São Diogo possui duas escolas municipais da rede pública, mas nem todos os moradores conseguem vagas.
São Diogo possui duas escolas municipais da rede pública, mas nem todos os moradores conseguem vagas. Crédito: Daniel Reis

Expansão imobiliária faz desafio da educação pública aumentar na Serra

Falta de vagas e problemas na infraestrutura estão entre as dificuldades apontadas por moradores do município, que consideram a educação um dos maiores desafios para o próximo prefeito. Confira na 8ª reportagem da série Eleições Fora da Bolha

A confeiteira Thamires Martins, de 31 anos, mora no bairro São Diogo, na Serra, desde 2018. Seu filho mais velho, de 9 anos, ainda não conseguiu uma vaga na escola municipal que fica em frente à sua casa. O caçula, de 3, também aguarda para estudar no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) mais próximo.

A realidade é parecida para a família de Katiara Ribeiro, 29 anos, que também vive em São Diogo. A empolgação pela conquista da casa própria, em fevereiro deste ano, foi se perdendo com a notícia de que a filha mais nova, de 4 anos, não conseguiria ingressar no CMEI do bairro. A mãe conta que já procurou a creche por diversas vezes, mas a resposta que recebe é que o nome da criança está na lista de espera.

A situação está intimamente ligada ao crescimento demográfico da Serra, município mais populoso do Espírito Santo, com 517.510 habitantes, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São Diogo é um dos protagonistas da expansão imobiliária registrada na região nos últimos anos. 

Com o aumento da população, a procura por vagas escolares também cresceu. A demanda, no entanto, não acompanhou a oferta da rede pública, o que resultou em crianças matriculadas em outros bairros e até em cidades vizinhas.

As queixas de Thamires e Katiara se refletem na pesquisa Ibope realizada em outubro na Serra, em que quase um terço da população elencou a educação como o maior problema do município. O tema foi considerado para 29% entrevistados como o maior desafio do próximo prefeito que será escolhido nas eleições 2020, atrás apenas de saúde (com 57% das menções) e segurança (56%).

PROJEÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS

Para Pablo Lira, diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), o poder público precisa utilizar as projeções de institutos como o IBGE para prever o crescimento populacional. "Esse aumento demográfico acaba repercutindo em um aumento de demandas por serviços públicos essenciais, dentre eles a educação, saúde, espaços públicos", explica.

Segundo ele, é importante que as administrações municipais trabalhem com planejamento para suprir e atender essa demanda, que é natural em um município como Serra, pelo seu poder de atração de moradores.

Lira destaca ainda que a ampliação da oferta de vagas na educação também interfere na produção de renda. “Se um casal tem dificuldade para matricular os filhos em uma unidade escolar, isso pode, inclusive, dificultar que um deles mantenha atividade de trabalho durante o dia”, pondera. Para ele, diante do potencial econômico do município, a população da Serra continuará crescendo.

Atualmente, a rede municipal de ensino da Serra tem mais de 70 mil crianças matriculadas. Em nota, a Prefeitura informa que a educação infantil conta com 22.569 estudantes e o ensino fundamental, 45.831. Já a Educação de Jovens e Adultos (EJA) soma 2.245 vagas. 

São Diogo conta com duas unidades de ensino público, sendo um CMEI e uma EMEF. Cerca de 900 vagas são ofertadas por ano. A prefeitura não soube apontar o número exato de habitantes no local. Segundo estimativa da Associação de Moradores de São Diogo, o bairro tem 10 mil moradores. 

Apesar da situação relatada por Thamires e Katiara, o município afirma na nota que atende “100% dos alunos de 4 e 5 anos e do ensino fundamental”.

A preocupação com a educação na Serra varia à medida em que aumenta o poder aquisitivo das famílias, segundo o Ibope. Dos entrevistados que disseram receber até um salário mínimo por mês, 25% apontaram que a educação é o principal desafio do município.

Já entre os que recebem dois salários mínimos, 38% destacam a importância da área. Quanto maior o nível de escolaridade do entrevistado, mais a educação foi citada na pesquisa.

Katiara acredita que a solução para o problema seria a construção de uma nova creche, já que esse é um problema vivenciado não apenas por sua família, mas por vários vizinhos. "Tem muita criança, tem muitos condomínios em frente, para um espaço pequeno. Não acompanha o crescimento da população, a necessidade que todo mundo tem", avalia.

Katiara Ribeiro

Moradora de São Diogo

"Precisava ter mais CMEIs. Tem muita criança, muitos condomínios, para um espaço pequeno. Não acompanha o crescimento da população, a necessidade que todo mundo tem"

PROBLEMAS DE ESTRUTURA

Ao contrário de muitas famílias em São Diogo, a falta de vagas não é o maior dos problemas para quem depende da educação pública em Manguinhos, como a autônoma Geovanna dos Anjos, de 31 anos.

“Não é tão difícil de conseguir vaga. Como alguns pais trabalham em outros municípios, eles tentam matricular as crianças por lá. Também têm os que possuem condições de colocar o filho em uma escola particular", conta.

Geovanna é mãe da menina Sara, de 3 anos, que frequenta uma escola infantil em Manguinhos, na Serra.
Geovanna é mãe da menina Sara, de 3 anos, que frequenta uma escola infantil em Manguinhos. Crédito: Daniel Reis

Mãe da pequena Sara, de 3 anos, que começou a vida escolar neste ano, Geovanna reclama principalmente da estrutura que o centro educacional da filha oferece. Sara estuda desde fevereiro no CMEI Vovó Ritinha, cuja capacidade é de até 60 alunos. No momento, as aulas presenciais estão suspensas por causa da pandemia e só vão retornar em 2021.

De acordo com Geovanna, as salas são pequenas demais para suportarem as crianças, além de não possuírem ares-condicionados e um parquinho coberto com diferentes tipos de brinquedos. “Às vezes até faltam coisas de higiene, como papel higiênico. Diversas vezes precisamos dar uma ajuda financeira aos profissionais de lá, porque não tem material para todo mundo”, reclama.

Para a autônoma, há o interesse dos professores e diretores para que esses problemas sejam resolvidos, mas eles não recebem a devida atenção da prefeitura. Apesar das dificuldades, ainda conseguem, na opinião dela, oferecer uma educação de qualidade. “Embora tenha suas dificuldades, a creche sempre foi muito bem falada. Quem pode fica bem seguro de deixar a criança aqui”.

Geovanna afirma que Sara, longe da sala de aula há oito meses devido à pandemia, já sente falta dos colegas. Enquanto não pode voltar, a menina faz atividades em casa, enviadas pelos próprios educadores. “Como ela tinha acabado de entrar, estava muito animada. Mas ela entende que não pode abraçar ou estar com eles ainda”, explica.

Esses problemas na estrutura das escolas do bairro também a fizeram optar por matricular o filho mais velho, em 2014, em uma escola particular no bairro Chácara Parreiral, também no município.

Como a escola era distante do balneário, a família ainda custeava um transporte para levá-lo. Hoje, ele tem 15 anos e estuda em uma escola estadual de Vitória, onde Geovanna vê mais oportunidades para o menino.

“Agora, no entanto, não temos mais condições de colocar nenhum dos dois em escolas particulares. Precisamos de um suporte do poder público mais do que nunca. Não só eu, mas vários pais de Manguinhos”, desabafa Geovanna.

Em Manguinhos, há apenas um CMEI, que funciona nos turnos matutino e vespertino. Nenhuma creche do município funciona em tempo integral.

MODERNIZAÇÃO DAS ESCOLAS

A falta de estrutura também aparece como demanda em Feu Rosa, que hoje conta com 4 CMEIs e uma creche que atende crianças de 1 a 5 anos de idade. Para o morador Henrique Lima dos Santos, de 30 anos, a infraestrutura dos prédios deixa a desejar.

“Nós precisamos de reformas nas escolas. Depois de tanto tempo, a creche onde eu estudei está do mesmo jeito. Com o calor, as escolas não contam, ainda, com ar condicionado. Isso precisa mudar para atender melhor a população”, critica Santos, que é presidente da Associação de Moradores de Feu Rosa.

Henrique Lima dos Santos, morador de Feu Rosa.
Para Henrique Lima dos Santos, morador de Feu Rosa, diz que escolas precisam de reforma. Crédito: Mônica Moreira

Procurada para falar sobre reparos, manutenção e novas construções, a Prefeitura da Serra afirma que uma equipe técnica faz o acompanhamento de suas unidades de ensino constantemente.

A prefeitura indica ainda que faz repasse de verbas para todas as unidades de ensino para que sejam aplicadas em pequenas reformas e manutenção das estruturas.

“Nos últimos quatro anos da gestão foram investidos em obras da Educação R$ 67,4 milhões, com a construção, entre outras coisas, de escolas, centros de educação infantil, construção de ginásios e quadras poliesportivas. Neste ano de 2020, foram R$ 9,3 milhões até outubro”, diz a nota.

A administração municipal ressalta ainda que em 2020 já foram investidos 13 milhões em manutenção, como trocas de telhados, pintura, reforma de rede elétrica, reforma de cozinhas, de banheiros, de muros, de quadras, de salas de aula e de pátios.  

Sobre o CMEI Moranguinho, citado por Henrique Santos, o órgão informou que a unidade está passando por uma reforma desde outubro. Em 2019, foi realizada a substituição da instalação elétrica, do forro e a ampliação da secretaria.

*Daniel Reis, Maria Fernanda Conti e Mônica Moreira são alunos do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta e foram supervisionados pela jornalista Ana Laura Nahas.

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