Publicado em 16 de fevereiro de 2020 às 18:40
A novela da eleição para o diretório estadual do MDB no Espírito Santo, que poderia chegar ao fim, ganhou mais um capítulo. A convenção estava marcada para as 9h deste domingo (16), mas no sábado (15) foi cancelada. >
A decisão foi da comissão estadual provisória do partido no Estado, comandada pelo ex-deputado federal Lelo Coimbra. Havia duas chapas inscritas, a de Lelo e a do grupo do também ex-deputado Marcelino Fraga.>
Aliados de Marcelino, aliás, improvisaram uma eleição neste domingo, na Praça Getúlio Vargas, Centro de Vitória, em frente ao hotel em que, originalmente, a eleição seria realizada.>
Não foi a primeira vez que a convenção foi convocada, mas acabou não ocorrendo. A disputa entre os grupos de Lelo e Marcelino, antes de se dar pelo voto, ocorre há meses no Judiciário e nas instâncias do MDB nacional.>
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No edital de cancelamento, datado de sábado, a comissão provisória elenca os motivos para a adoção da medida, entre eles o fato de a chapa "Muda MDB", de Marcelino, concorrer sub judice, por força de decisão judicial provisória. >
A chapa teve a inscrição indeferida pela comissão provisória, sob a alegação de que Marcelino possui condenação judicial em segunda instância. Assim, feriria uma cláusula anticorrupção. Mas o grupo conseguiu se manter na disputa por determinação da Justiça.>
O edital também cita "insegurança jurídica" e finaliza mencionando que seria impossível realizar a convenção "sem interferências externas".>
Em vídeo, Lelo Coimbra tratou do tema: "Devido ao ambiente hostil que se consolidou nesta reta final da convenção, com pressões externas absolutamente indevidas e que se repetiram, como das outras vezes e, especialmente, com uma insegurança jurídica muito importante, atendendo aos apelos de vários convencionais, resolvemos cancelar a convenção de domingo, que se realizaria às 9h".>
"Seguimos fortes, seguimos firmes e pedimos a compreensão de todos na certeza de que este é o melhor caminho. Queremos um MDB que seja capaz de cumprir o seu papel, não um MDB que esteja submetido a pressões que não fazem parte da nossa história", complementou.>
Lelo não mencionou de onde partiriam as pressões externas. Pessoas próximas ao emedebista, no entanto, apontam interferência até de integrantes do governo do Estado, que tentariam angariar votos para a chapa de Marcelino entre os delegados (os emedebistas aptos a votar). >
Em novembro de 2019, a convenção também foi suspensa com o apontamento de interferências externas. Na época, o governo divulgou nota e negou qualquer influência. "O governo do Espírito Santo entende que disputas internas são inerentes à vida das agremiações políticas e só dizem respeito aos seus dirigentes, filiados e militantes", dizia o texto.>
Neste domingo, a reportagem acionou a Secretaria de Estado de Governo, mas não houve retorno até a publicação deste texto. >
O deputado estadual José Esmeraldo, que integra a chapa Muda MDB, diz que ele e outros aliados de Marcelino Fraga foram impedidos, por correligionários de Lelo, de entrar no hotel em que a convenção seria realizada.>
Assim, caixas de papelão sobre mesas de plástico viraram urnas e a Praça Getúlio Vargas, em frente ao hotel, o novo local da convenção, improvisada.>
Questionados pelo colunista de A Gazeta Vitor Vogas sobre o caráter dessa votação, se seria algo apenas simbólico, um ato político, ou se eles acreditam na legalidade do pleito, tanto Marcelino quanto Esmeraldo escolheram a segunda opção.>
Para eles, e para o advogado da chapa, Luciano Ceotto, o edital de cancelamento publicado por Lelo é que não teria validade.>
"O oficial de justiça esteve presente, registrou a ausência da executiva do MDB. Não existe ata da executiva de cinco membros com dois assinando. Não tem nenhuma validade, foi assinada pelo Lelo e pelo Chico (Donato). Só isso aí já é um erro enorme, quanto mais fazer o eleitorado do Espírito Santo de bobo", afirmou Marcelino.>
"Eles sabiam que iam perder", disse Esmeraldo.>
Depois, aliados de Marcelino divulgaram o resultado da votação: "39 votos no total, sendo 37 em Marcelino Fraga e dois em Lelo Coimbra".>
Para aliados de Lelo, o pleito improvisado não tem qualquer validade e contraria posicionamentos da comissão provisória estadual e da executiva nacional do partido. >
O deputado estadual Hércules Silveira, o Doutor Hércules, historicamente aliado a Lelo, participou do pleito. Ele afirmou que caberá à Justiça dizer se a votação foi válida ou não e preferiu não revelar em quem votou.>
"Eu tenho direito a dois votos, como líder do partido e como deputado. O voto é secreto, não gostaria de revelá-lo", pontuou. A presença do deputado no pleito foi lida por aliados de Marcelino como uma legitimação à votação. Mas não é esse o tom de Doutor Hércules.>
"Votei porque sou líder do partido. Ficaria muito ruim eu ficar totalmente ausente", justificou. >
"O juiz deu à chapa do Marcelino condições de fazer a convenção. Agora está essa briga. Quem manda mais, o estatuto do partido ou o juiz? Fico muito triste com isso tudo que está acontecendo. Gostaria que resolvesse isso logo, desgasta muito a gente, os militantes do partido.">
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