Publicado em 30 de setembro de 2020 às 16:54
Maioria no Espírito Santo, os negros correspondem a 62% da população capixaba, de acordo com o IBGE. Mas em 2020 eles estarão também em maior número nas urnas, com 6.433 candidatos, ou seja, 52% dos concorrentes no pleito municipal. São 1.300 candidaturas a mais em relação a 2016, o que representa um crescimento de 25%. Os dados foram extraídos do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às 16h30 de terça-feira (29).>
Mesmo com o aumento de negros entre os candidatos, eles ainda estão sub-representados no pleito. Isso fica evidente na disputa pelo comando das cidades. Esse espaço ainda é dominado por brancos, que representam 69% dos candidatos a prefeito este ano. Pretos e pardos correspondem a apenas 29% dos nomes que vão concorrer às prefeituras em novembro.>
As eleições de 2020 tiveram recorde de inscritos em todo o país. No Espírito Santo, 12.271 candidaturas foram postas, de acordo com o TSE. Comparado à última eleição, quando 10.462 candidatos disputaram o pleito, houve um aumento de 1.800 concorrentes, sendo 70% deles negros. >
Dos mais de 12 mil nomes que vão estar nas urnas deste ano, 1.544 se autodeclararam pretos e 4.889 pardos (juntos, pretos e pardos são considerados negros segundo classificação do IBGE). 5.421 são brancos e representam 44% das candidaturas. Em 2016, eles correspondiam a 50% dos nomes nas urnas. >
>
Outros 417 candidatos se declararam indígenas, amarelos ou não informaram a cor/raça.>
Desde que o TSE passou a coletar informações de raça, em 2014, os candidatos brancos não representam a maioria dos concorrentes em uma eleição. Em 2016, a diferença entre raças foi de menos de 1%, com 5.133 candidaturas negras e 5.264 brancas. >
O aumento do número de negros na política já vinha sendo observado há pelo menos duas eleições, segundo o cientista social e pesquisador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Ufes João Victor da Penha Santos. Em 2016, inclusive, pretos e pardos que concorreram a uma cadeira de vereador já eram maioria no Espírito Santo, somando 4.982 candidatos. Os brancos representaram 4.856 dos nomes na disputa.>
Essa representatividade, segundo João Victor, tem sido impulsionada principalmente por movimentos negros, que ganharam força após o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018, no Rio de Janeiro, e atos antiracistas neste ano, decorrentes da violência policial que causou a morte do americano George Floyd, repercutindo no Brasil. >
Esses movimentos abriram espaço para que a gente pudesse ter mais negros na política e levaram os partidos a ter mais compromisso com essa discussão, lançando mais candidaturas negras, fazendo parcerias para compor chapas, comenta.>
Mas o cientista alerta para a dificuldade em viabilizar candidaturas negras. Mesmo com o aumento do número de candidatos, negros continuam não ocupando cargos de poder. >
João Victor dos Santos
Cientista socialRecentemente, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski determinou que os recursos do fundo eleitoral sejam distribuídos de forma proporcional à quantidade de candidaturas negras. A decisão ainda tem caráter liminar para este ano, ou seja, é provisória, mas deve ampliar o financiamento da campanha de candidatos negros, que muitas vezes não têm acesso a essa verba pública. >
Quando o recorte racial é feito por gênero, as mulheres pretas e pardas são minoria, correspondendo a 34% dos candidatos negros este ano. Os homens negros representam 66% e são quase o dobro do número delas. Eles somam 4.464 dos nomes das candidaturas negras e elas são 2.169. >
Mas quando comparadas com candidatas brancas, que somam 1.770 nomes, o número de mulheres negras é maior no pleito de 2020. 52% das concorrentes são pretas ou pardas e 43% brancas. Em 2016, a diferença era pequena, de apenas 13 candidaturas, mas as mulheres brancas ainda ocupam o maior espaço na disputa. >
O mesmo é verificado em relação a homens negros, que nas últimas eleições eram minoria, correspondendo a 48% dos candidatos do sexo masculino. Em 2020, porém, eles representam 51% dos concorrentes. Já os brancos são 44%.>
Apesar do aumento de candidaturas negras este ano, ainda há sub-representação em cargos de comando. Dos 6.433 candidatos pretos e pardos que vão disputar as eleições, mais de 96% deles, isto é, 6.197, concorrem ao cargo de vereador. Menos de 2% disputam o pleito para prefeito.>
Em eleições municipais, é esperado que o número de candidatos à Câmara municipal seja maior do que à prefeitura. Isso acontece também com candidaturas brancas, que possuem 4.921 concorrentes em 2020. >
No entanto, a sub-representatividade de negros na disputa pelo comando das cidades é explicada ao se analisar a cor da pele dos candidatos a prefeito e até mesmo daqueles compõem chapas como vice. Dos 373 candidatos a prefeito, 259 são brancos e apenas 109 são pretos ou pardos. Ou seja, os negros representam apenas 29% das candidaturas à chefia do Executivo municipal. Para a vaga de vice, há 241 brancos e 127 negros.>
A viabilização de candidaturas majoritárias (para prefeito) requer uma certa penetração de nomes nos partidos, já consolidados internamente. E é muito difícil um candidato negro conseguir isso, afirma João Victor dos Santos. >
"A maioria dos partidos é dirigida por homens brancos, que não possuem ações afirmativas para que pretos e pardos também ocupem esses cargos de direção e liderança e se tornem competitivos em uma disputa para prefeito", complementa o pesquisador da Ufes.>
Em reportagem recente, A Gazeta mostrou a resistência de partidos em lançar candidatos negros a prefeito. Em conversa com dirigentes partidários, poucos conseguiram citar nomes de pretos ou pardos que concorreriam ao cargo majoritário no pleito deste ano. Em 2016, o número de candidatos negros aa prefeitura foi de 26%. Naquele ano, apenas 14% foram eleitores.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta