Publicado em 1 de julho de 2020 às 18:03
O comprometimento dos gastos públicos com despesa de pessoal registrou aumento em maio, comparado ao mesmo mês de 2019, para o governo do Estado, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) e o Ministério Público Estadual (MPES). Neste período, os três entes públicos aumentaram o percentual gasto com os salários de servidores em relação à receita corrente líquida (RCL) do Estado, parâmetro que é considerado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). >
A receita corrente líquida (RCL) do Estado, em valores ajustados, foi de R$ 14,69 bilhões neste mesmo período, de maio de 2019 a maio de 2020. Os dados são do Painel de Controle, levantamento realizado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCES).>
A despesa com pessoal para ativos, inativos e pensionistas de cada um dos Poderes e órgãos com autonomia administrativa e orçamentária não pode exceder os percentuais da RCL previstos na LRF, conforme os limites máximos estabelecidos. Quando isso ocorre, há desrespeito à legislação, e as instituições sofrem sanções, como obrigação de fazer cortes, e impossibilidade de contratações. >
O Ministério Público teve a maior variação nominal (ou seja, sem levar em conta a inflação), de 8,86%. Em maio de 2019, o órgão registrou 1,65% da RCL gastos com pessoal. Em maio deste ano, passou para 1,75%. O percentual representa os R$ 256,5 milhões gastos com o funcionalismo nos últimos 12 meses. O limite legal previsto é de 2%. >
>
Em segundo lugar esteve o Poder Judiciário, com uma variação de 6,36%, por ter evoluído de 5,31% para 5,49% da RCL. O limite máximo é 6%. Nos últimos 12 meses, o gasto do Tribunal de Justiça com o funcionalismo foi de R$ 807,41 milhões. >
Já o Poder Executivo apresentou uma variação de 3,34%, passando de 39,97% para 40,18%. O gasto com pessoal nos últimos 12 meses no governo do Estado foi de R$ 5,9 bilhões. O limite legal é de 49%. Neste resultado incluem-se os gastos da Defensoria Pública Estadual, que, apesar de ter autonomia, é contabilizado junto com o Executivo para a LRF.>
É o limite de gastos do governo do Estado com pessoal. Em maio, ficou em 40,18%
O Tribunal de Contas conseguiu manter o mesmo percentual nos dois períodos, registrando 0,79%, considerando que seu limite é de 1,3%. Já a Assembleia Legislativa reduziu o percentual, passando de 1,14% em 2019, para 1,08% em 2020, sendo que o patamar máximo é de 1,7%.>
O gasto com pessoal é a principal despesa de todos os Poderes e, por ser um gasto permanente e com pouca margem de cortes, devido aos servidores efetivos, é uma parte do orçamento que deve ser monitorada rigidamente pelos gestores. >
Com a expectativa da queda de receita por conta da pandemia do coronavírus, os percentuais tenderão a subir, em efeito cascata. Como uma coisa está atrelada à outra, o percentual pode subir mesmo que a despesa com pessoal não aumente. Basta a diminuição da arrecadação. Isso pode comprometer o equilíbrio fiscal do Estado, caso medidas não sejam adotadas.>
A Lei de Responsabilidade Fiscal estipula três patamares para que os Poderes façam o controle da despesa com pessoal. Ao atingir 90% do limite estipulado pela LRF, o ente atinge o limite de alerta. Se chegar a 95%, atinge o limite prudencial, e já sofre vedações, como a proibição de criar cargos e conceder aumentos, por exemplo. >
Ao atingir o limite legal, além de todas as sanções anteriores, o órgão público tem oito meses para eliminar o gasto excedente.>
Entre os Poderes do Espírito Santo, o TJES é o que se encontra mais comprometido, pois seu gasto com pessoal representa 5,49%, o que se enquadra no limite de alerta, que é a partir de 5,4%. >
O Ministério Público, com 1,75%, já se aproxima de seu limite de alerta, que é 1,8%. >
Os demais Poderes também estão fora do limite de alerta. O Executivo está em 40,18%, sendo que o alerta é a partir de 44,1%. A Assembleia Legislativa está em 1,08%, e o alerta é ao chegar a 1,53%. O Tribunal de Contas está em 0,79%, e o índice de alerta é de 1,17%. >
A Lei de Responsabilidade Fiscal completou 20 anos em uma situação inusual. Devido à decretação de estado de calamidade pública pelo governo federal em meio à pandemia de coronavírus, parte das regras previstas nessa legislação está suspensa.>
A União, por exemplo, está dispensada do cumprimento da meta que limita o deficit e do bloqueio de despesas previstos na lei orçamentária de 2020. Para Estados e municípios, ficam suspensos prazos para ajuste no excesso de despesa de pessoal e endividamento não somente durante a pandemia, mas até que a economia cresça pelo menos 1%.>
Isso ocorre por causa de mecanismos previstos na própria LRF, que permitem suspender medidas de ajuste nas contas públicas para que seja possível aumentar despesas em situações como a atual.>
Nem todas as medidas previstas na lei foram implementadas nesses 20 anos. Parte delas foi considerada inconstitucional. Na semana passada, o STF invalidou os dispositivos que permitiam a redução temporária da jornada e salário de servidores públicos, para retomar o equilíbrio fiscal, e também considerou que não é possível ser feito o bloqueio de repasses do duodécimo para entes que estejam fora dos limites de gastos.>
Para o secretário de Estado da Fazenda, Rogelio Pegoretti, o resultado do indicador sobre o gasto com pessoal pela Lei de Responsabilidade Fiscal pode ser considerado positivo, apesar de ter havido crescimento. >
Ele explicou que já era esperada uma diferença significativa entre os resultados da receita de 2019 e 2020. Primeiramente, porque a de 2019 contou com uma receita extraordinária de cerca de R$ 800 milhões em abril, pelo recebimento do acordo do Parque das Baleias, que trouxe reflexos para a receita corrente líquida dos 12 meses seguintes. >
O segundo fator é o impacto da pandemia nas contas públicas, pois só em maio de 2020 houve queda de 30% na arrecadação prevista.>
"Tivemos março com uma receita patinando, abril e maio com uma receita ruim. Apesar de todas essas questões, o indicador se manteve estável, o que mostra um resultado satisfatório para nós. Mesmo diante de uma das maiores crises econômicas de todos os tempos, conseguimos manter equilibrados, com grandes investimentos na saúde", afirmou o secretário.>
O Ministério Público Estadual (MPES) informa que mantém contínuo monitoramento de seus gastos. Quanto ao percentual de despesa de pessoal apurado mensalmente pelo Tribunal de Contas do Estado (TCES), o órgão declarou que está dentro do estabelecido pela lei e, caso sobrevenha maior comprometimento que possa indicar desacordo com a legislação, adotará as medidas que forem necessárias para a sua adequação. Informou ainda que a instituição "já trabalha diuturnamente no viés de economia com máxima eficiência".>
O TJES foi procurado para comentar os números, mas não deu retorno à reportagem.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta