Publicado em 10 de fevereiro de 2020 às 17:09
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, que coprotagonizou um embate de decisões com o atual presidente, Dias Toffoli, sobre o juiz de garantias, afirmou, nesta segunda-feira (10), em Vitória, que "segurança jurídica não é segurança antijurídica". Para o ministro, é importante manter a coerência das decisões judiciais, mas não a qualquer custo.>
"Não se deve solidificar uma jurisprudência errada, ruim, com graves repercussões negativas para o país em nome da segurança jurídica", afirmou, em palestra no Palácio Anchieta, a uma plateia formada, em sua maioria, por jovens bacharéis em Direito e alunos de pós-graduação.>
A implementação do juiz de garantias nem foi mencionada por Fux. Ele fugiu da polêmica quando questionado pela reportagem de A Gazeta. Aliás, recusou-se a comentar qualquer tema que não dissesse respeito à palestra, que foi sobre análise econômica do Direito. Foi nesse contexto que tratou da segurança jurídica. >
"A Forbes noticia que as 500 maiores corporações do mundo se sediaram em Delaware (um Estado dos Estados Unidos) porque o nível de litigiosidade é micro, então elas sabem o que elas podem fazer e o que não podem. Elas se sediaram lá em razão de estabilidade, coerência dos precedentes judiciais. A desobediência ao precedente cria o que hoje se denomina insegurança jurídica", afirmou Fux, que deve assumir a presidência do STF em setembro.>
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"Só queria fazer uma observação que segurança jurídica não é segurança antijurídica. Não se deve solidificar uma jurisprudência errada, ruim, com graves repercussões negativas para o país em nome da segurança jurídica. A segurança jurídica hoje é o Bombril do Direito Civil porque tem mil e uma utilidades. Tudo se utiliza segurança jurídica", complementou. >
Fux suspendeu a implementação do juiz de garantias por tempo indeterminado e avaliou que teria um custo para o Judiciário. Toffoli havia, dias antes, brecado a medida por seis meses e considerou que não havia impacto financeiro. Para críticos do vaivém, isso causa insegurança jurídica. >
Ele criticou a mudança de precedentes (julgamento de casos concretos que servem de exemplo para decisões posteriores) somente devido a alterações na composição dos tribunais. Uma Corte pode tomar uma decisão num momento e, quando um ministro se aposenta e é substituído por outro, por exemplo, mudar de entendimento.>
"Uma análise econômica sugere de forma normativa que os precedentes judiciais sejam irremovíveis se não há mudança de lei. Não tem sentido mudar um precedente porque mudou a composição do tribunal. O precedente muda quando muda o ambiente objetivo", pontuou o ministro.>
A mudança de precedente mais ruidosa que ocorreu recentemente no Supremo foi a respeito da prisão após condenação em segunda instância. Em 2016, o STF decidiu autorizar que pessoas condenadas por um tribunal colegiado (a segunda instância), já podem ser enviadas para a cadeia. No ano passado, a Corte mudou o entendimento e barrou essa possibilidade.>
Fux votou a favor de manter a possibilidade de prisão. Toffoli, que em 2016 votou da mesma forma, em 2019 mudou e foi contrário. >
Em relação à formação da Corte em 2016 houve apenas uma mudança. Alexandre de Moraes entrou no lugar de Teori Zavascki, que morreu em um acidente aéreo em janeiro de 2017. Moraes votou a favor da prisão após condenação em segunda instância.>
A palestra de Fux foi a aula inaugural do ano letivo de 2020 do Programa de Residência Jurídica da Procuradoria-Geral do Estado (PGE). De acordo com a PGE, não houve custo para o governo. A palestra foi paga pela Editora Fórum, que edita livros jurídicos. >
Luiz Fux durante palestra em Vitória
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